"A Mula" estreia no Kinoplex
20/02/2019 17:41 - Atualizado em 22/02/2019 17:51
Entre os filmes programados para estrear esta semana nos cinemas de Campos, a indicação recai sobre “A Mula”, que marca a despedida do ator e diretor Clint Eastwood das telas. Com uma carreira de mais de seis décadas na frente das câmeras, o veteraníssimo Clint Eastwood, no auge de seus 88 anos, chega agora ao seu tão merecido repouso como ator. Bem, isso é o que vem sendo anunciado, já que declaração similar o ator havia dado em 2008, quando lançou “Gran Torino”, e depois disso voltou a atuar em mais dois longas (incluindo este). Seja como for, “A Mula” é seu novo projeto.
Somado aos seus 72 créditos como ator, está uma brilhante carreira como diretor, iniciada em 1971, e que já conta com 40 trabalhos. Anunciado como o “canto do cisne” para o eterno Dirty Harry, “A Mula” traz um Clint Eastwood mais amável e menos turrão do que em suas últimas encarnações, vide Frankie Dunn de “Menina de Ouro” (2004), Walt Kowalski de “Gran Torino” (2008) e Gus Lobel de “Curvas da Vida” (2012). Agora, o ator interpreta Earl Stone, agricultor florista dono de um próspero negócio. Como este é um filme de Clint Eastwood, seu personagem possui um grande defeito, que torna sua dinâmica em família extremamente disfuncional.
Baseado numa história real, que gerou o artigo do New York Times, “The Sinaloa Cartel’s 90-Year-Old Drug Mule”, escrito por Sam Dolnick, o filme apresenta seu protagonista nonagenário que de uma hora para outra vê seu tão lucrativo negócio de flores ser jogado para escanteio com o advento das vendas online, e ir à falência. De um jardim florido e dono de muitas cores, o diretor faz a transição para impactar a passagem de tempo de mais de uma década, quando o encontramos num cenário devastado. As imagens que representam o declínio financeiro também incluem a aparência “surrada” do protagonista no tempo presente. Fosse apenas no aspecto financeiro, Earl poderia ter um respaldo, mas sua obsessão pelo trabalho terminou por afastá-lo da esposa e da filha — interpretadas respectivamente pela sumida veterana Dianne Wiest e Alison Eastwood, filha do cineasta na vida real.
Assim, isolado de todos que ama e sem poder focar no trabalho, tendo a confiança única de sua neta (papel da jovem Taissa Farmiga), o idoso se encontra num beco sem saída. Suas obrigações financeiras e o casamento da neta o obrigam a procurar o caminho mais fácil, quando o abordam sobre a possibilidade de um trabalho como motorista. Assim como a inesquecível “Vovó do Pó”, Earl se torna a mula perfeita para um cartel de drogas mexicano. Afinal, quem desconfiaria de um simpático senhorzinho viajando com sua caminhonete através das estradas. Quer coisa mais americana? Sem perguntas e apenas cumprindo o que lhe foi incumbido, Earl começa a prosperar e a recuperar seu lugar no seio da família.
Como citado, este ainda é um filme de Clint Eastwood, então seu personagem não é simplesmente um florista, e sim um veterano da Guerra da Coreia, que quando o caldo engrossa sabe bem como olhar o cano de uma arma sem se sentir intimidado. Pelo contrário, a cada encontro com o perigo, o eterno durão do cinema profere muitas de suas tiradas impagáveis. E igualmente não poderia faltar alfinetadas no politicamente correto — desde piadas com “sapatas”, passando pela forma como devem ser chamados os “negros” hoje. São nesses pequenos detalhes que reconhecemos verdadeiramente o cinema de Clint Eastwood, aonde sua marca está verdadeiramente impressa. Fora isso, o diretor cria um longa eficiente, mas que não fosse por sua presença na frente e atrás das câmeras, seria apenas um filme rotineiro. A presença do astro abrilhanta um material não tão inspirado, dono de muitas conveniências, mas que são automaticamente perdoadas quando percebemos a entrega do diretor, ainda fazendo obras com o coração e recheando o núcleo com muito afeto. Mesmo que nem tudo seja harmonioso e funcione, “A Mula” pende mais para seus acertos. No terreno emotivo, a relação do protagonista com a família, em especial a esposa, consegue tocar; já a forçada de barra por uma conexão entre Earl e o traficante Julio (Ignacio Serricchio) não desce redondo.
“A Mula” é mais do que um longa baseado numa história real, e mais do que um suspense ou o último trabalho de Eastwood como ator (se é de fato isso). Funciona como uma amálgama de tudo que foi escola para o diretor, perpassando todos os elementos encontrados em variadas produções suas.
Também entram em cartaz hoje “A morte te dá parabéns 2” e “Sai de baixo - o filme”. Permanecem em exibição “Green Book — o guia”, “Alita: anjo de combate”, “Minha fama de mau”, “Uma aventura Lego 2” e “Minha vida em Marte”. (A.N.) (C.C.F.)

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