Cabral recebia 'prêmios' por reajustes em tarifas de ônibus, aponta MPF
- Atualizado em 03/07/2017 14:13
O esquema de corrupção envolvendo o transporte público rodoviário no Rio de Janeiro é um dos mais antigos no estado e, segundo o procurador da República Eduardo El Hage, mesmo depois de deixar o cargo, o ex-governador Sérgio Cabral e sua quadrilha continuavam se beneficiando dos valores desviados indevidamente. De acordo com as investigações, Cabral cobrava para conceder reajustes de tarifas de ônibus. O Ministério Público Federal (MPF) está pedindo novamente indisponibilidade de valores de Cabral e do operador Carlos Miranda, relacionados aos R$ 260 milhões pagos em propina. Segundo a denúncia, apenas o ex-governador teria recebido R$ 122 milhões de propina de empresas de ônibus
— A gente tem informação que o Sérgio Cabral, mesmo após ter largado o governo em 2014, ele manteve uma influência política decisiva e tinha muitos créditos a obter da Fetranspor, em razão das negociatas que ele fez durante o seu governo. Então, sempre que havia um reajuste o Sérgio Cabral recebia prêmios da Fetranspor e ele distribuía esses prêmios entre a organização criminosa dele. Importante dizer que esse é um dos esquemas criminosos mais antigos existentes no estado e, ao mesmo tempo, um dos mais maléficos, pois prejudica a população de baixa renda e paga tarifas além do que seriam as tarifas justas e adequadas, em razão do pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos — afirmou El Hage.
Através das propinas que eram pagas para o TCE e para o poder executivo, os empresários conseguiam diversos benefícios, como a ausência de licitação, o reajuste do valor das passagens e isenções fiscais no IPVA e ICMS do diesel, por exemplo. Para os investigadores, a organização criminosa que atua no setor de transportes também mostram indícios de "cartelização".
A investigação do núcleo de transporte da organização criminosa comandada por Sérgio Cabral começou quando Álvaro José Galliez Novis, o doleiro e operador financeiro da quadrilha, e cuja atuação foi revelada pela deflagração da Operação Eficiência, firmou acordo de colaboração premiada com o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em depoimento à Procuradoria Geral da República, ele ressaltou que sabia que os pagamentos realizados para garantir benefícios relacionados às linhas de ônibus e tarifas.
Na delação, ele afirmou que foi contratado pelo presidente do Conselho de Administração da Fetranspor, José Carlos Lavouras, para “recolher regularmente dinheiro de algumas empresas de ônibus integrantes dessa Federação, administrar a sua guarda e distribuir a diversos políticos”. As ordens para esses pagamentos, segundo Novis, eram dadas única e exclusivamente por Lavoura, de 1991 até 2016.
Mandados de prisão preventiva confirmados:
Jacob Barata Filho, empresário do setor de transportes, suspeito de ter recebido R$ 23 milhões em propina (preso)
Rogério Onofre, ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do RJ (Detro), suspeito de receber R$ 44 milhões (preso)
Lélis Teixeira, presidente da Federação das Empresas de Transporte do RJ (Fetranspor), suspeito de receber R$ 1,57 milhões (preso)
José Carlos Reis Lavoura, conselheiro da Fetranspor, suspeito de receber R$ 40 milhões (está em Portugal e a PF acionará a Interpol para inclusão na difusão vermelha)
Marcelo Traça Gonçalves, presidente do sindicato de ônibus e apontado como realizador dos pagamentos (preso)
João Augusto Morais Monteiro, sócio de Jacob Barata e presidente do conselho da Rio Ônibus, suspeito de receber R$ 23 milhões (preso)
Cláudio Sá Garcia de Freitas (preso)
Márcio Marques Pereira Miranda (foragido)
David Augusto da Câmara Sampaio (preso)
Mandados de prisão temporária confirmados:
Carlos Roberto Alves (preso)
Enéas da Silva Bueno (preso)
Octacílio de Almeida Monteiro (preso)
De acordo com as investigações da operação Ponto Final, foram rastreados R$ 260 milhões em propina pagos pelos investigados a políticos do estado. Não foram divulgados detalhes de como esses valores eram distribuídos.
Fonte: G1

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    Arnaldo Neto

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