Operação no Rio prende milicianos suspeitos de ligação com a morte de Marielle
22/01/2019 18:54 - Atualizado em 28/01/2019 16:31
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Uma grande operação em conjunto entre o Ministério Público estadual e a Polícia Civil atingiu em cheio o núcleo da milícia que atua na Zona Oeste do Rio. Foram presos policiais e ex-militares suspeitos de envolvimento com o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes. A operação batizada de “Os Intocáveis” também revelou que o gabinete do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), empregou diretamente a mãe e esposa de um ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) apontado pelas investigações como um dos “cabeças” da quadrilha conhecida como “Escritório do Crime”.
Ao todo, a força-tarefa do MP e da Polícia Civil prendeu cinco suspeitos de integrarem a milícia que age em grilagem de terras nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na capital. Além da compra e venda irregular de imóveis nas localidades, o grupo também é suspeito de cometer outros crimes como homicídio, agiotagem, extorsão de moradores e comerciantes, pagamento de propina e utilização de ligações clandestinas de água e energia.
Entre os presos estão Maurício Silva da Costa, o tenente reformado Maurição; Ronald Paulo Alves Pereira, o major da PM conhecido como Major Ronald ou Tartaruga; Laerte Silva de Lima; Manoel de Brito Batista, o Cabelo; e Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio.
A Justiça também expediu mandado de prisão para o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, que está foragido. A mãe dele, que trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foi uma das citadas no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como uma das pessoas que fizeram depósito na conta do ex-motorista do senador eleito, Fabrício Queiroz. Ela aparece na folha salarial da Alerj com vencimento de R$ 5,1 mil e o depósito foi no valor de R$ 4,6 mil.
Em nota, Flávio disse que a mãe do ex-capitão do Bope, foragido da Justiça, foi uma indicação direta de Queiroz e que ele não pode ser responsabilizado por fatos até então desconhecidos. O advogado de Queiroz confirmou as indicações e afirmou que “se solidarizou com a família que passava por grande dificuldade, pois à época ele (Adriano Magalhães) estava injustamente preso, em razão de um auto de resistência”.
Antes de empregar a mãe e a esposa do ex-Bope, Flávio Bolsonaro homenageou Adriano Magalhães da Nóbrega. Em 2003, o então deputado propôs moção de louvor e congratulações ao militar por “serviços à sociedade com absoluta presteza e excepcional comportamento nas suas atividades”.
Em 2011, ele foi capturado na Operação Tempestade no Deserto, que mirou o jogo do bicho. Segundo o Ministério Público, o ex-capitão era o responsável pela segurança da chefe da quadrilha, Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldomir Paes Garcia, o “Maninho”, morto em 2004.
Em 2014, Adriano e o primeiro-tenente João André Ferreira Martins foram demitidos da PM, considerados culpados nas acusações de associação com a contravenção.
Relação com morte de Marielle não é descartada
A operação Os Intocáveis não tem relação direta com as investigações com a morte de Marielle e Anderson, mas pode abrir novos caminhos para a Delegacia de Homicídios (DH) da capital. Dois alvos da ação do MP e da Polícia Civil nesta terça-feira, Ronald e Adriano, chegaram a ser ouvidos como testemunhas na apuração do crime contra a vereadora carioca.
A promotora de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Simone Sibilio, disse que o caso Marielle não é objeto dessa investigação, mas não descartou investigação a partir das prisões. “Essas pessoas todas, alvos dessa investigação e dessa operação, nós não podemos afirmar, nesse momento, que tem relação com o caso Marielle e Anderson. Nós também não descartamos”.
Principal foco da operação desta terça foi de Rio das Pedras que saiu o carro com os assassinos de Marielle e Anderson, segundo imagens obtidas pela DH.
Para o MP há fortes indícios de que a vereadora atravessou o caminho dos milicianos, o que acabou resultando em sua morte.
Flávio Bolsonaro
Flávio Bolsonaro / Divulgação
“Único problema do Flávio é o sobrenome”
O presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, afirmou nesta terça-feira que o “único problema” de Flávio Bolsonaro é o “sobrenome”. Mourão deu a declaração ao ser questionado sobre as movimentações financeiras atípicas do senador eleito e Fabrício Queiroz.
Mourão tem afirmado que o caso envolvendo Flávio e Queiroz não é problema do governo, mas, sim, do senador eleito e do ex-motorista. “O problema é dele (Flávio). Mas o que acontece? Há essa repercussão toda pelo sobrenome dele. Assim como ele, tem mais outros 25 lá da Assembleia Legislativa investigados por problemas similares”, declarou.
Na semana passada, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a um pedido de Flávio Bolsonaro e determinou a suspensão temporária das investigações envolvendo as movimentações atípicas.
O filho de Jair Bolsonaro argumentou que as regras foram “burladas” e, segundo Fux, se o processo não fosse paralisado, as provas poderiam ser anuladas posteriormente.

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