Murilo retrata símbolos de Campos
Paula Vigneron 20/01/2017 18:54 - Atualizado em 23/01/2017 16:22
Michelle Richa
Artista /Michelle Richa
Quem passa pela Avenida XV de Novembro, no Centro, tem a oportunidade de conhecer histórias e lendas que compõem a memória do município. O dique do rio Paraíba do Sul se tornou o espaço para que artistas pudessem traduzi-la em grafites. As pinturas foram feitas no ano passado, durante o I Festival Campos Graffiti. Os temas foram “Paz” e “História de Campos”. Entre os painéis, estão a lenda do Ururau, a libertação dos negros (com índios nas pontas) e sua coroação com a frase “correntes nunca mais”. Estas obras foram produzidas pelo desenhista e designer gráfico Murilo Desi.
O artista, que vive em Campos desde 2007, quis mostrar, no festival, a base da cultura local, utilizando as figuras do negro e do índio. Este foi o aspecto que o aproximou da história do município. “É uma coisa que me liga muito à cidade. Foi o que fez com que eu me sinta pertencente”, contou.
Nascido em Teresópolis, na região Serrana do Rio de Janeiro, Murilo, de 26 anos, tem o hábito de desenhar desde a infância. Quando era criança, fez uns meses de aula de desenho. Mas, com o passar do tempo, abandonou o curso por perceber que a arte era algo natural em sua vida.
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— O desenho nasceu nem como vontade de entender o que era me expressar. Era uma coisa que eu sentia e fazia naturalmente. Para mim, pelo menos, é algo que precisa ser feito — definiu Murilo, ressaltando que, anos depois de começar a desenhar, percebeu a importância da atividade em sua vida.
Ao se mudar para Campos, o artista compreendeu, a partir de novos contatos e vivências, que o desenho poderia ser a forma de sentir e expressar os fatos do cotidiano. Na época, ele fazia curso de Design Gráfico e buscava um meio de se aproximar da arte. Os trabalhos de designer e de desenhistas foram desenvolvidos simultaneamente. E, recentemente, surgiram oportunidades em eventos de grafite.
— Há pouco mais de um ano, comecei com o grafite. Conhecendo a galera, por meio do skate, fui me aproximando e gostando. Nem me lembro como foi a primeira vez em que caiu tinta na minha mão. Ainda é uma coisa nova. Por meio dos amigos, soube do I Campos Graffiti e me inscrevi. Foi uma experiência muito legal porque pude pintar em um espaço muito grande. Recebi o material. Você começa a ter essa visão do material, de te darem estrutura e confiarem no seu trabalho. Foi um passo bem legal na carreira — contou Murilo, ressaltando que, no festival, a população passava e elogiava.
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Para ele, a principal dificuldade em relação ao grafite é a aquisição de materiais. O desenvolvimento do desenho também é bem diferente por ser necessário idealizá-lo antes de sua concretização. No papel, Murilo costuma não planejar anteriormente o que será produzido.
— É bem difícil ter temática definida. Geralmente, tenho momento em que recebo influência de algo está dentro de mim e vem. Mas não penso da forma como vou trabalhar com isso. Quando você acha seu estilo e quer recriar, fica muito difícil. É um novo passo: sair do que você construiu — afirmou.
Há aproximadamente três anos, para mostrar ao público as suas produções (que são feitas à mão e pelo computador), inicialmente, o desenhista optou por divulgá-las nas redes sociais, com a página “Murilo DoMeio”. Recentemente, ele teve a oportunidade de apresentar seus trabalhos na “Zupi”, uma revista nacional com circulação internacional.
Murilo conheceu a publicação durante a graduação, há cerca de cinco anos. Em um congresso, ele recebeu um exemplar e começou a acompanhá-la pelo site.
— No intuito de percorrer outros caminhos, vi que eu podia me inscrever e enviar os trabalhos. Mandei e passei na seleção. Avisaram que, se eu fosse publicado, a revista chegaria à minha casa. Um dia, meu irmão chegou e levou o pacote. Vi que estava “Zupi” na frente. Abri e estava lá o desenho publicado. A edição é de novembro e chegou às minhas mãos em dezembro — relatou.
Também no ano passado, em outubro, Murilo fez a sua primeira exposição, em um bistrô da cidade. Na época, o convite surpreendeu o artista, que, em pouco tempo, organizou os trabalhos ideais para a composição da mostra que inaugurou a galeria do espaço. Para este ano, o desenhista pretende se dedicar mais à carreira:
— De certa forma, na questão da produção, tanto dentro de casa quanto pelo computador, os desenhos têm andado. Mas colocar para expor ainda está mais devagar do que eu gostaria. Tenho feito pouco, apesar dos convites. Tem lugar para fazer. A dificuldade é conciliar tudo. Neste ano, quero pesquisar coisas e materiais novos para sair só do desenho. Ir para a escultura, talvez.

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