Múltiplo de mim mesmo...
Helio Coelho 19/01/2017 21:06 - Atualizado em 22/01/2017 21:00
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Folha Letras / Divulgação
Este é o título do meu primeiro livro de poesia que será lançado em breve, programação visual de Luciana Coelho e ilustrações de Fernando Luiz Soares. Aqui mesmo neste espaço FOLHA LETRAS & ACADEMIA CAMPISTA DE LETRAS tive a oportunidade publicar alguns dos 50 poemas do livro, com destaque para SANTA BÁRBARA, FESTA DE SANTO AMARO e E SE EU ME CHAMASSE DOLORES?
Agora, exponho-me à apreciação dos leitores com uma pequena mostra de minha produção poética. Há quem diga que não faço poesia e sim prosa-poética... a conferir, não é mesmo?
*Professor da UFF/Serviço Social-Camos.RJ, do UNIFLU/Campus I Direito, e Presidente da Academia Campista de Letras.
NO BAR
Sons
Sinais
Sorrisos
Zumbidos.
Olhares
Cenas
Ciúmes
Risadas
Entradas
Cantadas.
Bebidas
Saídas
Saudade
Silêncio.
Solidão
Saideira.
PONTAL, O RITO...
Enfim...o Pontal!
Dia lindo de céu azul
De um azul safira
Que igual não há...
Em total liberdade
No ritmo lento do rio
Sou cabrunco largado
Sinto que as dores
Tensões desamores
Vão se confundindo
E se dissolvendo
No balanço das águas
Lá no fundo do mar...
Rio mar Convivência
Sensação gozosa
Areia quente macia
Doce malemolência
Mormaço...e o sol
Que instiga a pele
E ilumina a vida!
Aí então o rito
Retiro os óculos escuros
E grito: é um absurdo
Proteger meus olhos
Dessa luminosa e rara
Beleza escancarada
Do Pontal de Atafona!
PURIFICAÇÃO
I
Sacudir a poeira e a lama da estrada
Salvar o cavalo baio voador da queda
Resistir à farsa do teatro de máscaras...
II
Transformar o fundo do rio em base
Para a impulsão da batida de pés e braços
Até alcançar a outra margem... a salvação
III
Deitar-se ao sol e deixar lentamente
Limpar o bolor da memória esfacelada
Na pele no corpo todo e na alma....
URINÓ
Era assim
Agachado
Com jeito encostava
No urinó
Ah!...deixava cair
Controlando a altura
Do fiofó...
Carregava o pinico
— O mesmo que urinó —
E jogava o de dentro
No chão cavacado
Que nem animal
No meio do mato
Atrás do quintal
Ó! Espantado amigo
Pensando que é troça?
Foi bem assim comigo
Quando criança na roça...
Voar...
Preciso urgentemente
Uma garrafa de poesia
Um copo cheio de sons
Transbordando música
Pura em todos os tons...
Preciso das telas, cores
Sobretudo as aquarelas
Flores sol mato verde
As cores vivas e belas
Nada de natureza morta
E que meu cavalo baio
Entre voando pela porta
E me carregue ao acaso
Tudo, menos o Parnaso!
Mares vales horizontes...
Matas montes nascentes
Nem musas nem Narciso
...........................................
Apenas voar eu preciso...
A CHAVE
Decifra-me
Se queres
Devorar-me
Depois que arrancaram
Meus dentes caninos
Passei a falar
Passei a morder
Passei a sorrir
Com os olhos.
Um tango no trapézio
Um tango no trapézio
O equilíbrio difícil da paixão.
Entre a harmonia e o perigo
A corda bamba
Do estar no mundo
O tempo todo
Espremido pela consciência
De si mesmo
E d@ outr@.
O instante único
A vida com precisão
Na fração mínima do tempo
No milímetro exato
Do espaço.
O passo,
O salto,
O abraço encaixado,
O silêncio.
Os corpos não mais retesados,
A suavidade dos gestos
Os aplausos
A cumplicidade do sorriso
Mais uma vez a certeza
Voar é preciso...
CANSAÇO
Posições definidas
Nos corpos retesados.
Relação discutida na cama,
Polidez formal à mesa
E o vazio no cotidiano
De silêncios tensos.
