"Roda dos Expostos - Os Filhos do Abandono"
Jhonattan Reis 15/05/2017 10:59 - Atualizado em 16/05/2017 12:11
Museu de Campos
Museu de Campos / Folha da Manhã
A roda dos expostos é um cilindro de madeira que era colocado nos conventos e Casas de Misericórdia para receber crianças abandonadas, principalmente frutos de gravidezes indesejadas. Em Campos, a roda que recebia os pequenos rejeitados ficava na Santa Casa de Misericórdia, quando era localizada na hoje praça Quatro Jornadas, ao lado da praça do Santíssimo Salvador, no Centro, de 1819 até por volta de 1900. E para contar essa história, será aberta, nesta terça-feira (16), no Museu Histórico de Campos (MHC), a exposição temporária “Roda dos Expostos — Os Filhos do Abandono”. A mostra fica até o próximo dia 28 de julho no museu, que fica aberto ao público entre segundas e sextas-feiras, das 10h às 17h. O MHC participa do catálogo da XV Semana Nacional dos Museus, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que promove uma programação com temática conjunta entre museus do país.
De acordo com a gerente do MHC, Graziela Escocard, o objetivo da exposição é não deixar a história da roda dos expostos na cidade se perder.
— Este ano a semana dos museus tem, como tema, histórias negligenciadas. Decidimos, então, tratar da roda dos expostos, pois pouca gente em Campos tem conhecimento acerca do abandono de crianças na cidade através desse mecanismo. Nele, as pessoas colocavam a criança de um lado da roda, na parte externa, e a Santa Casa recebia do outro, geralmente através de um mordomo ou padre indicado pela instituição. A Santa Casa, então, dava o nome à criança, caso não tivesse, fazia observações sobre como ela foi abandonada e a criança, inicialmente, era criada lá — contou ela, que possui pesquisa de mestrado sobre o assunto.
Na exposição, Graziela explicou vai ter uma roda dos expostos para o público conhecer. Ela falou, ainda, que, além da orientação dos monitores do museu, a exposição também conta com relatórios da Santa Casa e fotografias da época que mostram questões ligadas à roda.
— Contaremos desde a chegada da roda, na Vila de São Salvador, até a sua extinção. Também iremos mencionar um personagem ilustre que foi abandonado na roda: José do Patrocínio (escritor, farmacêutico jornalista, orador e ativista político campista). Abordaremos várias questões, levando em consideração que o historiador veio também para falar de assuntos que as pessoas não querem falar. Esta é uma história triste, mas, como faz parte da nossa história, queremos revelá-la.
Ainda segundo a gerente do museu, também havia alto índice de crianças já mortas abandonadas na roda dos expostos.
— Isso porque a Santa Casa possuía um cemitério, que ocupava grande área do Centro da cidade. A avenida Alberto Torres no trecho da praça até a Faculdade de Medicina era cemitério. E, também, como a instituição tinha um papel de fazer ritual funerário para encontrar a salvação das almas, nos séculos XVIII e XIX, as famílias que não tinham condições financeiras de realizar um funeral colocavam a criança morta na roda.
Graziela Escocard também comentou sobre a antiga localização da Santa Casa, na praça Quatro Jornadas, onde atualmente funciona um centro comercial.
— A roda ficava na esquina com a avenida XV de Novembro, onde hoje em dia há uma unidade do Bob’s. A frente da Santa Casa era de frente para o chafariz da praça. O provedor da época mandou demolir o prédio, porque a instituição ganhou, à época, o terreno onde é a sede desde os anos 1970 até hoje, na Pelinca — disse ela, que explicou sobre o surgimento da roda dos expostos em Campos. “Isso aconteceu em 1819. Para alguém ter uma instituição chamada de Santa Casa, era necessário cumprir as 14 misericórdias. Entre elas, estava a questão de ajuda ao menor. Por isso a instituição passou a recolher crianças abandonadas na cidade. A igreja Mãe dos Homens, que administrava a santa casa, foi criada em 1786. A Santa Casa foi construída em 1792, sendo que o primeiro provedor assume e ela começa a funcionar em 1793”.

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