"Moonlight" estreia nesta quinta
08/03/2017 18:29 - Atualizado em 12/03/2017 12:27
Entre as muitas estreias desta quinta-feira (9), o destaque fica por conta de “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, filme vencedor do Oscar, dirigido por Barry Jenkins.
O filme acompanha a trajetória de Chiron através de três momentos na vida do personagem, uma na infância, outra na adolescência e a última no auge de sua vida adulta. Durante esses três recortes, o longa vai mostrando a relação do protagonista com sua mãe, as descobertas sexuais, a relação com as gangues da região, o consumo de drogas e tudo que cerca um jovem negro e gay na periferia da costa sudeste dos EUA.
E o mais importante é ressaltar que o longa não se valida por colocar todos esses temas em pautas, a questão aqui é a forma como são colocados, a maneira como Jenkins organiza esses assuntos, como suas ideias e como os atos de seu personagem são traduzidos pelo longa. Muito disso se dá pela forma como “Moonlight” se assume como um filme periférico, como veste a camisa de um cinema negro, consequentemente marginal, que não pode apenas buscar repetir códigos de um tipo de filme que é aplaudido por premiações. A ruptura temática surge através de uma quebra de paradigma formal, um filme que coloca sua urgência também na sua inventividade estética e por isso é um filme tão importante.
Talvez “Moonlight” seja o filme desse período de premiações que traga um maior frescor cinematográfico. Essa opção permite um filme que não é afeito a negociações, que não pauta seu estilo pelo “bom gostismo” dessas premiações, que não facilita sua forma em detrimento de sua mensagem. Pelo contrário, toda decisão estética tomada pelo filme é movida para conectar-se ao assunto que aborda. Assim, é impressionante, por exemplo, como a câmera fluída e sempre frenética de Jenkins une-se com a forma como os personagens falam seus textos.
Se a direção coloca a câmera em movimentos inesperados, as falas são recheadas de gírias e uma forma marginal de falar, colocando claramente um ruído entre o que se assiste e seu espectador. Esse incômodo que atinge o visual e o sonoro é a constatação dessa marginalidade, desse espírito transgressor que deve se distanciar do padrão dos filmes americanos.
Por incrível que isso possa parecer é através dessa lógica transgressora que o longa consegue atingir o íntimo de seus personagens. Como se fosse necessário se despir de uma estética e de uma forma hegemônicas para atingir o âmago humano dos seres que habitam aquele mundo. “Moonlight” é uma obra acima de tudo humana, que representa esse mundo cercado por hostilidades para investigar os sentimentos mais sensíveis a respeito da fragilidade.
“Moonlight” é um filme do retrato, de filmar e representar momentos que ajudem a entender quem é aquele menino que se vê crescendo diante da tela. Aqui também há outra ruptura proposta por Jenkins, agora como roteirista, apesar do filme ser dividido em três partes, como se fossem episódios da vida daquele protagonista, surgindo até mesmo títulos que dividem claramente esses momentos — Litle, Chiron e Black; não seria impossível enquadrar “Moonlight” no esquema aristotélicos dos três atos.
Assim, através desses momentos, o filme vai construindo sutilmente quem é aquele personagem. Da infância, perpassando pelas dificuldades de relacionamento com a mãe viciada em drogas, os primeiros conflitos com os garotos da região que já o consideram fora do padrão e o aparecimento de Juan — Mahershala Ali num papel brilhante —, um traficante que apesar dos pesares acolhe Chiron como se fosse seu filho, traduzindo para o garoto os valores de proteção e do preço que deve ser pago para superar (ou disfarçar) a fragilidade.
O mesmo ocorre com o segundo segmento durante a adolescência em que mais uma vez aparecem as questões com a mãe, em que começa a despertar a sexualidade e sua paixão por um de seus poucos amigos, as perseguições ainda mais constantes dos garotos da região e agora a ausência de seu protetor, e assim mostrar como ali o garoto precisa fugir de seus sentimentos para não demonstrar sua vulnerabilidade. Algo que surge com muito força no terceiro e último episódio em que Chiron torna-se Black, um gangster que esconde tudo o que sente atrás de seus músculos e dentes de ouro, no entanto o simples retorno daquele amor juvenil é capaz de desmontar toda essa persona criada para fugir daquela fragilidade e vulnerabilidade, sensações intrínsecas àquele homem desde a infância.
Também estreiam hoje “Manchester à Beira-Mar”, “Papa Francisco — Conquistador de Corações” e “Kong — A Ilha da Caveira”. Na quarta-feira (15) haverá a pré-estreia de “A Bela e a Fera”. Continuam em exibição “Logan”, “A Grande Muralha”, “Cinquenta Tons Mais Escuros” e “Monster Trucks”.
(A.N.) (C.C.F.)

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