Encontro de Folias de Reis em Pádua
Jhonattan Reis 06/01/2018 02:49 - Atualizado em 09/01/2018 15:25
Divulgação
O tradicional Encontro de Folias de Reis abre oficialmente o calendário de eventos do município de Santo Antônio de Pádua neste sábado (6), data em que se comemora o Dia de Reis. Segundo a tradição católica, 6 de janeiro teria sido o dia em que Jesus Cristo, recém-nascido, recebeu a visita de magos do oriente, que seriam os Três Reis Magos. A festa contará com apresentações de folias paduanas e de municípios vizinhos. O encontro tem início às 18h e tem como cenário a praça Visconde Figueira, no Centro da cidade. Em Campos, a tradição de realizar eventos ligados à Folias de Reis vem se desgastado com o passar dos anos, conforme explicou a historiadora Sylvia Paes.
O encontro de Pádua contará 10 grupos. Antônio Faria Thomaz, popularmente conhecido como mestre Nico, é o principal organizador do evento. Segundo ele, são três de Pádua, cinco de Miracema, um de Bom Jesus do Itabapoana, um de Itaocara e outro de Pirapetinga, em Minas. Mestre Nico explicou como será realizada a folia.
— Iniciaremos com uma cerimônia no local, fazendo uma oração. Depois disso, faremos o cadastro de todas as folias presentes. Então, trocamos informações entre os grupos com cada mestre falando sobre o tempo de sua folia e outras coisas como as dificuldades que cada um tem. Depois, começam as apresentações, que seguem até por volta de 0h, sendo meia-hora para cada folia. Pretendemos reunir milhares de pessoas.
  • Folias de Reis em Pádua

    Folias de Reis em Pádua

  • Folias de Reis em Pádua

    Folias de Reis em Pádua

Hoje com 59 anos, mestre Nico contou que participa das folias desde criança e que organiza encontros em Pádua desde jovem.
— A tradição na minha família foi passando de geração para geração. Quem organizava era meu avô. Depois, ele passou para o meu pai e, desde quando meu pai faleceu, época em que eu estava com mais ou menos 22 anos, seguro esta responsabilidade.
Declínio na região — Mestre Nico comentou que está diminuindo o número de grupos Folias de Reis em Pádua. “Os encontros enfraqueceram um pouco. Eram 12 grupos aqui em Pádua em 2008, mais ou menos. No último encontro, o número caiu para cinco. Este ano, só restaram três”, disse.
O enfraquecimento acontece por vários motivos, explica ele. “Um deles é que os mestres foram morrendo e as novas gerações não seguiram com a tradição. E muitos grupos também param por conta de dificuldades. Os municípios ajudam pouco os grupos, que ficam enfraquecidos. Se não tiver lideranças nas cidades, como eu faço aqui, a cultura cai”, relatou Nico, que contou que, para fortalecer os grupos e a tradição, realiza oficinas para passar a cultura das folias à frente.
Campos — Na planície goitacá, também ocorre um declínio da tradição das Folias de Reis. “Nos últimos 20 anos percorri o interior da cidade, como áreas da Baixada Campista e outros distritos, a exemplo de Travessão, Morro do Coco e Santo Eduardo, e, nesses lugares, por décadas havia dezenas de grupos de Folia de Reis. Porém, com o tempo, quase todos desaparecerem. Hoje em dia, temos apenas um grupo, que é do Parque São José, em Guarus”, disse a historiadora, escritora e professora Sylvia Paes, que há vários anos realiza pesquisas sobre a Folia de Reis.
Em Campos, foi realizado, em agosto de 2017, um resgate da Folia de Reis durante a programação da festa do Santíssimo Salvador, em agosto. Antes disso, não acontecia um grande evento de Folia de Reis na cidade há vários anos. “O grupo de Guarus no máximo sai no próprio no bairro, como eles fizeram alguns anos atrás, ou vão para outras cidades próximas”.
Historiadora Sylvia Paes
Historiadora Sylvia Paes / Divulgação
Sylvia também comentou sobre os fatores que levam ao enfraquecimento da tradição das folias. “Um grande motivo é o distanciamento das vizinhanças, pois manifestações populares são realizadas por vizinhos e as Folias de Reis partiam muito dessa questão. Com o tempo, as pessoas começaram a morar em lugares distantes, em condomínios fechados e não se veem mais, não se comunicam muito. Outra questão é a da violência ligada ao tráfico de drogas, que não permite a saída das folias por conta da figura do palhaço, temendo que embaixo da máscara esteja alguém para espionar ou algo do tipo. Tudo isso enfraquece”.
Porém, o mais importante, explica Sylvia, é que as pessoas tenham vontade de seguir com a tradição. A historiadora explica que não acredita que o enfraquecimento tenha a ver com a falta de interesse dos jovens. “Estive num encontro de Folia de Reis em Muqui (município do estado do Espírito Santo), por exemplo, e o que vi foi grande participação e aceitação dos jovens. Por ser uma manifestação cultural, não afasta o jovem. Porém, é necessário que se formem grupos”, falou.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS