Rafael Diniz: mudança na equipe e meta de redução da folha em 20%
Aluysio Abreu Barbosa e Paula Vigneron 08/01/2018 17:49 - Atualizado em 09/01/2018 13:56
A população de Campos acertou quando nos elegeu prefeito em 2016”. A declaração de Rafael Diniz (PPS) está ao final destas seis páginas de entrevista, no balanço do seu primeiro ano de governo. Para o 2018 que se inicia, ele revelou algumas metas, entre elas a redução da folha dos servidores em 20%, a partir da instalação do ponto biométrico, ainda no primeiro semestre. Também confirmou duas inciativas que já haviam sido adiantadas por seu assessor especial, César Tinoco, em outra entrevista à Folha: a entrega do Hospital São José, promessa da ex-prefeita Rosinha Garotinho, que não foi cumprida em oito anos de gestão; além da volta do Restaurante Popular do Centro. Como novidade, ele anunciou a ampliação da iniciativa, com a instalação de um Restaurante Popular também em Guarus. Embora tenha defendido sua equipe de governo, o prefeito anunciou mudanças “já, já”.
Antônio Leudo
Folha da Manhã – Em 6 de janeiro do ano eleitoral de 2016, a Folha publicou um editorial de capa. Ele foi fruto de um levantamento feito nos quatro meses anteriores, que definiu os cinco princípios que campista, então, gostaria de ver no próximo governo: transparência, diálogo, planejamento, eficiência e parcerias. Tirando as parcerias, onde realmente houve avanços, na transparência e no diálogo, embora o governo diga que exista, há questionamentos. Mas é no planejamento e na eficiência que parecem residir os maiores problemas da sua administração. Qual a sua avaliação e como melhorar?
Rafael Diniz – Quando vê os princípios levantados lá atrás, a gente vê que avançou muito nesses princípios durante esse primeiro ano de gestão. Obviamente que a gente entende alguns apontamentos divergentes daquilo que a gente acredita, e nossa gestão respeita a outra opinião, contrária ou não. Mas eu posso afirmar que a gente avançou, sim, em todos esses princípios. Alguém pode, de repente, discordar se há ou não diálogo. Mas o que é diálogo? Diálogo é dizer “sim” sempre ou é sentar à mesa e abrir oportunidade para a gente propor e ouvir ideias, mas, no final, tendo a liberdade e o direito de poder dizer “sim” ou “não”? Então, a gente fica satisfeito de ouvir princípios levantados lá atrás que, em minha opinião, a gente vem cumprindo, sim: transparência, diálogo. Com relação à eficiência e ao planejamento, eu posso afirmar que nós temos, sim, um governo eficiente e de planejamento. Muito embora, às vezes, a gente não consiga mostrar isso com facilidade por todos os problemas que nós temos, que herdamos e temos que resolver. Por mais que você seja um governo de planejamento, você precisa de tempo para poder elaborar esse planejamento; você precisa de informação para poder elaborar esse planejamento; você precisa de condições financeiras para garantir que esse planejamento seja realmente realizado. Vou dar o exemplo sempre na Participação Especial (da produção de petróleo) de agosto, que a nossa gestão, em cima de uma projeção feita pela própria ANP, esperava R$ 16 milhões a mais, quando vieram R$ 16 milhões a menos. Ou seja, qualquer planejamento que você tivesse feito em cima daquilo que já estava posto acaba não acontecendo, e não por culpa nossa. Por exemplo, em 2017, tivemos que administrar com um orçamento que não foi elaborado por nós. Que vai ser diferente agora, em 2018, muito embora a ideia e o projeto já aprovado de termos R$ 2 bilhões não significam, necessariamente, que teremos R$ 2 bilhões. Uma peça orçamentária aprovada é uma previsão orçamentária.
Folha – Falando em planejamento, você não acha que os cortes em programas sociais, como Restaurante Popular, Cheque Cidadão e Passagem Social, e, agora, na questão do 13º, não teriam menos impacto negativo se houvesse planejamento na divulgação, chamar os afetados para conversar? Não acha que o governo pecou nisso?
Rafael – O governo é feito de acertos e erros, como qualquer governo, e a gente tem a humildade para reconhecer quando há erros. A gente, de imediato, chama as categorias ou um grupo determinado que seja, ou vai a público, para a população, para dizer onde erramos e como vamos consertar esse erro. Esse é o primeiro ponto. É uma das marcas do nosso governo: ser muito transparente com o que fazemos e admitir onde erramos e onde precisamos acertar.
Folha – Você acha que errou nisso?
Rafael – Nós fizemos as suspensões, e alguns preferem entender como cortes, naquilo que foi necessário. É importante a gente entender a realidade financeira do município. Nós temos uma cidade, hoje, que temos que administrar. E nós administramos, no primeiro ano, com metade do dinheiro e não pegamos empréstimo. E ainda pagamos o empréstimo contraído pela outra gestão. Olha o tamanho do nosso desafio. Mesmo assim, com problemas e questionamentos, a gente fez a cidade acontecer. A gente fez a cidade funcionar. Com relação aos programas sociais, é importante a gente pensar: qual foi o legado deixado por eles nesses anos todos? É a primeira pergunta. Diminuiu ou aumentou a desigualdade social? A gente sabe que aumentou. Diminuiu ou aumentou a violência em nossa cidade? A gente sabe qual é a realidade da violência na nossa cidade. Diminuiu ou aumentou o número de empregados e desempregados na nossa cidade? Esse é o primeiro ponto. Depois, as questões financeiras. Por todos esses pontos que eu já levantei, nós não temos condições financeiras de manter a cidade da mesma forma que vinha sendo mantida. Se deixaram tanta dívida com R$ 3 bilhões, como administrar a cidade com metade desse orçamento? Sobre o Restaurante Popular, é importante deixar claro que as pessoas que não têm o que comer continuam, sim, sendo assistidas pela Prefeitura, seja no Centro Pop, na secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, ou pelo fornecimento de cestas básicas. Quem deixou de utilizar o Restaurante Popular com a sua suspensão? O comerciário, que é empregado e trabalha no próprio Centro; não tirando esse direito dele, mas a gente não pode confundir essa pessoa que tem seu salário, seu emprego, com aquela pessoa que não tem condições e continua, sim, sendo assistida. E, também, o universitário. Tenho respeito por todas as universidades e, com carinho especial, a UFF, que é localizada perto do Restaurante Popular e que, também, muitos alunos utilizavam. Mas a gente tem que fazer uma escolha. Eu precisava de dinheiro para poder garantir a merenda dos nossos alunos. É uma obrigação minha cuidar do nosso aluno. Então, a gente tem que fazer essa opção também, mas deixar claro que nós vamos voltar com o Restaurante Popular.
