Desabafo de um Cadeirante
- Atualizado em 14/04/2019 10:34
Artigo escrito originalmente para o BNB
A AUSÊNCIA DE ACESSIBILIDADE E SENSIBILIDADE NO CAMINHO DA PEDRA PRETA
Ricardo Tostes
Nasci e passei boa parte da minha vida no município de Itaperuna.
Quando pequeno eu não tinha muita noção do que era acessibilidade e o quão importante era para os cadeirantes.
À medida que fui crescendo, passei a usar a cadeira de rodas como principal meio de locomoção e percebi a enorme carência no tema da acessibilidade.
Aliás acho que a palavra carência não se encaixa no contexto já que Itaperuna não tem acessibilidade nenhuma, a que  melhor define a minha cidade é VERGONHA, fiz questão de colocar em caixa-alta pois nesse momento a vontade é a de gritar bem alto.
As ruas são desafios complexos, achar uma rampa adequada para cadeira de rodas é quase um milagre e quando a encontramos, tem sempre um abençoado motorista que estaciona na frente.
As vias são cheias de buracos, paralelepípedos soltos e às vezes, lixo.
As calçadas possuem grandes ressaltos e também buracos, fazendo as rodinhas dianteiras agarrarem, provocando quedas.
O nosso município vem desrespeitando continuamente a lei 10.098/2000 que diz o seguinte:
“ Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.”.
Essa mesma lei traz um dispositivo sobre as barreiras arquitetônicas nas vias públicas e urbanísticas. 
O que são estas barreiras?
“Falta de rampa de acesso para cadeirantes nas vias públicas; Falta de calçadas com guias para portadores de deficiência visual”.
Ano após ano, candidatos a prefeito e vereadores fazem inúmeras promessas de mudanças no município, mas ficam só nas palavras, pois até hoje não consegui enxergar  acessibilidade.
Há pouco tempo fiz um discurso na Câmara Municipal e pude ver o desrespeito às leis de acessibilidade na própria Casa do Povo.
Para chegar ao plenário, tive quer ser carregado pelos seguranças do Legislativo. Talvez eu seja um dos poucos cadeirantes a ter ido ao local em todos esses anos em que ela funciona no prédio de 2 andares com uma tortuosa e apertada escada de madeira. 
É como se fosse proibida a presença de quem tenha qualquer impossibilidade de caminhar literalmente com as próprias pernas na Câmara de Itaperuna. Se fosse proibido, seria mais compreensivo.
Chego à conclusão que não adianta mudar a cidade, se os próprios moradores não mudarem também, não adiantam várias rampas se não tiver fiscalização para os que insistem em parar os carros na frente delas
É assim no Brasil todo, sempre vai existir aquele motorista mal-educado que vai parar seu carro em rampas e vagas destinadas aos cadeirantes, a mudança tem que começar na população para enfim conseguirmos fazer com que Itaperuna evolua na acessibilidade.
Peço que nos respeitem e tenham  uma série de cuidados para que não sejamos excluídos do convívio com a sociedade, a acessibilidade faz parte desse respeito que devem ter conosco.
Ela significa dar à essas pessoas, o acesso aos mesmos bens e serviços disponíveis para os demais cidadãos.
Nós portadores de necessidades especiais temos os mesmos direitos dos outros, e isso está na lei, não é um favor que vocês fazem para a gente.
É dever de vocês nos respeitarem.
Somos brasileiros e precisamos ter acesso às escolas, universidades, ao mercado de trabalho, ao lazer e à cultura, para isso foram criadas as leis de acessibilidade.
Só precisamos que o legislativo faça com que elas sejam cumpridas. Gostaria de saber das autoridades do Poder Legislativo do Município de Itaperuna:
QUAIS SERÃO AS PROVIDENCIAS SOBRE A FALTA DE ACESSIBILIDADE NO NOSSO MUNICÍPIO?
Aproveito para lançar um desafio, ao prefeito, vereadores, secretários e assessores: tentem usar uma cadeira de rodas por um dia, ou mesmo por uma hora apenas, em nossa cidade, para sentir de verdade o que nós vivemos.
*Ricardo 23 anos, estuda de Direito na UniRedentor e trabalha no departamento de divulgação da mesma.
 
 
 
 

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