Devoção que dura séculos e se renova
06/01/2018 15:01 - Atualizado em 09/01/2018 15:27
Missas marcam a tradição
Missas marcam a tradição / Divulgação
Resgatar uma trajetória de devoção e fé de séculos. Registrar experiências de fé. Este é o trabalho iniciado há décadas pelo pesquisador de Cultura Popular, Ricardo Gomes. Tradições de uma comunidade que vive a cada ano a realização de mais uma festa de Santo Amaro. O Projeto Memória de Fé refaz o caminho iniciado há três séculos e preservado até os dias de hoje.
— Cresci vivendo essas experiências de fé de milhares de devotos que caminham para o distrito campista. Ainda recordo o velho sacristão Milton Neves com as histórias da composição da música do santo, inspirado nos painéis pintados na residência do Mosteiro de São Bento, no Alto da Boa Vista. Contava como compôs os versos e a melodia, eternizados pelos tempos. Milton era um homem simples, mas de grande sabedoria musical e vem de uma tradição de músicos do distrito. E ainda recordo que em minha infância passando pela igreja batia a porta e pedia. Abre a porta Santo Amaro. Recordações infantis, mas que me deram o incentivo de buscar um pouco dessas histórias — recorda Ricardo Gomes.
Para o pesquisador e jornalista é necessário o resgate desses fatos que marcaram a trajetória da devoção e festa. As pesquisam iniciam no Arquivo do mosteiro carioca. Nos jornais da cidade um pouco mais de informações e o registro de depoimentos, bilhetes colocados no altar, ajudam nesse resgate histórico. Com o projeto da criação do Santuário é necessário o aprofundamento das pesquisas para registrar um pouco desse caminho de fé percorrido pelos devotos vindos de várias partes do Brasil.
— É preciso registrar todas as experiências de fé vivenciadas por uma multidão de devotos. Pessoas de todas as classes sociais que colocaram as esperanças na devoção ao santo e ao conseguirem grandes graças não medem esforços para agradecer. Experiências de fé, marcadas pela dor, pelo sofrimento, mas alimentadas por uma esperança e uma certeza que na hora do desespero encontram no santo a certeza de que a quem confia nada é impossível — destaca Gomes.
Uma devoção que nasce de um legado de 370 anos. Foram os monges beneditinos que trouxeram na bagagem a imagem de Santo Amaro, e, daí em diante, a festa e a devoção espalhada por toda a região, pela cidade com uma comunidade de devotos, romeiros que trilham o caminho místico que chega a igreja no distrito campista. Um desafio vivido a cada ano. Da imagem em terracota atribuída ao monge Agostinho de Jesus foi o início da devoção até a que hoje se encontra no altar, trazida do Rio de Janeiro e obra de Frei Domingos da Conceição Silva, o santo de origem italiana continua sendo reverenciado.
— Refazer esse caminho. Resgatar as histórias e memórias é um desafio constante. Mas que vale o esforço. Afinal é uma festa de grande projeção nacional e uma das maiores do interior do Estado do Rio de janeiro, patrimônio espiritual e religioso da Baixada Campista. Afinal, Santo Amaro é um espaço devocional que reúne centenas de devotos nos primeiros dias de janeiro — conclui o pesquisador. (A.N.)

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