Campos perde Joca
Aluysio Abreu Barbosa 17/07/2018 22:58 - Atualizado em 19/07/2018 18:43
Morreu na tarde dessa terça-feira o jornalista Jorge Luís Muylaert, o Joca. Ele tinha 60 anos e estava internado no Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, desde 28 de janeiro, para tratamento de leucemia. Devido a complicações pulmonares e renais, ele foi transferido ao CTI do hospital na sexta (13), onde faleceu. Joca deixa seis filhos e um neto. O velório e do enterro aconteceram nesta quarta-feira (18), no Campo da Paz.
Joca era bastante conhecido na cidade não apenas como jornalista, ofício que exercia muito antes de se formar na Faculdade de Filosofia, em 2002. Como militante político, a partir da reabertura democrática no Brasil, ele foi um dos fundadores do PSDB de Campos, no final dos anos 1980. Depois, comandou durante alguns anos o PV no município e foi coordenador do partido na região.
Com militância ativa também no cenário cultural da cidade, Joca venceu como poeta uma edição do FestCampos de Poesia Falada. Ele também foi diretor da Casa de Cultura Villa Maria, nos anos 1990, ainda no processo de implantação e consolidação da Uenf. Ciente das questões de diversidade que só se tornariam pautas da moda alguns anos depois, um dos destaques da sua administração foi a instalação do Centro de Referência da Cultura Afro-Brasileira (CCAB) na Villa.
Como autor, Joca publicou um único livro: “O Beija Flor Amigo”, lançado em 2002. Pai amoroso de meia dúzia de filhos, dedicou a obra à literatura infantil. No governo Alexandre Mocaiber, ele foi ainda diretor da Biblioteca de Campos durante a gestão da produtora Luciana Portinho na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL).
Jornalista, poeta, irreverente e contestador por natureza, Joca também foi um boêmio conhecido na noite goitacá. Pelo menos na última década, seu ponto mais frequente era a saudosa Toca dos Amigos, na rua Pero de Góis, que fazia quase de segunda casa. Ele era muito amigo do proprietário, Roberto Alves da Costa. O falecimento deste, em 9 de abril deste ano, deixou o cliente e amigo, já internado no Inca, profundamente triste.
Elevada pelo encantamento dos seus personagens mais ilustres, a Toca dos Amigos agora é outra. Com uma cerveja estupidamente gelada, é de lá que Joca e Roberto erguerão seus copos de botequim, com choro ao santo derramado em chuva, para justificar os que agora são apenas saudade.
Hans Muylaert – psicólogo e filho
Muito mais amigo que pai! Quando eu ainda muito jovem ouvia ele dizer “você não é meu filho, é filho da vida” e me angustiava sem entender. Hoje, entendi que me falava por parábolas, me ensinou por exemplos. Um homem sem idades, transitava livremente do mais rabugento velho a mais arteira das crianças.
Keila Motta – médica e filha
Hoje perdemos um pouco da irreverência, da autenticidade, da emoção, da poesia. O coração que sempre inspirou palavras de amizade e entusiasmo, sonhos e reflexões, hoje descansa e se prepara para uma nova jornada. Sou muito feliz e grata pelas oportunidades que tive de viver com você todos os imprevistos já tão previstos pela vida.
Wellington Cordeiro – presidente da AIC
A imprensa campista está de luto com o falecimento de Joca Muylaert. Emprestou sua competência a diferentes instâncias de trabalho, foi um brilhante diretor da Casa de Cultura Villa Maria, foi presidente de partido político, mas foi, principalmente, um grande jornalista. O jornalismo perde um artista da escrita.
Rafael Diniz – prefeito de Campos
Foi com muita tristeza, muita mesmo que recebi a notícia do falecimento do nosso querido Joca. Hoje a gente lamenta a morte de um grande homem, amigo e profissional. A Joca os meus sinceros agradecimentos pelos exemplos deixados como honestidade e lealdade. Joca teve uma vida política ativa, sempre nos bastidores e lutando por uma cidade melhor.
Jane Nunes – jornalista
A gente não tem como se despedir de Joca. São não sei quantos anos de amizade. Estivemos juntos na alegria e na tristeza. Na saúde e não na doença. Não tem um mês que trocamos mensagem e encerrei: “eu bem te amo!”. E ele respondeu: “eu também bem te amo”. Saudades, muita saudade! Essa saudade vai ser eterna meu irmão, meu amigo. Eu bem te amo!