Folha – Seu assessor especial, César Tinoco, adiantou isso em entrevista à Folha. Será neste primeiro semestre de 2018?
Rafael – Se Deus quiser. Obviamente, encontrando um caminho para reduzir ao máximo ou reduzir os custos por parte da Prefeitura e buscando parceria para isso. E nós temos um desafio maior que, se Deus quiser, vamos alcançar também: levar o Restaurante Popular para Guarus. A gente não pode se limitar a fazer política com um programa que pode estar ajudando pessoas que precisam. Com um município imenso como o nosso, não podemos pensar apenas em uma região. E precisamos dar uma atenção especial a Guarus, que é uma região tão importante para a nossa cidade. Quando você atende Guarus, você atende uma boa parte da região. Então, se Deus quiser, dois restaurantes populares, com a gente encontrando parcerias para isso. No Centro e em Guarus.
Folha – Este ano?
Rafael – Se Deus quiser, vamos fazer o do Centro este ano. E, por que não, este ano também, o de Guarus? O Cheque Cidadão, nós transformamos em Cartão Cooperação. Nós desejamos, sim, voltar, mas temos que ter muita responsabilidade. Eu não posso voltar por um mês para, daqui a pouco, não ter dinheiro. Aí, entra a palavra planejamento. Eu tenho que ter certeza de que vou poder manter, dentro do meu planejamento, o programa que retornar. Transformamos no Cartão Cooperação porque nós temos que ofertar uma possibilidade de trazer essa pessoa para um novo ambiente, de qualificação profissional, de oportunidade de emprego. Essa é a nossa intenção com o Cartão Cooperação, assim que nós tivermos condições. Mas, para isso, não vou estabelecer prazo para ser muito responsável com a população. O outro tema importante é a Passagem Social. A pergunta que a gente faz à população, quando pergunta qual foi o legado deixado pelos programas sociais, é essa: como estava o transporte público quando a passagem estava a R$ 1? Era no horário? Não, não era. Era com qualidade? Não, não era. As reclamações eram diversas. Faltava ônibus ou não faltava? Faltava em diversas localidades. Esse é o primeiro ponto. O segundo ponto: a Prefeitura tinha condição de continuar mantendo e subsidiando um programa como esse? A nossa gestão se manteve em dia com o programa social, mas de que adiantava eu pagar a empresa, tirando dinheiro que eu poderia aplicar para a nossa própria população? A mesma população que utiliza a Passagem Social. A gente pagava à empresa, e a empresa não pagava ao funcionário dela. E o funcionário entrava em greve. O sistema não funcionava, estava falido há muito tempo e precisava ser revisto. Há um diálogo que eu faço junto a dois grandes técnicos que temos a respeito desse assunto na Prefeitura: o presidente do IMTT, Renato Siqueira, e o secretário da Transparência e Controle, Felipe Quintanilha, que têm formação nessa área de mobilidade urbana. Nós temos esse desafio e vamos resolver, de uma vez por todas, a questão do transporte público em Campos.
Folha – Como? Quando?
Rafael – Não vou estabelecer um prazo, mas nós já conversamos. O simples fato de rever o programa social, entendendo e dialogando com todos os setores...
Folha – Mas é uma coisa para o seu governo ainda?
Rafael – Para o meu governo ainda. Para a gente resolver, de uma vez por todas, e avançar bastante na questão do transporte público.
Folha – E os dois restaurantes populares são projetos para este ano?
Rafael – O do Centro é para este ano. E, se Deus quiser, o de Guarus, vamos tentar para este ano, mas sendo muito responsáveis.
Folha – Ainda que não seja este ano, o de Guarus será na sua gestão?
Rafael – Isso.
Folha – Mas, quando falamos de planejamento, isso também se aplicar à comunicação da demanda desses cortes à população...
Rafael – Perfeito.
Folha – Quando você tomou pé da situação em que estava a Prefeitura, Quintanilha gravou um vídeo que deu muita repercussão. Falo nesse sentido: em explicar a necessidade desses cortes.
Rafael – Quando você assume uma cidade em que nunca houve gestão, porque tinham R$ 3 bilhões, R$ 2,5 bilhões, R$ 2,4 bilhões, R$ 2 bilhões e, ainda assim, contraíram empréstimos e deixaram muitas dívidas, você não via gestão ali. Você não via eficiência tampouco planejamento. Quando você assume uma cidade desordenada, como nós assumimos, no início de 2017, por mais que você queira e acredite no planejamento, por mais que você tenha um diálogo permanente com as pessoas, inclusive ofertando informação prévia, você precisa, enquanto gestor, tomar decisões imediatas. Até porque a questão financeira é diária. Eu sento com meu secretário de Fazenda pela manhã, faço um planejamento e, pela entrada de receita não se cumprir, e que não depende da gente, eu tenho que mudar o planejamento na noite do mesmo dia. Então, muitas decisões, nós tivemos que tomar exatamente pela questão financeira.
Folha – Mas não houve tempo de você fazer uma semana de comunicação, por exemplo?
Rafael – Quando há tempo, a gente faz. Vou dar um exemplo da questão do 13º. A gente segurou ao máximo para dar a resposta de quando e como a gente conseguiria pagar, esperando uma entrada de royalties. A previsão era de que os royalties entrariam apenas a partir do dia 26, ou seja, o primeiro dia útil depois do Natal. E todo mundo nessa expectativa. Eu fui a Rio das Ostras, acompanhado do secretário da Transparência e Controle e do superintendente de Inovação Tecnológica, Quintanilha e Romeu e Silva Neto, para a reunião da Ompetro. No meio da reunião, todos os prefeitos souberam, naquele exato momento também, que os royalties entrariam. Então, não foi uma novidade para mim. Foi novidade para todo mundo. E que entrariam no próximo dia. Ou seja, a reunião foi numa quarta para o dinheiro entrar na quinta. Nosso deadline foi na terça-feira, para avisar, às vésperas do Natal, como faríamos o pagamento, já esperando por esses diálogos que nós temos com todos os municípios, que o dinheiro só entraria dia 26. Bom, uma resposta, eu preciso dar às pessoas. Eu tentei segurar ao máximo, esperando essa receita. E nós informamos. Aí, os royalties entraram. Bom, vou ter que mudar meu planejamento, ainda que para melhor, mas vou ter que mudar a comunicação. De imediato, eu pego o telefone e ligo para o secretário de Fazenda. Peço para ele refazer os cálculos. Nosso primeiro objetivo era antecipar a folha, que seria paga no dia 28, para o dia 22 e conseguir pagar uma folha de RPA. Para que isso? Para pagar aos servidores, que precisam e têm que receber. Mais que isso: para que eles tenham condição de receber antes do Natal. Ou seja, a gente antecipou um pagamento que sempre vinha fazendo no último dia útil do mês e aquecer, também, a economia nesse momento especial que é a festa de Natal.
