Crítica de cinema: Logan
Edgar Vianna de Andrade 27/03/2017 18:28 - Atualizado em 30/03/2017 17:42
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Filme Logan / Divulgação
Super-homem nasceu como todos os mamíferos: da barriga de sua mãe. Já nasceu com o corpo de aço. Mesmo assim, cresceu e veio parar na Terra. Ele ama. Será que se casará um dia? Como serão as relações sexuais de um corpo de aço com uma mulher de carne e osso? E o envelhecimento e a morte do herói? No filme “Esquadrão suicida”, anuncia-se que Super-Homem está morto. Deve ter sido por kriptonita, já que ele está condenado a ser sempre jovem e imortal.
Com os heróis da Marvel, o destino é diferente. Eles são trágicos. Nascem com mutações genéticas que lhes conferem poderes. São mutações aleatórias que não apontam para uma tendência da humanidade. Esta — a humanidade — discrimina e teme os novos seres. Eles não queriam nascer com diferenças. Então, procuram se defender. Como tudo o que é produzido nos Estados Unidos, há sempre a polarização bem-mal. Professor Xavier é o líder do bem. Magneto é seu arqui-inimigo.
Outra diferença deles em relação aos super-heróis da primeira geração é que os da Marvel envelhecem e morrem. É o que se assiste em “Logan”, com roteiro de James Mangold, Michael Green e Scott Frank, sendo que Mangold é também seu diretor. Logan/Wolverine (Hugh Jackman) provê com dificuldade o nonagenário Professor Xavier (Patrick Stewaert), com suas perigosas crises de hiperatividade mental, e o albino Caliban (Stephen Merchant). Os três moram precariamente na periferia. Os outros se foram. Não há maiores explicações sobre eles, mais novos que os sobreviventes. Velhice e morte de super-heróis produzem empatia com o público até o momento formado por humanos.
E os heróis da Marvel não foram de todo uma ameaça. As forças armadas dos Estados Unidos começam a produzir mutantes para a guerra. Como sempre, o serviço sujo do país é feito em outro país. Nesse caso, no México. Com a política externa do fanfarrão e retrógrado Donald Trump, talvez eles passem a ser fabricados nos Estados Unidos para gerar empregos.
Essa a vertente política do filme, mostrada em tom de crítica. A vertente filosófica é o acaso, o erro. Nem sempre, os militares e cientistas detêm controle absoluto sobre suas criações. Há mutantes que se rebelam e fogem. O principal é a menina Laura Kinney (Dafne Keen), com muito bom desempenho. Ela é filha de Logan. Seu poder é o mesmo e ela é muito ágil. Na nova geração de mutantes, agora com produção induzida, há também os bons e os maus.
Assim como outras crianças, ela foge e tenta se reunir a elas. As fronteiras nacionais ainda existem, embora estejamos em 2029. Notei que o mundo não mudou muito em 12 anos. Logan ainda mantém um corpo sarado para sua idade. O mundo continua muito o mesmo. Talvez seja uma crítica infundada. Doze anos é pouco para grandes mudanças, mas também é muito. A década de 1990 testemunhou mudanças muito rápidas.
Mas não cobremos o que não nos devem. O filme é o último de Hugh Jackman no papel de Wolverine. Ele fez três e podia fazer mais. A mutilação que o matou não me convenceu em virtude de seu passado de regenerações profundas. Ele podia viver mais. No entanto, talvez o próprio Jackman tenha entendido que já é hora de representar papeis de avô.

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