.................................
O tempo todo
O angustiante prenúncio
Mobilizando, imobilizando,
Desmobilizando.
Eis que o sempre adiado confronto,
Maquiado, mascarado,
Inevitavelmente aflora
Com a fúria dos vulcões
Aparentemente adormecidos.
Das entranhas profundas
As palavras jorram enfezadas,
Apodrecidas porque não ditas,
Fétidas, cortantes, mal ditas,
E malditas também.
Esponjas de aço esfregam as faces,
Retiram as máscaras,
Removem as teias da maquiagem.
Cenário montado, último combate.
Luta de esgrima,
Refinamento nas estocadas.
O aço penetrante das espadas.
O grito ao mesmo tempo:
— Touché!
O sangue manchando
A roupa branca
Dos sonhos desfeitos.
Aço com aço.
Cansaço.
Ponto final.
RODOPIOS
Foi bem assim meio da tarde
Cantando... o papacapim
Enfeitiça o caçador
Que troca a vara de visgo
Por seu pequenino amor...
O pio forte da coruja
De mansinho vai chegando
Vindo de tanta lonjura...
E reanima o pensador
No meio da noite escura...
Na algazarra da manhã
O menino sonhador
Perto do caramanchão
Brinca sorri bem feliz
Com os rodopios do pião...
A LIÇÃO
Sou Professor,
Compartilho saberes,
Ensino.
E tudo aquilo que ensino
Tem a ver com o que aprendi.
Aprendi ensinando
Ensinando aprendi.
E aprendi
Porque fui aos livros
Mas não tirei os olhos da Vida.
DESCAMINHO
— Vejam só: eis o caminho!
Foi por ele que eu andei.
E de tanto andar sozinho
Ainda não me encontrei...
DESENCONTROS
Os dias celebrados em festa
Intensa paixão febre de amor
Um misto de ternura e volúpia
Inundava de luz o que antes era
O quarto escuro, a caverna onde
Cuidadosamente guardava e polia
A armadura de aço que ali escondia.
Aprendera a dançar fox salsa y bolero
Andou ensaiando I Love You/Te quiero
E começou a entender as flores do campo
Ouviu Chico e leu Vinícius querendo amar
Ah superando-se foi ler Simone de Beauvoir
E quanto mais a morena entrava na vida dele
Mais ele entrava na vida, e saía da sua caverna.
A outrora reluzente armadura de aço... enferrujou!
E foi ele quem passou a ter um brilho resplandecente
Sentiu que quanto mais se davam, menos se possuíam.
Um dia ela precisou partir e foi sem saber se iria voltar
Um cigarro um uísque, a voz de Johnny Alf confessando
Somente um dia longe dos teus olhos! ... e o mundo inteiro
Fez-se tão tristonho... Sorriu... e me apraz essa ilusão à toa.
Tornara-se Homem capaz de transformar tanto amor guardado
No peito, apertado, num sentimento de beleza, magia, e de poesia
Saudade e sensação de pertencimento especial, de transcendências,
Para além da carne, do prazer. Amor que se contém, que contempla
E se contenta no descontentamento do não ter... o quanto gostaria ter
Sem desespero abriu o livro e leu o Poeta: “A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida”. Balançou a cabeça e chorou.
TIZIU
No remanso da fazenda,
Na manhã de céu aberto,
Por entre os capinzais,
Cheiro de bosta e canaviais,
O pássaro canta e pula.
É um passarim pretinho
Que canta e sobe
E desce e canta:
Tiziu...tiziu...tiziu...
Canta pula e canta
No mourão da cerca
Tiziu...tiziu...tiziu...
Canta bonito
E ninguém põe na gaiola.
Porque é livre,
Canta...sobe...e desce
E voa por sobre as cercas
De arame farpado
Que demarcam os pastos
E os currais da propriedade
Onde estão presos
Os bois e outros animais...
CORALINDA
Avermelha a brasa
E em paz a palavra
Escorre ligeira
Faceira, limpa,
Por entre os dedos
Da delicada mão.
O permanente fluxo
Cora, linda, faz.
O fugaz, a ponte.
Mulher, menina
Água da fonte
Poesia cristalina.

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