Folha – Então, a gente pode entender, por tudo que você está falando, que essa campanha de conscientização não foi feita pela falta de tempo?
Rafael – É tudo muito em cima quando você pega uma cidade desordenada. Então, você tem que tomar decisões imediatas para resolver um problema daqui a três dias. Aí, pesa. Por que pesa? Você vai ter coragem para tomar a decisão, por mais difícil que ela seja, ou você vai ficar demorando a tomar aquela decisão, quando ela precisava ser tomada de imediato? Eu prefiro tomar a decisão de imediato porque preciso resolver aquele problema. É por isso que a gente decide. E, quando há possibilidade de discutir previamente, a gente discute, chama várias categorias para discutir com elas.
Folha – Essa falta de comunicação prévia não torna a medida mais dolorosa?
Rafael – Sem dúvida nenhuma. Só que você tem que entender que há possibilidade da comunicação prévia e, às vezes, não há. O que há é uma necessidade de resolver de imediato. Tanto que mantivemos a Passagem Social, o Restaurante Popular, no início. Nós mantivemos o Cheque Cidadão, que foi transformado em Cartão Cooperação. Depois de um estrangulamento financeiro, que já era previsto, nós não tivemos condições de fazer. Essa foi a nossa realidade. E é importante lembrar a condição financeira do município e que, se você tem uma previsão financeira, você tem que esperar se ela vai realmente se concretizar ou não.
Folha – Como foi feita a escolha da suspensão de alguns programas sociais? Como selecionou o que seria suspenso?
Rafael – A gente selecionou tudo aquilo que era necessário ser revisto, que precisava ser melhorado por questões judiciais, e está aí a resposta do antigo Cheque Cidadão.
Folha – A operação Chequinho.
Rafael – Um uso eleitoreiro daquela máquina de forma muito irresponsável. O primeiro ponto é esse. Segundo, se havia necessidade de manter para as pessoas que realmente precisam, como a gente está garantindo que as pessoas que realmente precisam ser atendidas, que eram atendidas pelo Restaurante Popular, elas continuam sendo atendidas. E por uma necessidade técnica também, como, por exemplo, o transporte público. E, por óbvio, a questão financeira, que é a principal delas.
Folha – Na sessão de abertura dos trabalhos da Câmara, em 15 de fevereiro de 2016, você pediu “um ano para colocar a casa em ordem”. Se sofreu muitas críticas pela extensão do prazo, ele está para vencer e a sensação geral, um ano depois, é de que a casa ainda não está próxima de ser colocada em ordem. A paciência do campista não começa a dar claros sinais de desgaste? Seria possível pedir mais prazo?
Rafael – A gente, primeiro, tem que entender que, lá atrás, quando eu recebi críticas ao dizer o prazo de um ano, eu procurei ser o mais responsável possível, como venho procurando ser com acertos e erros. A gente já imaginava e já sabia da grande dificuldade. Por isso, a gente colocava o prazo de um ano. Só que, quando você não tem informação e transição, e você adquire as informações ao longo do processo de administração, você vê que o problema é muito maior do que aquele que você imaginava, por não ter acesso. Uma completa ausência de transparência por parte da antiga gestão.
Folha – As pessoas alegam que, pelo fato ter sido vereador, você teria que ter uma ideia prévia do que estava ocorrendo. Você tinha?
Rafael – A gente conseguia ter uma ideia superficial, como qualquer cidadão tinha, uma vez que eu apresentava todos os requerimentos de informação e eles eram negados. E o segundo ponto, que, hoje em dia, na nossa gestão, quando há um pedido de informação, a gente responde ao vereador, independente da bancada de que ele seja. A gente envia o secretário à Câmara para poder tirar dúvidas de todos os parlamentares, seja da bancada da oposição ou da situação. Campos vivia com uma cortina de fumaça. Uma maquiagem. O cidadão não sabia realmente o que acontecia. Tinha dinheiro de sobra e, no final, faltou para tudo.
Folha – Enquanto vereador, não via através dessa “cortina de fumaça”?
Rafael – Exatamente como era, não. Muitas informações, a gente buscou ao entrar na Prefeitura. Essa é a grande realidade. Qualquer cidadão passou a ter as informações reais quando a gente assumiu. Vou dar um exemplo muito claro. Aprovaram o projeto na Câmara, de “Venda do Futuro”, que, na verdade, não era aquilo que tinha sido aprovado, que é a questão dos 10% (limite dos royalties a serem cobrados). E que, com um belo trabalho da Procuradoria, nós conseguimos reverter. Está aí um grande exemplo. A população toda achava que pagaríamos apenas 10% do que entraria de royalties quando, na verdade, no contrato, era 30%.
Folha – Os próprios vereadores rosáceos acreditavam que a cobrança seria de 10%.
Rafael – Os próprios vereadores afirmaram para a imprensa que era apenas 10%. Essa é a grande questão. Mas Campos vivia em uma cortina de fumaça. Uma maquiagem. E ninguém realmente sabia o que acontecia. Nós chegamos e, ao invés de mantermos a sujeira embaixo do tapete, levantamos e começamos a limpar. E, quando você limpa a sujeira, todo mundo vê tudo. E essa é a nossa realidade hoje. A gente prefere acreditar na construção do alicerce. Se pegar o município e comparar a um edifício, ficaram fazendo as paredes sem pensar no alicerce. A parede vai cair. Botaram uma janela, construíram um andar. Mas ele vai cair porque não tinha alicerce. E sempre nessa cortina de fumaça. Nossa gestão optou: vamos fazer o alicerce. Que vai demorar, vai, mas nós temos que ter coragem para fazer. Esse é o nosso grande desafio. Infelizmente, o alicerce é aquela obra embaixo da terra, que ninguém vê. E, com todo o nosso respeito a uma população que está ansiosa por uma resposta rápida, é difícil você convencê-la de imediato. Vamos pensar nos últimos 30 anos, com royalties de sobra que não sobram mais hoje. Então, nós temos que acostumar a população a uma nova realidade. E essa realidade, a gente vem fazendo exercício diário de rever despesas, tentar buscar aumento de receita, que não é de imediato.
