Areias movediças...
bethlandim 22/01/2017 00:52 - Atualizado em 05/05/2017 21:10

“Não queiras ter pátria, não dividas a terra, não arranques pedaços ao mar. Nasce bem alto, que todas as coisas serão tuas...” Cecília Meireles

Se formos ler ao pé da letra, areia movediça é aquela que afunda, quando caminhamos sobre ela... por uma outra interpretação de linguagem, pode ser a areia que não tem base consistente, que se move sem ritmo, que fica ao “léo”, que não nos traz segurança, volúvel, que não inspira confiança para caminharmos...

Hoje quero abordar um assunto que pode ser espinhoso, mas que para mim jamais pode ser desumano! Temos várias formas de areias movediças, mas quero hoje enfatizar as areias de Atafona, que insistem em invadir as casas... Deixo claro desde já, que não possuo casa em Atafona, praia que adoro, em especial por sua singularidade e astral, mas por isto mesmo, por entender e ver a dor do outro, o que chamamos de compaixão, que redijo estas linhas... Penso que todo o cuidado ambiental e de preservação da natureza, existe pela própria natureza, e também pela sustentabilidade do universo, nosso ecossistema, nossa casa universal. Penso acima de tudo, que não só somos beneficiários como preservadores desta natureza, mas acima de tudo, temos que conjugar a preservação, especialmente, quando este não lesa em nada a natureza.

Não vou entrar aqui, no que tange ao recuo do Rio Paraíba, as razões deste recuo, e ao avanço do mar. Leio muito sobre estes estudos técnicos, e tenho minha opinião. Isto ficará para outro artigo, embora interligados. Mas quero abordar a incoerência, intransigência e a desumanização para com os proprietários das casas que vêem suas casas invadidas pelas areias que o vento traz. Estas casas não foram construídas invadindo areia nenhuma... Pelo contrário, além desta rua, já existiram duas ruas à frente, que foram tomadas pelo mar. 

Será que devolver as areias para o mar, não deixar que avancem e tomem o lugar das pessoas e suas casas é algo insano? Será que seremos condenados a ficar de braços cruzados, assistindo incólumes, a tristeza, e a desgraça do outro, inertes, como se nada estivesse acontecendo? No verão, estes mesmos proprietários e veranistas ainda têm que conviver com pessoas que surfam nas dunas, andam de moto, fazendo com que cada vez mais, a areia desça e invada as casas... Ter esta percepção, de não prejudicar o outro, é também uma forma de ajudar. Penso que com engenheiros florestais, ambientalistas e pessoas competentes podemos pensar na desobstrução das ruas, na não invasão das casas (devolvendo as areias de onde partiram) e na plantação de um grande bosque de vegetação adequada à beira mar, para a fixação das areias.

Árvores aliadas à vegetação rasteira, que fixariam as areias, trariam mais verde e oxigênio para o meio ambiente, de grande valor na beleza natural da restinga que estaríamos preservando e multiplicando... 

Nenhuma lei pode servir para tirar do homem, principalmente retirar o que ele não usurpou da terra.

É hora de nos unirmos, por estas pessoas, por Atafona, por um mundo melhor, porém, sobretudo mais humano. É hora de termos respostas dignas das autoridades, que impassíveis a tudo assistem. Tenho certeza de que a Prefeita eleita Carla Machado, com toda a sensibilidade que possui, não vai se abster de abordar e encontrar uma solução plausível para o assunto... Que tenhamos olhos para enxergar o problema do outro que não é só dele, mas, sobretudo, que nos coloquemos no lugar do outro e busquemos soluções adequadas para minimizar, resolver e trazer soluções para um problema que deve ser de todos... Meu desejo sincero, é que não permaneçamos num mundo de areias movediças, que a dor do doutro em mim, refletida, sirva de ensinamento, mas, sobretudo de ação por um mundo mais humano, mais coerente, menos individualista, em que possamos caminhar com os pés no chão... mas sabendo que não caminhamos sozinhos... 

Se o verão em nossas praias que se inicia desde o ano que se vai... adentrando com fogos e luzes o ano que desponta... é sempre sinal de esperança... que essa mesma esperança não seja levada pelas areias... do coração dos moradores das casas nas dunas... Que a energia dos reencontros, da união das famílias, da espera do luar que chega banhando as varandas das casas, das tardes frescas nas redes, das mesas de café da tarde com amigos queridos, dos picolés que saboreamos a qualquer momento do dia, dos banhos de mar que se estendem a luz do luar, da alegria partilhada em cada casa onde o sorriso sempre é solto e bem vindo... enfim... a energia da renovação tão necessária a cada ano... chegue para todos nós... em cada casa de praia... para cada família que busca a felicidade nas praias... inclusive para as famílias que perderam suas casas e para aquelas que estão no meio das areias movediças...

Deixo a todos este Convite, de Lia Luft... “Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou Mistério. A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério...”

Que sejamos em nossa vida sempre construção, mesmo em meio as dunas do mar!!!

Um maravilhoso feriado a todos!!!

Com afeto,

Beth Landim

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