Suzy Monteiro – jornalista
O que falar de Joca? Irmão, amigo, pessoa de sensibilidade indescritível. Por muito tempo, a casa dele foi minha segunda casa. E a minha, a dele. Amava minha mãe, era quase um irmão do meu cunhado. Mais recentemente, com a doença, ele foi definitivamente “adotado” por minha família. Uma relação de amor, banhada por lágrimas ora de tristeza, ora de alegria. Estou arrasada.
Orávio de Campos – jornalista
Joca Muylaert, jornalista, político na melhor acepção do termo, agitador cultural, deixa um vazio muito imenso nas relações humanas de nosso tempo. Lacuna difícil de se preencher, por causa de suas atitudes humanísticas e honestas numa época difícil para se conviver com ideologias contrárias. Com certeza vai habitar o Itaoca, Olimpo dos poetas desta urbe sem memória.
Andral Filho – advogado
Recebemos, com pesar, a notícia do falecimento do Joca, que lutava bravamente para superar sua enfermidade. Enquanto esteve no Rio, nos animava receber seus relatos sobre a progressão do tratamento, sua esperança em vencer a doença e retornar ao convívio de seus amigos. Era de natureza política contestadora e grande apreciador dos embates de ideias.
Sérgio Mendes – ex-prefeito de Campos
Penso que não devemos qualificar os homens por seus erros e acertos. Penso que os olhos, a alma, e a vivência, expressam as razões do coração. Joca, na sua fala inteligente, jeito descontraído, totalmente desapegado da sociedade de consumo, olhos atentos a tudo e todos, nos deixa um rastro de luz, verde, seu partido, nossa esperança.
Gustavo Matheus – presidente do PV em Campos
Não tenho palavras. Mas lamento e muito essa despedida. Principalmente, para mim, dessa forma. Sinto ter deixado guardado aqui algumas palavras de gratidão. Ao homem que me apresentou o Partido Verde, minha única casa, o meu muito obrigado. Fez parte da minha humilde história, e dela, assim como da minha memória, jamais irá se despedir.
Luciana Portinho – produtora cultural
Conheci o Joca através de Ivan Vianna. Militaram juntos no PSDB e no governo do Marcelo Alencar. Ivan dirigiu o Tecnorte e Joca, a Casa de Cultura Vila Maria. Depois, quando fui Presidente da FCJOL, Joca foi diretor da Biblioteca Nilo Peçanha. Apaixonado pelo ofício, era inconformado com a mesmice e o clientelismo da política local.
Beth Araujo – professora
Como diretor da Villa Maria, desenvolveu um trabalho marcante. Empenhou-se por trazer nomes importantes da cultura nacional, como Arthur Moreira Lima, João Nogueira e Hermeto Pascoal. Responsável pela implantação do Coral da Uenf, com formação musical para seus componentes, provou que cultura se faz no dia a dia e não se resume a shows.
Ricardo André Vasconcelos – jornalista
Conheci Joca na antiga redação da Folha da Manhã, no tempo das máquinas de escrever. Desde aquela época eu já admirava sua forma de viver a vida: descompromisso com a forma e obsessão pelo conteúdo. Nos últimos meses voltamos a nos comunicar com mais frequência e vi como enfrentou a doença com coragem.
Alexandre Bastos – secretário de governo
Comecei minha relação com Joca numa discussão de bar que colocou frente à frente representantes de gerações diferentes. Semanas depois ele me abraçou, nos desculpamos pelo episódio e ele chorou lembrando da minha saudosa tia Cristina Bastos. Assim era Joca Muylaert, uma criatura sensível ao extremo e de coração gigantesco.
Cristina Lima – presidente da FJCOL
Minhas primeiras recordações me remetem ao aluno irrequieto, sagaz, muito inteligente. Já líder, desafiava a disciplina e as normas que tinha dificuldade em acatar, pelo próprio temperamento questionador e contestador. Encontro-o, mais tarde, colaborando com a cultura da terra, onde deixa marcas que a história há de fazer jus.