Folha – Objetivamente, você pediu o prazo de um ano, e esse prazo está vencido. Acha que a paciência do eleitor está chegando ao fim?
Rafael – Se você for pegar em nível de Brasil, todo mundo quer uma resposta rápida. Seja do governo federal ou dos governos estaduais. Aí, não vamos falar só do governo do Estado do Rio. O Estado de Goiás passa por uma rebelião. Rio Grande do Sul passa por dificuldade. O Norte passando por dificuldade. Vamos entrar no nosso município. Nós não somos o único município com dificuldade. Muito pelo contrário. A gente citou lá atrás, no meu primeiro pronunciamento na Câmara, com relação à necessidade de, pelo menos, um ano. O alicerce está sendo construído ainda. Ele não vai acabar da noite para o dia, até porque eu não quero fazer um alicerce qualquer. Com todo o respeito à necessidade de a população querer uma resposta, eu sei o que eu quero. A gente tem planejamento. E o planejamento é pagar essa conta de ouvir a crítica, de ouvir reclamação do cidadão que quer uma resposta rápida. Mas eu acredito no que estou fazendo. Esse alicerce demora a ser feito. Para quê? Para que eu e futuros prefeitos não precisemos viver com uma cortina de fumaça, com uma maquiagem. Quando pegarem a cidade, vão pegar uma cidade arrumada. Quando a gente melhorar, vamos melhorar com uma cidade arrumada, e não precisando voltar para resolver problemas que eram só para garantir eleições. Existe um desafio para o homem público, na crise, muito grande. E eu passei por esse desafio e fiz minha opção. Ou você escolhe a manutenção do seu nome público ou você escolhe a sua cidade, no momento de crise. Você não pode optar pelos dois. E eu prefiro a minha cidade ao meu nome público. Hoje, eu passo por questionamentos na rua de uma população que votou na gente em 2016. A gente entende esse questionamento, mas eu sei que estamos no caminho certo. Uma coisa, eu posso afirmar: o cidadão campista acertou em 2016, quando votou na gente. E votou maciçamente. Ele queria acreditar porque a gente defendia um modelo diferente. Ele queria um modelo diferente, só que aceitar esse diferente não é da noite para o dia, ainda mais uma população acostumada com esses 30 anos de abundância de recursos. Só que nós não temos mais essa abundância. Aí, qual é minha opção? Eu me acovardar e não tomar as medidas que sejam necessárias para preservar o meu nome político, como sempre fizeram? Fizeram a cortina de fumaça, a maquiagem para preservar os nomes políticos e destruíram a cidade. Porque tinham R$ 3 bilhões e deixaram o que deixaram. Essa é a grande verdade. Eu tenho R$ 1,6 bilhão (em 2017). Eu tenho que tomar as decisões difíceis. E, quando eu faço uma opção de uma decisão, de, por exemplo, pagamento de um serviço essencial, necessariamente, eu estou deixando de pagar outro serviço, também essencial. Eu não estou construindo um Cepop e uma Cidade da Criança. Falta medicamento? Obviamente. Não faltava antes, quando tinha dinheiro de sobra? Vamos tocar na Saúde como exemplo. Você está satisfeito com a Saúde que você tem? Lógico que eu quero uma Saúde muito melhor. E nós vamos ofertar a melhor Saúde do interior do Estado. Eu não tenho dúvidas. Nós estamos nesse caminho, por mais difícil que seja. A questão é: uma Saúde que sempre sobrou dinheiro. Pagava mal? Paga de novo. Comprou mal? Compra de novo. Gastou mal? Gasta de novo. Essa era a realidade do passado. Hoje, não. Hoje, eu não tenho tempo para isso. Hoje, eu tenho tempo para fazer o quê? O que precisa ser comprado? Temos dinheiro para quê? Então, vamos fazer as opções. É o remédio do HGG? É o insumo do Ferreira Machado? Mas faltam medicamentos e insumos para as UBS. E as nossas UPHs? Essa é a realidade. Se nós pensarmos, foram mais de seis milhões de procedimentos na Saúde, no ano passado. Aumentou a demanda e diminuiu o recurso. Nós temos um país em crise onde as pessoas não conseguem mais sustentar seu plano de saúde e precisaram abandoná-lo e recorrer à Saúde pública. Aumentou nossa demanda. Se nós estamos em crise, imagine os municípios vizinhos. E se os municípios vizinhos sempre dependeram da Saúde de Campos, imagine com eles em crise. Eles vão depender mais ainda. Ou seja, eu tenho uma demanda de Saúde muito maior. E, além disso, tenho o dinheiro pela metade. Como fazer? Com coragem. Tomando as medidas que são difíceis. Mas, mesmo com toda essa dificuldade, nós entregamos a UPH de Travessão, uma obra abandonada há quatro anos que nós devolvemos para a população.
Folha – A UPH de Travessão ainda vai ser inaugurada oficialmente.
Rafael – Mas já está funcionando. Porque nós temos uma preocupação: ou a gente vai lá para soltar fogos, como faziam, ou bota as coisas para funcionar? E, no dia 28 (de dezembro), à noitinha, a UPH de Travessão já estava funcionando e recebendo a população que não é só de Travessão. Se nós pensarmos, todas as regiões são atendidas. São nove mil atendimentos mensais na UPH de Travessão. Uma frase que me marcou foi a seguinte: “parece que eu estou em um serviço particular”. Não. Você está em um serviço público. E, a partir de agora, vai ser assim. E nós vamos entregar agora, no início do ano, o Hospital São José, uma obra parada também, que vai atender toda a nossa Baixada.
Folha – Que foi uma promessa da primeira campanha de Rosinha, ainda em 2008.
Rafael – E no segundo ano da nossa gestão, com toda a dificuldade financeira e metade do dinheiro, nós vamos entregar.
Folha – Quanto ao orçamento, você falou em R$ 1,6 bilhão, e a previsão orçamentária, para este ano, é de R$ 2 bilhões. Em uma conversa com Quintanilha, foi feita a pergunta: “você acha que vai ser menos pior?”. Ele respondeu: “vai ser muito melhor”. Endossa as palavras dele?
