"Roma" no Cineclube Goitacá
Matheus Berriel 19/02/2019 18:46 - Atualizado em 20/02/2019 18:30
Quem for ao Cineclube Goitacá nesta quarta-feira (20) poderá assistir um dos favoritos ao prêmio de melhor filme na cerimônia do Oscar, que acontecerá no próximo domingo (24). Indicado em 10 categorias, o longa-metragem “Roma” (2018), do diretor mexicano Alfonso Cuarón, será apresentado pelo jornalista e poeta Aluysio Abreu Barbosa, diretor de redação da Folha da Manhã. A sessão está marcada para as 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, localizado à esquina das ruas 13 de maio e Conselheiro Otaviano, no Centro de Campos. Entrada franca.
Além da função de diretor, Alfonso Cuarón teve atuação multifacetada em “Roma”. Na ficha técnica, aparece também na produção, fotografia, edição e no roteiro. A polivalência chamou a atenção de Aluysio, que acompanha o trabalho do mexicano desde os anos 1990.
— Dos três mexicanos que ficaram muitos famosos, sempre achei o Alfonso Cuarón o melhor, embora eu também goste muito do Alejandro Gonzáles Iñarritú. No Guillermo del Toro, particularmente, enxergo algumas virtudes técnicas, mas não gosto. O Cuarón explodiu com “E sua mãe também” (Y tu mamá también, 2001), um filme de uma sensibilidade extremada. O Quentin Tarantino teve um impacto imenso no cinema da época, e os três cineastas vieram nessa esteira. Mas, o Cuarón, de cara, foi muito autoral. E esse é um filme muito autoral, algo difícil nos dias de hoje. Nunca foi normal, em época nenhuma, alguém escrever, produzir, dirigir e fotografar o filme. Não tenho como dizer se é o melhor dele, mas “Roma” é fantástico — opinou o jornalista.
Para Aluysio, o filme começa a ganhar o público logo na cena inicial, “que habita a memória emotiva de qualquer um de nós”. Trata-se de uma cena com água escorrendo sobre o piso, remetendo à lavagem do chão, algo comum no cotidiano.
— Todo mundo tem essa memória, a visão, o barulho da água na cabeça. Eu tenho em Campos, um cara do Nepal tem essa lembrança. É uma memória universal para quem é humano. E o filme é feito em preto e branco. Na primeira cena, obviamente, a água reflete, e aí passa um boeing voando, visto pelo reflexo da água. Então, o filme mostra de cara a que veio. É claramente um filme feito sobre a memória afetiva do diretor — pontuou.
A memória citada por Aluysio remete à figura da empregada doméstica, quase sempre presente na vida de crianças integrantes de famílias da classe média.
— É ela quem cozinha, lava as nossas roupas, é a nossa mãe, ajuda a criar. Todo mundo de classe média tem esse tipo de memória, e ele, claramente, dedica o filme à secretária doméstica. E eu conheço a Cidade do México, onde o filme se passa (na década de 1970). Aqui, geralmente, as secretárias do lar são de cor negra, o que remete ao passado de escravidão. Nos países de cultura da America Hispânica, não havia tráfico negreiro. A mão de obra escrava, lá, foi índia, e as empregadas são índias — explicou.
A variação na língua — conversas em Nahuatl entre pessoas da mesma região e em castelhano com estrangeiros — é outra característica representada no filme, que gira em torno das relações de uma família com as domésticas, descendentes dos astecas, e também delas com o mundo exterior, inclusive com os homens.
— O filme é muito sensível e feminino, embora escrito, dirigido, produzido e filmado por um homem. Há uma homenagem à feminilidade nas duas pontas: a opressão que sofre uma mulher de classe média e também a das classes mais baixas; opressão até física, nos dois casos. Mas, não é um filme misândrico. Ele não cai na armadilha politicamente correta de um “A Forma da Água” (The Shape of Wate, 2017), de Del Toro, por exemplo, que coloca o homem hétero como o opressor culpado de todos os pecados do mundo. Acho que o Cuarón, embora seja latino, deve conhecer a obra de Chico Buarque. É um filme buarqueano, porque consegue falar da mulher de uma maneira pungente, sensibilíssima, sendo feito por um homem que se coloca no lugar dela. Claramente, são as memórias de um garoto que percebeu, em seu entorno, a opressão que sofrem sua mãe e a doméstica. É difícil atribuir quem é a mãe dele. São as duas, a que dá a luz e a que salva — destacou Aluysio.
No Oscar, “Roma” concorrerá aos prêmios de melhor filme, melhor filme estrangeiro, melhor diretor, com Alfonso Cuarón; melhor atriz, com Yalitza Aparicio; melhor atriz coadjuvante, com Marina de Tavira; roteiro original, edição de som, mixagem de som, direção de arte e fotografia. Aclamado pela crítica internacional, o filme já teve destaque no Globo de Ouro, em janeiro, vencendo as categorias de melhor filme em língua estrangeira e melhor diretor de filmes. Entre outros grandes feitos, conquistou o Leão de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza, em agosto do ano passado.

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