Médicos fazem ato simbólico para marcar início de greve
Camilla Silva e Paula Vigneron 18/02/2020 12:29 - Atualizado em 26/02/2020 14:23
  • Ato da greve dos médicos

    Ato da greve dos médicos

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    Ato da greve dos médicos

Médicos que atuam na rede pública de Saúde de Campos realizaram um ato simbólico, na manhã desta terça-feira (18), no Hospital Geral de Guarus (HGG), para marcar o início da greve da categoria. Os profissionais decidiram cruzar os braços em assembleia realizada no último dia 11. Segundo o Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), durante a paralisação, os atendimentos de urgência e emergência dos hospitais e unidades pré-hospitalares serão mantidos, mas consultas que estão marcadas em Unidades Básicas de Saúde e centro de especialidades não serão realizadas. O grau de adesão ao movimento grevista ainda não foi confirmado, mas a equipe de reportagem da Folha pôde constatar pacientes que não conseguiram ser atendidos nesta terça. Ao todo, a categoria conta com cerca de 1,3 mil profissionais. Destes, cerca de 800 atuam no atendimento ambulatorial, segundo o sindicato.
— Eu tenho pressão alta e não venho me sentindo bem. Segundo o médico, preciso trocar o medicamento. Por isso, eu vim trazer meu exame para o cardiologista analisar. Quando cheguei aqui, eles me informaram que ele não viria por causa da greve — contou a dona de casa Marlene Cordeiro, de 69 anos, que tinha uma consulta marcada na Unidade Básica de Atendimento Alair Ferreira, no Jardim Carioca. Segundo pacientes que estavam no local, um clínico geral e um cardiologista, que atenderiam nesta terça, não compareceram à unidade.
Na UBS Alair Ferreira, médicos aderiram à greve
Na UBS Alair Ferreira, médicos aderiram à greve / Genilson Pessanha
Outra paciente que tinha uma consulta marcada na unidade era Niceia Cordeiro de 78 anos. Ela informou que vem buscando um atendimento com um clínico geral há dois meses, mas só conseguiu uma consulta nesta terça. No entanto, o médico não compareceu.
Segundo o presidente do Simec, José Roberto Crespo, a categoria alega que tem enfrentado problemas com falta de pagamentos e retirada de férias, descumprimento do último acordo de greve, realizado em agosto de 2019, e más condições de trabalho. Essa é a segunda vez que a categoria paralisa as atividades em sete meses. "A situação das unidades é precária. Os médicos estão sendo desvalorizados, os salários são os mais baixos da região. A Prefeitura não cumpriu o acordo realizado no ano passado, tanto de concessão de férias, quanto de pagamento de gratificações e substituições, e não houve nenhum esclarecimento sobre quando ele poderá ser realizado. Não nos tratam com a dignidade que merecemos", disse José Roberto.
No período da tarde, os profissionais da categoria se reuniram com representantes da Câmara de Vereadores. O presidente do Simec informou que, durante a manhã, no Hospital Geral de Guarus (HGG), apenas dois médicos realizaram atendimentos. Já na Unidade Pré-Hospitalar São José, em Goitacazes, não havia médicos de plantão. O balanço da adesão da greve nas outras unidades do município não foi concluído.
— Acho que o primeiro dia foi positivo. Foi um dia de marcar a postura da greve e divulgar efetivamente. Tem a questão da pressão das chefias e coisas por trás que, mesmo sendo mais experiente, você se sente acuado. Mas o interesse é que a gente resolva isso o mais rápido possível. O sindicato não tem nenhum interesse em perpetuar a greve e criar embate. Nada disso.
De acordo com José Roberto, o encontro ocorrido na Câmara foi informal. Os profissionais tentaram conversar com o presidente, Fred Machado, mas ele estava em sessão. O grupo foi atendido pela Procuradoria.
— Estamos fazendo todo um trabalho de conscientização e informação para as autoridades sobre o que está acontecendo; quais são as dificuldades, demandas, interesses e o que a gente gostaria que acontecesse. Na verdade, o que a gente quer é atendimento digno para a população. A gente que trabalhar, mas desde que seja um trabalho em que você seja respeitado no seu ambiente e que você tenha uma estrutura mínima de atendimento — declarou.
Para o presidente do Simec, os problemas que ocorrem na Saúde do município são crônicos e se arrastam há anos, sem previsão para solução: “Não é um problema do governo atual, só que explodiu no governo atual. São três anos e você não vê, em nenhum momento desses três anos, nenhuma ação concreta de melhoria”, afirmou.
Em carta divulgada à população campista, o sindicato afirma: "Por mais uma vez em menos de um ano, seu atendimento não será realizado por alguns, ou talvez por muitos de nós. Mas essa luta não é só nossa. É sua também. Nós médicos passamos muito tempo sendo coniventes com condições de trabalhos miseráveis e inaceitáveis, salários defasados e desvalorização profissional. (...) Sabemos que você é quem mais sofre neste momento, mas rogamos por sua compreensão e que você some sua indignação à nossa, para lutarmos juntos por uma saúde melhor".
Nessa segunda-feira, representantes do Simec estiveram reunidos, no Ministério Público, com representantes da Prefeitura, entre eles o procurador-geral do município, José Paes Neto, que, segundo José Roberto, ficou de agendar reunião emergencial com o prefeito Rafael Diniz para discutir demandas dos profissionais da saúde.
A secretaria municipal de Saúde afirmou, em nota, que se mantém disposta a dialogar com a categoria. Segundo o município, nessa segunda-feira (17), em reunião entre o Ministério Público, representantes da Prefeitura e Sindicato, ficou determinado o funcionamento obrigatório de 30% dos demais serviços da saúde, além do atendimento de urgência e emergência em caso de greve. "O acordo anterior ainda não pôde ser, integralmente, cumprido devido às constantes quedas de arrecadação das receitas oriundas do petróleo. Somente em 2019, as perdas superam R$ 200 milhões, se comparado ao ano de 2018", complementou.
A Fundação Municipal de Saúde (FMS) informou que segue realizando intervenções na estrutura do Hospital Ferreira Machado e Hospital Geral de Guarus (HGG). “Unidades Básicas de Saúde (UBS) também passam por intervenções. Somente nos últimos meses, o HFM recebeu materiais médicos e de mobília, dentro do pacote de reestruturação das unidades de saúde do município. Entre as novidades, uma ala com oito leitos foi aberta, além da pintura de corredores e recepção e reforma do Centro de Material e Esterilização (CME). Também foram entregues cerca de 20 aparelhos de ar-condicionado, que serão instalados nas enfermarias. Alguns setores do HGG estão passando por reforma, como o Centro Cirúrgico e Centro de Material e Esterilização (CME). Nos próximos dias, será iniciada a obra no telhado da unidade, com emenda parlamentar. O serviço foi licitado e a Fundação de Saúde aguarda a liberação da Caixa Econômica Federal para iniciar o serviço. A emergência adulta da unidade também passará por uma grande intervenção”, finalizou.

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