Livro inédito de José Cândido de Carvalho
Jhonattan Reis 26/04/2017 18:35 - Atualizado em 26/04/2017 18:35
“O Rei Baltazar”, livro inédito do renomado escritor, advogado e jornalista campista José Cândido de Carvalho, será lançado nesta quinta-feira (27), às 17h30, na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio de Janeiro. Nascido em 5 de agosto de 1914, mas só registrado 10 dias depois, José Cândido, que tem “O Coronel e O Lobisomem” como sua obra mais conhecida, faleceu em 1º de agosto de 1989, em Niterói, deixando “O Rei Baltazar” inacabado. Ainda em 89, a pedagoga Laura Carvalho, sua filha, recebeu vasta documentação do pai, que só foi ser conferida dois anos depois. Ao perceber que se tratava de obra inédita, Laura, com a ajuda do irmão, o diplomata Ricardo Carvalho, foi preparando para editar. Vinte e seis anos depois, “O Rei Baltazar” vai para a coleção da ABL. O livro será distribuído em bibliotecas para pesquisas.
Laura Carvalho explicou sobre como encontrou a obra inacabada do pai.
— Logo após o falecimento dele, chegaram muitas coisas na minha casa e, entre elas, umas sacolas com papéis, que até hoje não sei ao certo quem mandou. Achei que fossem cópias de outros livros e não imaginei que seria algo inédito, o que descobri quando fui conferir melhor o material. Havia páginas datilografadas e manuscritas. Estava tudo bagunçado. Então, me propus a arrumar tudo. Meu irmão, diplomata, não podia me ajudar à época. Fui a editoras, mas não consegui nada também. Então resolvi me dedicar para que isso tudo não se perdesse — lembrou Laura, que se orgulha em falar sua idade — 80 anos, completados na semana passada — e é campista, assim como Ricardo, cinco anos mais novo.
Moradora no Rio desde quando tinha cinco anos, ela disse que a obra continua inacabada. “Não acrescentamos nada ao que ele já havia escrito. Apenas arrumei essa sequência que ele deixou. Meu pai escrevia dando títulos a seus capítulos, que neste caso são muitos, sendo que há uma pequena lacuna no final. Não conseguimos decifrar algumas páginas manuscritas, pois a letra do meu pai é muito difícil de compreender. Procurei o homem que datilografava para ele, mas já havia falecido. Meu irmão depois voltou ao Brasil e começamos a trabalhar juntos. Tem mais de 20 anos que estou fazendo isso. E o livro não será vendido. Será distribuído em universidades e bibliotecas”, disse ela, lembrando que todo o material original foi entregue à ABL.
REFERÊNCIA
José Cândido de Carvalho (Campos, 1914-1989) era filho de lavradores de Trás-os-Montes, norte de Portugal — Bonifácio de Carvalho e Maria Cândido de Carvalho, que se fixaram em Campos. Segundo a ABL, aos oito anos, por doença do pai, foi morar no Rio de Janeiro, onde trabalhou na Exposição Internacional de 1922. José Cândido voltou, poucos anos depois, a Campos, onde continuou a estudar em escolas públicas. Nas férias trabalhava como ajudante de farmacêutico, cobrador de uma firma de aguardente e trabalhador de uma refinação de açúcar.
Ao ser anunciada a Revolução de 30, José Cândido trocou o comércio pelo jornal. Iniciou a atividade de jornalista na revisão de O Liberal. Entre 30 e 39, foi redator e colaborador em diversos jornais de Campos. Admirador de Rachel de Queiroz e José Lins do Rego, começou a escrever, em 36, “Olha para o Céu, Frederico!”, publicado em 39. Concluiu seus preparatórios no Liceu de Humanidades de Campos e se formou em Direito em 37, pela Faculdade em Direito do Rio de Janeiro. Depois, foi morar no Rio e entrou para a redação de A Noite. Também trabalhou em outros jornais, como O Estado (em Niteroi) e O Cruzeiro.
Vinte e cinco anos depois da publicação do primeiro romance, José Cândido publica, em 64, “O Coronel e o Lobisomem”, descrita pela ABL — onde ocupou a cadeira 31 — como uma das obras-primas da ficção brasileira. O romance teve sucesso imediato e não demorou a ser publicado também em Portugal e traduzido para o francês e o espanhol. Obteve os prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, o Coelho Neto, da Academia Brasileira, e Luísa Cláudio de Sousa, do PEN Clube do Brasil. O coronel Ponciano de Azeredo Furtado, personagem do romance, viria a ser nome de rua em Campos.
Nos anos 70, José Cândido foi diretor da Rádio Roquette-Pinto, diretor do Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação (MEC), presidente do Conselho Estadual de Cultura do Estado do Rio e presidente da Fundação Nacional de Arte (Funarte). Nos anos 80, foi presidente do Instituto Municipal de Cultura do Rio (Rioarte) e se dedicava a escrever “O Rei Batalzar”, que ficou inacabado.
Em ordem cronológica, a bibliografia de José Cândido de Carvalho é composta por: “Olha para o Céu, Frederico!” (1939), “O Coronel e o Lobisomem” (1964), “Porque Lulu Bergantim Não Atravessou o Rubicon” (1970), “Um Ninho de Mafagafos Cheio de Mafagafinhos” (1972), “Ninguém Mata o Arco-Íris” (1972), “Manequinho e o Anjo de Procissão” (1974) e “Notas de Viagem ao Rio Negro” (1983).

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