Crítica de cinema - Drama distópico
19/02/2019 18:54 - Atualizado em 20/02/2019 18:30
Divulgação
(Alita: anjo de combate)
— Ao assistir “Alita”, lembrei de dois filmes hoje antigos: “Zardoz”, dirigido por John Boorman em 1974, e “Rollerball - os gladiadores do futuro”, dirigido por Norman Jewison em 1975. Ambos enfocam um futuro distópico. No primeiro, existe uma cidade protegida por uma cúpula para evitar o contato dos imortais com os mortais do mundo exterior. No segundo, a diversão maior é a violência de um jogo praticado por homens preparados para a luta. Reassisti a ambos recentemente. O que mais me chama a atenção entre esses filmes do passado e “Alita” e outros do presente sobre mundos distópicos não é a imaginação. Parece que a criatividade era maior no passado. O que me chama a atenção é a substituição da criatividade pela tecnologia. Aqueles filmes eram primários do ponto de vista tecnológico. Os de hoje são primários quanto à construção da narrativa.
“Alita” tem algo dos dois. De “Zardoz”, traz uma cidade aérea que fala como Deus. De Rolerball, a violência de um jogo em que tudo é válido. O herói é cultuado porque a humanidade precisa de heróis, como em “Alita”.
Robert Rodriguez, o diretor de “Alita”, oscila entre filmes cults e trash. Melhor, filmes que procuram se tornar cults e que, propositalmente, na linha de Quentin Tarantino, buscam imitar o trash. “Era uma vez no México” e “Sin City” ambicionam a condição de cults. “Machete” e “Planeta terror” parecem homenagear os filmes trash. Não sei muito bem quanto a “Alita”. Creio que qualquer diretor poderia ter o crédito do filme com um roteiro adaptado de conhecida anime redigido por ninguém menos que James Cameron e por Laeta Kalogridis com o próprio Robert Rodrigues também no teclado.
A produção ficou por conta de Jon Landau e sintomaticamente de Cameron. Com uma tecnologia que transforma pessoas de carne e osso em cyborgs, a atuação de Rosa Salazar, Christoph Waltz, Jennifer Connelly e Mahershala Ali passa para segundo plano. No início, o filme promete algomais que uma simples distopia. Quando um médico encontra no lixo uma cabeça ainda viva e lhe dá um corpo, parece que haveria uma reflexão condigna de Cameron, que me parece ser o verdadeiro diretor. Naquela cidade suja, superpovoada e violenta, tem-se a impressão de que Alita provocará o pensamento.
Mas, logo depois, o ambiente se reduz a um médico, a caçadores de recompensa, a um chefe mafioso e a uma moça que descobre seu passado de guerreira. E tome luta. Alita massacra todos impiedosamente. Um cyborg, particularmente, morre três vezes em suas mãos. Os demais não são páreo para ela. Em nenhum momento, o espectador é levado a pensar que o rumo do filme será diferente do que ele espera: a velha história do triunfo de bem contra o mal, que perpassa os filmes de Hollywood voltados apenas para o entretenimento.
Estou sendo injusto: eu não esperava que um filme de ficção científica e de aventura se transformasse num dramalhão no final. Uma cabeça que ganha corpo se apaixona por outra cabeça que perde o corpo carnal e ganha um corpo mecânico. Na minha avaliação, “Alita” é mais um filme caro e impessoal.

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