Rafael – Eu acredito muito na minha equipe. A equipe vive a realidade diária com a gente. Quando o secretário de Transparência e Controle afirma que vai ser muito melhor, é porque ninguém vai viver de novo o ano de 2017. Nenhum gestor vai viver, como Campos nunca viveu um ano como 2017. Com um grande exemplo lá de trás, eu busquei minha avó e perguntei qual era a realidade quando Campos não tinha royalties na administração do ex-prefeito Zezé Barbosa (1930/2011), meu querido avô, e a cidade era muito bem administrada. Minha avó falou: “Rafael, a cidade não era do tamanho que é hoje”. Essa é a grande questão. A população não estava acostumada com tanto serviço ofertado pela cidade como foi nesses últimos anos. Os últimos gestores, pela sobra de royalties, puderam dar o que quiseram, sendo bom ou ruim. E, hoje, a gente precisa trazer a sociedade para uma nova reflexão: primeiro, o que o poder público tem condições de ofertar? Segundo, o que a gente realmente quer? É uma Passagem Social que seja dada de qualquer maneira, para o transporte continuar ruim? Ou é rever o programa de uma vez e de verdade? Um antigo Cheque Cidadão, que hoje é Cartão Cooperação, dado de qualquer forma para garantir eleições? Ou é um Cartão Cooperação dado para ajudar as pessoas que realmente precisam, mas inserindo elas no mercado de trabalho? É um Restaurante Popular que atenda, realmente, com regularidade e com critérios as pessoas? É isso tudo que a gente tem que fazer. Então, eu acredito que vai ser um ano menos difícil do que o ano de 2017. Como eu dependo de uma realidade orçamentária ser cumprida, realmente ser efetivada e acontecer, eu prefiro esperar. O cidadão campista está cansado de falsas promessas. Quando eu falei que ia entregar a UPH de Travessão, eu entreguei. Se estou falando que vou abrir o Hospital São José, é porque eu vou abrir. Se vai ser muito melhor? Espero eu que seja. O cidadão campista merece que seja.
Folha – Tem prazo para o São José?
Rafael – Se Deus quiser, no início do ano. Primeiro semestre, com certeza. Eu não tenho dúvida de que o pior já passou, ainda que o ano de 2018 seja difícil.
Folha – O grande gargalo de despesas da Prefeitura é folha de pagamento e custeio. Dos R$ 127 milhões de receita corrente mensal, entre R$ 95 a 100 milhões vão para folha e custeio. O pagamento dos servidores come cerca de R$ 75 milhões/mês, enquanto o custeio chega a R$ 45 milhões. O déficit, que já abaixou em 2017, hoje é cerca de R$ 20 milhões mensais. Em 2018, como abaixar ainda mais essa conta?
Rafael – Essa é uma grande necessidade de reforma que a gente precisa fazer, inclusive dentro da folha do servidor efetivo. Ao longo de 2017, nós convidamos o servidor, constantemente, para esse novo debate, para essa nova realidade financeira. A gente não convida o servidor para rever carga horária, gratificação, condições simplesmente porque a gente quer. É porque a gente entende que é necessário para readequar a uma nova realidade financeira. A gente precisa enxugar a folha como um todo. Eu lembro muito bem, no início da nossa gestão, que a oposição falava que a gente não pagaria a folha de março, a de abril. E mantivemos, com todos os esforços e metade do dinheiro, sem pegar empréstimo e pagando empréstimo deles, a folha dos doze meses, conseguindo dar entrada no 13º e já programando o pagamento do restante, que a gente vai fazer nos próximos meses. Se a gente pensar que tem o custeio desse tamanho e com uma folha desse tamanho, o servidor precisa entender essa nova realidade. Eu tenho o maior respeito pelo servidor. Eu sou servidor público. Uma última pesquisa levantada e que foi apresentada, mostrava que a diferença de salário de um trabalhador da iniciativa privada para o trabalhador público federal é de 67%. Nós precisamos rever. Não é rever porque eu quero. É porque há necessidade de garantir o pagamento, em dia, daquele servidor. Essa é a grande questão. Nós temos uma folha muito inchada e nós precisamos desinchar, inclusive para termos condições de pagar todos esses gastos com relação ao próprio custeio, manutenção de serviços básicos da nossa população.
Folha – Segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o alerta do gasto com pessoal é aceso quando consome 48,6% da receita líquida. O “limite prudencial” é de 51,30%. E, se chegar a 54%, configura improbidade. Hoje, Campos consome aproximadamente 52% da sua receita com pessoal. Em Macaé, a implantação do ponto biométrico eletrônico gerou 13% de demissão de profissionais, que claramente faziam serviço público de “bico”. Já aprovada na Câmara de Campos, desde 8 de agosto de 2017, quando finalmente o ponto entrará em vigor aqui? E qual a expectativa de redução dos quadros?
Rafael – Eu acho que a gente tem que ser muito responsável. Quando pensa em uma expectativa, eu espero que ele reduza, pelo menos, 20%.
Folha – Em Macaé, foi 13%.
Rafael – Mas a gente tem que pensar mais até porque a folha de Campos é maior. Nós temos que pensar em reduzir, sim, em pelo menos 20%. Se for mais, melhor, mas reduzir em pelo menos 20%. Colocar o ponto biométrico não significa perseguir ninguém. Muito pelo contrário. É valorizar aquele que realmente cumpre horário, que vive do serviço público, que acredita no serviço público. Isso que é o ponto biométrico. Eu escuto isso de muitos servidores. “Poxa, prefeito, eu quero que coloque ponto biométrico porque eu cumpro meu horário.” Mas não é perseguir ninguém. Hoje, a gente tem uma relação com o servidor público municipal que não é fácil de ser levada. Porque, quando você precisa enfrentar questões que desagradam, ninguém quer ser desagradado
Folha – Quando o ponto biométrico será instalado?
Rafael – No primeiro semestre, a gente vai resolver isso, se Deus quiser.
Folha – Na enquete popular publicada na edição da Folha do último domingo (31/12), além dos problemas que vinham do governo anterior, como a Saúde, outros se apresentaram, como emprego. Como você vê essa nova demanda?
Rafael – O emprego é uma demanda de toda a população. Não é um desejo só do campista, mas de toda a sociedade brasileira. A gente trabalha, hoje, com uma superintendência de Trabalho e Renda que pensa em quê? Bom, nós temos, primeiro, que garantir que as pessoas tenham a sua carteira de trabalho. Não tem como bancar cursos pela dificuldade financeira, mas nós buscamos parcerias. A superintendência, através do Gustavo Matheus, buscou parcerias público-privadas, com empresas, para poder trazer descontos para a nossa população. Temos trabalhado no desenvolvimento econômico para fortalecer nossas empresas locais. Aí, a gente pode falar da nossa grande parceria com o Sebrae para fortalecer e qualificar não apenas os nossos profissionais, mas também as empresas para fornecerem para a própria Prefeitura e estarem prontas para enfrentar o mercado de trabalho. Isso está sendo enfrentado pela criação da Casa do Empreendedor, buscando a desburocratização do serviço e a qualificação dos nossos empresários. E, mesmo neste momento de dificuldade, Campos, hoje, restabelece o Fundecam, trabalhando com o microempreendedor, garantindo a qualidade para as pessoas e investimento de R$ 500 mil para 147 processos de microcrédito. Quando você fortalece o microcrédito, você formaliza aquela pessoa. Você gera oportunidade de emprego para ela, para outras pessoas que ela pode vir a empregar e, mais que isso, você gera receita e renda no nosso município.
