O doloroso adeus de Paulo Henrique
Matheus Berriel 06/04/2019 15:47 - Atualizado em 15/04/2019 20:46
É provável que a recente passagem de Paulo Henrique pelo Goytacaz, encerrada na terça-feira (2), tenha sido a última. A informação foi passada pelo próprio treinador, que negou ter deixado o clube para “resolver assuntos pessoais”, alegação dada pela assessoria de imprensa alvianil, que entendeu não ser necessário novo posicionamento. Em entrevista à Folha, o técnico campeão da Série B1 do Campeonato Estadual em 2017 listou os motivos que o fizeram decidir por deixar, após dois anos, a rua do Gás, onde praticamente começou a exercer a profissão, há quatro décadas, depois de uma rápida passagem pelo Campos Atlético Associação. Embora tenha aceitado ser novamente o técnico do Goyta nas duas últimas rodadas do Grupo X, em fevereiro, Paulo ainda não engoliu o fato de ter sido escanteado no início desta temporada, quando deu lugar a Athirson e passou a ser supervisor de futebol, sem voz ativa na comissão técnica. A falta de pagamento dos salários de outubro a 24 de fevereiro também influenciou na decisão. Problemas à parte, Paulo Henrique leva consigo a amizade do presidente Dartagnan Fernandes e do gestor Flávio Trivella — este também de saída do Goyta —, além do carinho pela torcida.
Atraso nos salários — “Eu saí porque já vinha amadurecendo isso há muito tempo. Estava tomando coragem, porque tenho um carinho especial pelo Goytacaz, pela torcida, por todos de dentro do Goytacaz. Estava magoado por dentro. Estava trabalhando, mas não estava contente, ainda mais depois que o (torcedor) seu Edalmo faleceu. Era o responsável por mim, nunca mais eu recebi. O clube me pagava o mínimo, R$ 3 mil, e seu Edalmo me pagava os R$ 5 mil. Nunca atrasou um dia em dois anos. Mas, infelizmente, Deus precisou dele lá em cima e o levou. Dali pra cá, era só problema”.
Desmontagem da comissão — “Teve a minha saída do cargo de treinador do jeito que eles fizeram. Não falei nada para eles, mas não gostei, fiquei magoado. Não pedi para sair, poderia até ter pedido quando eles dissolveram a minha comissão técnica, mandaram embora dois filhos meus que são profissionais de confiança, o Kalika e o Serginho, além do Márcio e do Souzinha, que era o meu assistente. Então, aquilo ali me magoou muito”.
Mudanças no elenco — “Eles começaram a inventar em uma coisa que eu fiz com carinho, com o pezinho no chão. Queriam chegar não sei aonde. Quer dizer, o nosso trabalho não valeu nada. Nós ganhamos tudo com todos aqueles atletas, que não eram renomados. Pra que trocar? Foi coisa pessoal, mas não quero entrar nesse mérito. Estava aborrecido e tomei a decisão. Infelizmente, tive que tomar. Agradeço à minha torcida, aos conselheiros do Goytacaz, todos que trabalham dentro do clube. São todos meus amigos, tratava a todos com muito carinho. E ao meu presidente, porque estou saindo, mas sou amigo dele. Jamais vou deixar de ser”.
Adeus cancelado em fevereiro — “Não sei se errei ou acertei. Estava quase tudo certo para eu assumir o Serra Macaense, mas, infelizmente, logo a seguir, o presidente tinha dado uma entrevista dizendo que eu acertei o novo contrato, que ficaria (no Goytacaz) para essa temporada, e acho que o Serra Macaense pegou e contratou outro treinador. Isso é normal. Mas, aquilo ali me prejudicou. O presidente não fez por maldade, são coisas do futebol. A gente tinha uma amizade muito boa, como ainda tem, tanto que não tive problema nenhum em falar com ele (que estava saindo)”.
Anúncio oficial da saída — “Eu comuniquei ao presidente, porque eu tinha obediência a dar a ele. Queira ou não queira, foi ele que me contratou. E num momento difícil para o Goyta. Nós tivemos coragem, eu tive coragem e fiz uma boa equipe de trabalho, uma equipe excelente de jogadores. Éramos uma família. Fiquei dentro do Goytacaz por duas temporadas e nossa defesa era a melhor do campeonato. Eles dissolveram tudo, mandaram todo mundo embora”.
Retorno improvável — “Não sei, não, mas agora eu acho difícil (voltar). Gostaria de ajudar o Goytacaz até mais, tentar ver algumas coisas, mas fora do clube. O Goytacaz está acima da gente, está acima da vaidade. Todos se vão, o Goytacaz fica. Então, eu sinto muito, estou muito triste. Passei uma noite não muito boa (de terça para quarta-feira), porque os pensamentos vinham na cabeça. Mas, eu desejo tudo de bom ao Goytacaz. Não vou desejar coisa ruim. A próxima comissão técnica terá total apoio do Paulo Henrique, mas longe, de fora, como torcedor do Goyta, sempre”.
Saída de Trivella — “O Trivella é meu amigo, uma excelente pessoa. Ajudou o Goytacaz até onde deu. Na hora de restituir a ele, teve uma confusão. Nessa confusão, deu nisso aí, decidiram inclusive rescindir o contrato com ele. Mas, é uma pena. É lamentável”.
Seletiva 2020 — “A seletiva desse ano vai ser muito difícil. E o Goytacaz não tem nem uma base, não deixou uma base, foi todo mundo embora. Isso é muito ruim. Vai ter que montar tudo de novo, do zero. A não ser que peguem jogadores que estão jogando juntos em alguma equipe e coloquem no Goytacaz. Vai ser uma Série B1 muito complicada, e a seletiva mais forte ainda”.

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