Geraldo Venâncio – médico
Inteligente e sagaz, Joca Muylaert, hoje, ficou encantado! Fomos amigos mais de 30 anos. Talvez tenha sido, verdadeiramente, o último anarquista da nossa cidade!
Wladimir Garotinho – empresário e político
Campos perdeu um de seus “poetas da vida”, um maluco beleza querido por todos. Meus sentimentos à família Muylaert.
Rafael Sánchez – artista gráfico
Tive o privilégio de trabalhar com ele na Villa Maria, nos anos 1990. Foi um parceirão que descobri entre infindáveis tertúlias regadas de arte e política. Lembro com saudade de dois ou três feitos que marcaram nosso trabalho. A primeira e única visita do mestre Hermeto Pascoal que se apresentou nas escadarias do Fórum, hoje Câmara Municipal.
Luiz Costa – jornalista
Recebi a notícia de sua partida pelo WhatsApp. Um jornalista sem palavras, apenas com um aperto no peito. Conheci Joca tão logo cheguei a Campos, recém-formado em Comunicação, no início da década de 90. Logo me encantei por sua irreverência, pelo jeito amigo, pelas conversas sem hora, nem lugar. Já sinto saudade. Descanse em paz, amigo querido.
Cilênio Tavares – jornalista
Conheci Joca nos tempos de Fafic, lá pelos idos de 1987. Ele estava sempre às voltas com as mobilizações dos alunos da faculdade, marcando presença em todas as assembleias importantes e que demandavam articulação com os mais variados objetivos. Também passou a ser bem articulado com movimentos culturais e políticos da cidade.
Vitor Menezes – jornalista
Joca foi um tipo de jornalista que mantinha duas características essenciais: espírito público e rebeldia. Cada conversa com ele era um chamado à ação, à denúncia, ao rompimento com algo. Ele, que por um período na faculdade de jornalismo foi meu aluno — o que me constrangia, pois naquela relação eu é que era o aprendiz —, me chamava carinhosamente de professor.
Fernando Rossi – Diretor do Teatro de Bolso
Uma perda. Pessoa da melhor qualidade. Coerente com suas ideias. Inteligência que certamente vai deixar uma grande lacuna. Meus sinceros sentimentos aos filhos que a oportunidade de tê-lo como professor.
Júlia Maria – jornalista
Joca foi minha primeira e principal fonte. Na verdade, a fonte para chegar a todas as fontes. Eu fazia estágio na Folha desde o início da faculdade e não conhecia ninguém. Joca conhecia todo mundo. E tinha as melhores sacadas, as melhores pautas. Foi uma das pessoas mais inteligentes e generosas que conheci na vida. Um amigo muito querido. Que notícia triste a de sua partida.
Livia Amorim – estilista
Quando a gente juntava todo mundo era uma criançada louca. Ficávamos nós, crianças, tentando entender tudo que eles falavam. Eu ali, pequena, vidrada na fala sobre liberdade que Joca proferia. Ensinou-me muita coisa sobre política e filosofia. A criança da escuta, quando cresceu, virou a adulta que foi te acompanhar nos bares da vida. A nódoa do tempo da gente tá guardada.
Cláudio César Soares – publicitário
Diante da surpresa da morte de Joca, o que posso falar: pessoa gentil, educada, presença inteligente de papo agradável nas noites boêmias. Quando diretor da Casa de Cultura Villa Maria, promovia com sucesso e qualidade eventos culturais musicais. Perdemos um articulador político e um animador cultural importante. Vai fazer falta!
Fátima Castro – presidente da Associação Irmãos da Solidariedade
Embora eu não tivesse tido oportunidade de maiores contatos com Joca, sempre soube da sua honestidade, profissionalismo e sinceros amigos que fez durante a vida. E isso é uma das coisas mais importantes. À família, muita luz neste momento tão difícil de suportar.
Ocinei Trindade – jornalista
Conheci Joca Muylaert nos anos 1990. Ele estava sempre envolvido com ativismo político, além de cultural. Dono de um humor maravilhoso, mesmo quando brigava com alguém. Defendia o que acreditava e caçoava inteligentemente de algum tema que lhe desagradasse. Vou sentir falta de seu humor e desprendimento. Lamento por sua partida.

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