Folha – Além do emprego, o que também parece ser um problema de 2017 é a aparência de abandono da cidade. Na enquete da Folha, populares disseram: “A limpeza está ruim, os jardins estão cheios de mato”, e “Muita sujeira na cidade”. De fato, as deficiências na coleta de lixo e na manutenção dos jardins e praças, como a falta de reposição de lâmpadas na iluminação pública são a realidade diária mesmo nas áreas centrais da cidade. Como a situação chegou a esse ponto e o que fazer para normalizá-la o mais rápido possível?
Rafael – Você citou alguns exemplos de serviços essenciais: limpeza, a própria manutenção de jardins e praças, que é, sim, questão de visibilidade e organização da cidade. Você citou a questão da iluminação. Serviços essenciais. Só que, ao lado desses serviços essenciais, eu tenho merenda, remédio...
Folha – Quem citou foi a população.
Rafael – Você citou, agora, em relação aos leitores. Remédio, insumo, home care e tantos serviços essenciais de que a população depende. Nós temos um único dinheiro para isso tudo. Vamos citar a limpeza. Tínhamos um contrato de R$ 8 milhões com a Vital. Tentamos manter, mas é impossível. Precisamos reduzir para adequar um novo contrato a uma nova realidade financeira. Para quê? Para que eu tivesse condições de falar com a empresa: “eu tenho condições de te pagar em dia, mas só tenho condições de pagar tanto em dia”. A gente reduziu o contrato pela metade. Estamos mantendo esse contrato em dia. Por quê? Porque eu mantendo em dia, ele consegue manter o salário do trabalhador, do funcionário dele em dia. Ou seja, não há greve nem paralisação desse serviço. Mas, quando você reduz o valor o contrato, necessariamente, você reduz em serviço. Aí, você tem que fazer uma opção na hora do serviço: vamos manter a mesma coleta, a mesma varrição? Esse é um problema, e a gente tem que decidir. Diminuímos a varrição para ter condições de manter a coleta. Ou seja, é a manutenção de um serviço essencial, não como a gente gostaria, mas da forma que podemos garantir. Com relação à limpeza pública, é importante citar um ponto específico: é a parte do poder público, mas é a parte do cidadão também. De nada adianta eu colocar a empresa e manter o pagamento em dia, se a população não contribui. Não é porque eu tenho uma empresa de limpeza que eu vou jogar o lixo em qualquer lugar, que vou botar o entulho em qualquer lugar. Aí, a população quer que você conserte tudo de imediato, mas está jogando lixo na rua quando você tem o local para colocá-lo ou esperar a hora de colocar o lixo na rua para que o caminhão possa passar e recolher. Obviamente, a maioria não, mas alguns, infelizmente, sim. Ou seja, é uma missão de todo mundo. Eu venho de uma formação política, que é do meu avô Zezé Barbosa, de que a cidade era toda organizadinha. Esse é meu desejo. É isso que a gente vai fazer com Campos. Só que, agora, eu preciso fazer escolhas entre serviços essenciais para manter a cidade, no geral, funcionando. Então, eu tive que reduzir a limpeza um pouco para poder manter o remédio. Ou eu tenho que reduzir, às vezes, na limpeza para manter o insumo. E, por aí, quando você reduz em dinheiro o valor do contrato, você reduz a qualidade do serviço.
Folha – Seria correto supor que a Vital, a partir dessa redução do contrato, tem feito uma espécie de “operação tartaruga”?
Rafael – Não posso afirmar. Seria leviano da minha parte. Nosso debate com a empresa é constante, buscando que ela possa ofertar um serviço de qualidade, o máximo possível, dentro dessa nova realidade financeira.
Folha – E iluminação pública e manutenção de praças e jardins?
Rafael – Praça e jardim, para poder juntar, nós pegamos um contrato, anulamos, encerramos e trouxemos esse contrato para dentro da Vital.
Folha – Qual era a empresa?
Rafael – Emec. Ou seja, reduzido pela metade. Só que a gente, por essa dificuldade, reduziu e conseguiu incluir. Só que, ali, tem que fazer opção: ou eu vou fazer a coleta como estou fazendo, mantendo uma equipe fazendo o serviço de coleta, ou eu vou ficar tomando conta só de jardins. Infelizmente, não tem dinheiro, agora, para manter tudo. Então, tem que fazer opções. Só que, quando eu pego uma equipe e ela para, de repente, de fazer varrição, é para ela poder fazer o jardim. Mas, quando você faz o jardim em uma determinada área, está faltando varrição em outra. Um município de quatro mil quilômetros de extensão. E nós não temos mais dinheiro para manter um contrato daquele tamanho. A gente vai passar por redução contratual e, consequentemente, de serviço. Iluminação: pegamos um parque de iluminação abandonado na cidade. Fizemos um contrato emergencial para poder resolver o contrato como um todo e abrimos uma nova licitação. O trabalho estava sendo muito bem feito. Só que, quando a gente abre um processo licitatório, o emergencial acaba. Só que, por essas questões de recurso, impugnação e Tribunal de Contas, o processo está parado. E não é culpa minha. Se o processo está no Tribunal de Contas, eu não posso, simplesmente, no peito e na raça para fazer um processo qualquer. A gente está buscando alternativas para poder resolver o quanto antes e apressar, para que a gente tenha uma resposta imediata do Tribunal, dentro da legalidade, e possa solucionar. Uma coisa, eu posso garantir: assim que a gente solucionar, a gente volta a prestar o serviço para poder garantir uma iluminação pública de qualidade. É importante lembrar que a gente vem fazendo o trabalho, inclusive o próprio superintendente da Iluminação Pública, Daniel Duarte, sempre foi muito elogiado pela população e pelos vereadores. Só que não depende dele. Depende de um contrato. Quando ele começou a revisar todos os programas, por uma questão contratual e problemas licitatórios, o serviço parou. E, quando parou, mais uma vez, dá problema no parque de iluminação, que a gente precisa retomar de uma vez por todas.
Folha – Tem previsão para a resolução desse problema?
Rafael – Nos próximos meses, a gente já está resolvendo. Assim que o Tribunal de Contas nos devolver o processo, a gente termina esse processo licitatório da iluminação.
Folha – E da coleta de lixo?
Rafael – Tivemos uma reunião, hoje à tarde (de sexta, dia 5), sobre iluminação e coleta de lixo. A gente montando equipes próprias nossas para ver se consegue resolver problemas de imediato. Esses pontuais. A falta de varrição em uma localidade, a poda de algum jardim em outra localidade. Mas, infelizmente, agora, nós não temos dinheiro para isso tudo. Se eu, de repente, aumento o contrato com a Vital para garantir isso tudo, vai faltar dinheiro para outro serviço essencial. Então, hoje, o cidadão tem que entender que não temos mais o dinheiro que tivemos antes. E, em um esforço diário com a nossa equipe, nós temos que ficar decidindo. São escolhas de Sofia. Eu escolho uma e, necessariamente, estou deixando de escolher outra. Diariamente, nós estamos falando de serviços essenciais.
Folha – Tudo que você diz remete à analogia do cobertor curto.
Rafael – Sem dúvida nenhuma. Metade do dinheiro.
Folha – Quando você vai conseguir aumentar o tamanho desse cobertor?
Rafael – Na verdade, se a gente parar para entender, o cobertor só não foi mais curto pela nossa coragem. A gente enfrentou e decidiu tomar decisões difíceis. Se a gestão passada deixou os problemas que deixou, com o dobro do dinheiro, o que eles teriam feito se ganhassem a eleição com metade do dinheiro?
Folha – E sem que Chicão (candidato a prefeito do PR) pudesse reclamar.
Rafael – Essa é a grande questão. Eu tenho muito cuidado em citar o nome das pessoas, mas, já que Chicão era candidato, o que ele faria? Porque não é responsabilidade só dele. Vamos ser responsáveis com a pessoa. Se não fizeram com o dobro do dinheiro, o que fariam com metade? Eu estou administrando a mesma cidade, do mesmo tamanho ou maior, com metade do dinheiro. Com erros, acertos, problemas. Agora, com metade do dinheiro e sem pegar empréstimo. Porque, quando tiveram R$ 2 bilhões, pegaram empréstimo. Quando tiveram R$ 2,5 bilhões, pegaram empréstimo. Nós estamos com R$ 1,6 bilhão e não pegamos empréstimo. E ainda pagamos os juros do empréstimo adquirido por eles. Eu lembro muito bem quando eu era vereador, quando chegou a primeira mensagem (na Câmara) para adquirir os empréstimos, lá atrás. Diziam que os programas sociais só iam funcionar se tivesse empréstimo.
Folha – Foram três empréstimos.
Rafael – Diziam que o servidor só ia receber em dia se tivesse empréstimo. Diziam que os funcionários da Vital, com serviços de limpeza, só seriam mantidos se tivesse empréstimo. Bom, quando tinham R$ 2 bilhões, diziam que isso tudo só seria mantido se tivesse empréstimo. Nós temos R$ 1,6 bilhão, sem empréstimo, e estamos fazendo a cidade funcionar, com todas as dificuldades.
Folha – Mas a previsão orçamentária para 2018 é de R$ 2 bilhões.
Rafael – Previsão de R$ 2 bilhões, que eu espero que se concretize. Mas lembrar à população que, quando a Câmara aprova orçamento de R$ 2 bilhões, não significa, necessariamente, que teremos esses R$ 2 bilhões. Tomara que tenhamos. É uma previsão. O cobertor só não foi mais curto porque nós trabalhamos. Eu poderia estar pagando muito mais em relação aos empréstimos. Pagamos apenas, que é muito dinheiro, R$ 40 milhões. E a gente tem buscado aumentar a receita do município e, especialmente, uma parceria com o governo federal. O município de Campos era uma ilha fechada, que não dialogava com ninguém, a não ser quando tinha interesse. Hoje, não. Hoje, eu dialogo com todas as frentes e partidos. Por exemplo, o deputado federal da nossa região, que dialoga constantemente comigo, e que tem feito um grande trabalho apresentando emendas: Paulo Feijó. Qual é o partido dele? O partido dele (PR) é do grande adversário nosso na última eleição. A gente teve a humildade, coisa que ele mesmo afirma que outros prefeitos não tiveram, de entender que, ainda que seja um partido de oposição, nós temos que dialogar pelo bem da cidade. E ele tem sido um grande parceiro. Então, essa busca por parcerias com o governo federal, com parlamentares, tem sido muito importante para a reconstrução da nossa cidade e para melhoria de receita.
Folha – Outra crítica feita pelos populares ouvidos na enquete foi: “Ele precisa de uma equipe mais capacitada”. O questionamento foi feito também por alguns acadêmicos ouvidos na mesma reportagem da Folha: “Embora saibamos da sensibilidade do prefeito em agir justamente, seu corpo de assessores nem sempre produziu bons resultados”, disse a historiadora Sylvia Paes, da Universo. Enquanto o cientista político Hamilton Garcia, da Uenf, alertou ao “espírito de confraria, ao qual o atual prefeito parece atado”. A necessidade de contar com pessoas mais experientes na equipe é ressaltada até por aliados políticos. Não chegou a hora de ter mais “cabeças brancas” no governo?
Rafael – Nós temos, com todo respeito a quem tem “cabeça branca”, pessoas experientes, como nós temos pessoas novas também. A única diferença é que nós quebramos um paradigma. Novas pessoas surgiram nesse cenário. Nós não mantivemos, como muitos prefeitos, os mesmos secretários de sempre. Nós trouxemos novas figuras. E, quando a pessoa fala de uma questão de falta de experiência, a pergunta é uma só: qual foi a equipe que administrou a mesma cidade com metade do dinheiro e, mesmo assim, fez com que ela funcionasse? Foi essa equipe. Essas cabeças novas, aliadas às experientes, que estão aprendendo muito, que acertam, que erram. Mas foi essa equipe jovem que se colocou aqui para um grande desafio, porque essa é a maior crise da história de Campos. Mas, por óbvio, a gente acerta, erra e procura diálogo. A academia, por exemplo, e, aí, eu vou falar em nome da nossa superintendência de Inovação Tecnológica, através do Romeu, que é da academia; através da Sana Gimenes, que é da secretaria de Desenvolvimento Humano e Social e é da academia; através do Brand Arenari, que é nosso ex-secretário de Educação e só não está na gestão, hoje, efetivamente, porque passou em um concurso público (na UFF), e a gente precisa conseguir a liberação que, na academia, não é fácil. Estou dando alguns exemplos da academia que estão dentro da nossa gestão. A Suellen André de Souza, da Infância e Juventude, é da academia, do quadro da Uenf. Ou seja, a academia está dentro da nossa gestão porque nós privilegiamos uma gestão técnica. Esse é o primeiro ponto que mostra, de cara, a nossa aproximação com a academia. E outro ponto é o diálogo permanente com ela. Quantas parcerias com a Uenf, com o IFF, com a UFF. Diálogo permanente. Com a própria Cândido Mendes, se pensarmos em uma universidade privada. Com o Isecensa. Eu me formei na própria Cândido Mendes. O professor Rodrigo Lira, um dos grandes quadros da academia, é o responsável pela superintendência do Fundecam. Então, nós estamos próximos da academia. Meu pai tem uma grande história na Cândido Mendes, no meio universitário. Ele serve de exemplo para mim sempre quando a gente tem que buscar o diálogo com a academia. Mas, por óbvio, o fato de você dizer que garante diálogo não significa dizer “sim”, sempre. Então, nós não temos um grupo fechado. Tenho, sim, um grupo de amigos. Mas, aí, se deve a minha pessoa. Se, de repente, alguém de fora interpreta como uma confraria, é porque meu governo não é autoritário. Meu governo é de diálogo. Meu governo, quando as pessoas mais próximas, é de carinho, de atenção. Quantas pessoas eu nem conhecia na gestão e, hoje, são próximas a mim? Qualquer secretário tem direito de se aproximar, de dizer se concorda ou discorda. Qualquer cidadão comum tem direito de se aproximar, de entrar na Prefeitura, de ser atendido por mim e dizer se concorda ou discorda. Qualquer pessoa da academia, no caso, ou de qualquer classe, ou liderança de entidade, tem o direito de chegar até mim e conversar comigo neste ambiente que pode aparentar confraria. Mas não. É um ambiente de muita seriedade, de muito trabalho, mas que tem diálogo. Que tem respeito, equilíbrio e entende que ninguém é dono da verdade. Eu desafio: qual gestão conversa tanto com a sociedade como a nossa? A nossa gestão dialoga permanentemente com a sociedade, o que não significa dizer “sim”, sempre. Diálogo não é dizer “sim”, sempre. É sentar à mesa e dizer “sim, posso” ou “não, não posso” e dizer porque não pode. E, quando puder e não entender, abrir a oportunidade para que a pessoa te convença do contrário. E, me convencendo do contrário e sendo melhor para a nossa cidade, eu faço de imediato.
Folha – Você é conhecido pela lealdade e a relação de confiança com aqueles que trabalham contigo. Mas quando se confia em alguém que não está gerando resultados, no lugar de tentar insistir com ele, não seria mais inteligente chamar alguém mais capacitado à função, tentando construindo a relação de confiança com o passar do tempo?
Rafael – Eu concordo plenamente que isso é o princípio para todo mundo. Ter uma relação de confiança não significa, necessariamente, que aquela pessoa está habilitada. Todas as pessoas que nomeei, eu nomeei por acreditar na capacidade técnica delas. Em alguns lugares, surte o efeito que você queria que surtisse. Em outro, surte até além. Em outro, surte um pouco menos.
Folha – Pode exemplificar?
Rafael – Não. Acho que a gente tem que ser muito cuidadoso. Neste momento, estamos passando por reformulação também. Eu vou apresentar algumas reformulações já, já, para toda a sociedade campista.
Folha – Reforma de equipe?
Rafael – De alguns pontos da equipe.
Folha – Neste primeiro semestre?
Rafael – Sim. Em uma cidade, completamente arrasada pelo passado, você cobrar que a pessoa te dê um resultado de imediato, em um ano, é desumano. Eu não posso pedir. Se, anos e anos, dinheiro sobrando, ninguém resolveu aquele problema, tem que estar nas costas daquela pessoa resolver aquele problema? Não. Eu sou o tipo de prefeito que não joga a conta no meu secretário ou na minha secretária. Eu puxo para mim. Essa conta é minha. Nós temos que ter coragem de defender a equipe. A gente tem, em Campos, alguns exemplos que, na hora do sufoco ou da dificuldade, joga o outro para pagar a conta, joga o outro na fogueira. Eu não. Por isso que você citou, no início, que eu sou leal. Não é por uma questão de política. É por uma questão de formação humana. Se eu preciso que a pessoa esteja ao meu lado, eu tenho que mostrar lealdade e confiança nela. E estar ao lado dela para as dificuldades. Agora, eu sou o tipo de prefeito que sou muito questionado por isso também. Às vezes, prefiro estar na notícia difícil, na notícia ruim, e deixar o secretário dar a notícia boa. Mas é meu isso. Certo ou errado em questão de comunicação, eu prefiro enfrentar o problema. Campos, hoje, precisa ter um prefeito que não foge do problema. “Ele vem conversar comigo. Ele toma a decisão que precisa tomar. Ele não foge de conversar comigo na decisão difícil.” Campos precisa disso. Essa é uma das formas de desfazer essa cortina de fumaça, essa maquiagem de que falamos. O prefeito de Campos, hoje, tem coragem de tomar as decisões e puxa para ele o problema, para ele resolver.
Folha – Se você analisar o governo Rosinha, que durou oito anos, ficou muito claro que ela foi blindada, cabendo a Garotinho o papel de para-raio. Isso também aconteceu nas duas gestões de Arnaldo Vianna, quando cabia a Ilsan o ônus da antipatia. Para bem ou para mal, como disse há pouco, as coisas vão muito para você, que bate no peito ao falar isso. Não seria taticamente inteligente ter alguém para fazer essa proteção sua?
Rafael – É uma avaliação interessante essa. A minha equipe conversa isso várias vezes. Mas, aí, é da pessoa. É muito meu isso. Ainda que alguém possa avaliar, como estamos avaliando conjuntamente agora, que seria uma tática razoável, ou, de repente, melhor para a preservação de um nome, acho que o momento que a gente vive não é de preservação de nomes. É de coragem para fazer o que é certo. E, se a população foi à rua em 2016 e disse, mais de 150 mil pessoas, que queria o meu nome, eu não posso fugir das grandes decisões agora. Se eu defendo, para as pessoas, que decisões difíceis precisam ser tomadas, eu vou pedir que outra pessoa tome? Não. Eu tenho que tom

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