Guilherme Belido Escreve - Resignado ou cartas na manga?
23/06/2018 18:58 - Atualizado em 26/06/2018 15:44
Numa eleição de ‘tiro curto’, em que os 30 dias de Copa do Mundo quase paralisam a movimentação dos presidenciáveis e as convenções para escolha dos candidatos ficam praticamente ‘em cima’ (de 20/07 a 15/08), sendo 15 de agosto o último dia para o registro de candidatura, não resta dúvida que todo o processo fica muito corrido, com apenas 35 dias de propaganda eleitoral gratuita, cujo período vai de 31 de agosto a 04 de outubro, três dias antes da eleição de primeiro turno.
Assim, o que se vê é um quadro indefinido e com pouco tempo para resolução, o que em tese beneficia os candidatos que mais exposição conseguiram para seus nomes e desfavorece os de menor evidência.
Diz-se em tese porque campanhas, ainda que curtas, têm o condão de virar de ponta cabeça cenários que se pensava definidos. Mas, à luz da obviedade e das pesquisas, restando apenas dois meses e meio para o pleito, Jair Bolsonaro está com um pé no segundo turno e os demais farão uma corrida de 100 metros para chegar lá.
E aí tanto pode dar um nome mais previsível (Álvaro Dias, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, etc.) como algum outro ora menos cotado e que venha a despontar. Ou, ainda, que o galho de Bolsonaro balance e perca posições. Eleição é assim: ninguém vence de véspera e, mesmo na véspera, as coisas mudam. (*Registre-se, não se sabe o desempenho de quem o ex-presidente Lula da Silva vier a apoiar, considerando, como tal se evidencia, que ele próprio não estará na disputa).
Mas, seja como for, o que causa certa surpresa – salvo se não se enxerga o que ainda esteja por vir – é a condução do presidente Michel Temer no processo que, como político frio que é (frio no sentido de não se deixar abalar) ou está muito confiante sabe-se lá em quê – aparentemente na eleição de Henrique Meirelles –, ou teria cartas imbatíveis na manga, ou, ainda, simplesmente resignado com um futuro pouco promissor.
Curioso que Michel Temer, do alto de seus 78 anos (completa antes da eleição), não combina com quem estaria conformado em enfrentar dias difíceis, com duas graves denúncias as quais terá que prestar contas na Justiça a partir de 1º de janeiro – sem falar em acusações outras – e, contra as quais, mesmo na hipótese de virar ministro (de Meirelles, né?) e apostar no foro especial por prerrogativa de função, o famigerado ‘foro privilegiado’, pode não ser suficiente.
Desistência não teria sido precipitada?
De aprimoramento em aprimoramento, chegou-se ao topo da modernidade em comunicação interpessoal mas que, à luz das relações humanas, representa, sob certos aspectos, a evolução que involuiu.
Tecnologicamente, o WhatsApp é formidável. Para muito além da quase extinta MSG, permite o envio de imagens – todo tipo de imagem –, extraordinária ferramenta que tanto serve ao trabalho quanto ao lazer. Fotografou, enviou e pronto.
Por outro lado (como em tudo, sempre há o outro lado da moeda), criado para aproximar, afastou. Inventado para favorecer, ergueu muros, obedecendo as novas regras do politicamente correto.
Evidente, tudo é subjetivo e cada caso é um caso. Mais evidente ainda, o uso, digamos assim, saudável do aplicativo não é algo que inexista. Mas, forçoso reconhecer, em grande parte sufocou a conversa ao telefone. E como a fala é a expressão maior da comunicação – perceptível e a única que se capta a entonação – há de se enxergar certo retrocesso na evolução.
Como ligar para outra pessoa transformou-se quase em falta de educação, de bons modos, utiliza-se o WhatsApp. Mas, se a internet pifou e ou se o destinatário está ‘fora de área’... aí o Whats assume forma de carta.
Mais ainda, tal qual na antiga correspondência, em que se podia alegar que o Correio não entregou, que não chegou ou, quando conveniente, demorar para responder, o Whats “oferece” o mesmo subterfúgio: cada qual diz ter visto quando e se bem entende.
Logo, igualmente à carta do velho mundo, o moderno Whats também pode ‘demorar’, ou nem chegar. Neste particular, contribui para o isolacionismo, individualismo e uma certa frieza cada vez mais presente entre as pessoas.
Mas, como recomenda o politicamente correto, não ligue. Se, em caso de urgência, precisar ligar, avise antes por Whats. E nunca deixe tocar mais que três vezes.
Ou, faça o seguinte: pegue papel e caneta... e escreva uma carta.
Prisão após saída do Planalto é possibilidade real
Em maio de 2018, em entrevista veiculada na Rádio CBN, Michel Temer disse não ter medo de ser preso ao deixar o cargo. Se foi uma frase de efeito, ou não, há de se ter em conta que o Brasil tem levado à prisão gente que nem de longe se cogitava fosse parar na cadeia.
Exemplo impactante dessa ‘nova realidade’ – e que mais perplexidade causou – foi o da prisão de Lula da Silva. Desnecessário salientar que tamanho abalo se justifica face a tudo que o ex-presidente representa na política brasileira.
Esta página, dezenas de vezes, focalizou o líder petista sobre dois aspectos distintos: o de ser ele a maior liderança popular da história do Brasil depois de Getúlio Vargas (por isso mesmo, de quem não se esperava desvio de conduta); e a figura pública que mais decepção trouxe ao povo brasileiro.
Entre as muitas páginas, a de 28 de janeiro de 2018, intitulada ‘Lula, o filho da decepção’, cujo texto parcialmente se reproduz a seguir:
"Não se trata do triplex, do sítio, das palestras ou da relação espúria com as empreiteiras. Trata-se dele, do Lula da Silva em quem o Brasil colocou toda confiança, ter sujado as mãos e se revelado mais um entre tantos políticos corruptos que andam por aí.
No fundo no fundo, o Brasil pouco se importa e nada se surpreende com a corrupção de um Eduardo Cunha ‘da vida’, ou Geddel, ou Cabral, ou Picciani, ou Henrique Eduardo Alves... Afinal, ‘falando sério’, quem liga para Henrique Alves? Quem é Henrique Alves e o que representa para o Brasil? Nada!
... E Michel Temer, com toda perplexidade do áudio gravado na calada da noite, em porão de garagem, por gente do tipo de Joesley... – falando em termos caricatos – alguém dá a mínima?
Mas Lula da Silva, chafurdando em propina, como se fosse um Rocha Loures qualquer... aí o povo sentiu.
E mais adiante:
...Um operário... um retirante nordestino chegava à Presidência da República do Brasil. O País se encheu de orgulho. O povo se viu representado como tal não se sentia desde Getúlio Vargas.
Fez sua sucessora em 2010 e convenceu a população para que a reconduzisse em 2014. Com o Petrolão já revelado, o eleitor atendeu ao apelo de Lula como fizera em 2006, quando nas urnas o isentou de participação no Mensalão.
De lá para cá, nos últimos quatro anos, as evidências falaram por si".
Assim, se Lula da Silva, do alto de sua projeção e popularidade, foi condenado em 2ª instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e está preso cumprindo pena, não é Michel Temer que, uma vez comprovadas as acusações contra ele dirigidas, vai escapar da mão pesada da Justiça.
 
 
 
 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS