Folha viralizou
15/09/2017 00:37 - Atualizado em 18/09/2017 15:27
Ponto Final
Ponto Final / Ilustração
Folha viralizou
Como ilustra a foto publicada abaixo nesta coluna, a edição impressa de ontem da Folha, que dedicou especial atenção à prisão de Anthony Garotinho (PR) no dia anterior, teve uma capacidade de viralização real que nos tempos de hoje costuma se dar apenas com a comunicação digital. Como todos em Campos já sabem, o ex-governador e ex-prefeito foi condenado a nove anos e 11 meses de reclusão, pelos crimes de corrupção eleitoral, associação criminosa, supressão de documentos e coação no curso do processo, que tiveram como origem a troca de Cheque Cidadão por voto, na eleição municipal de 2016.
Lendo a Folha da Manhã
Lendo a Folha da Manhã / Paulo Pinheiro
Até que...
Até que a condenação seja julgada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), ou que a defesa consiga um habeas corpus no mesmo TRE, ou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Garotinho ficará confinado na “casinha na Lapa que papai deixou”, transformada em mantra pelo ex-governador, no decorrer da sua carreira política. Em prisão domiciliar, com uma tornozeleira eletrônica, ele está proibido de manter contato com qualquer pessoa, salvo familiares e advogados, como de fazer uso de qualquer meio de comunicação eletrônico, incluindo celulares e internet. E está sujeito a verificações sem aviso prévio da Polícia Federal (PF).
Rosinha ataca, mas não explica
Diante da impossibilidade do condenado de se comunicar, a ex-prefeita Rosinha Garotinho (PR) assumiu a conhecida metralhadora giratória do marido, que já foi mais temida no passado. Ela questionou o juiz da 100ª Zona Eleitoral de Campos, Ralph Manhães, responsável pela condenação penal na Chequinho, e chegou a chamar o promotor eleitoral Leandro Manhães de “chefe de quadrilha”. Mas não disse por que, nem explicou pontos que levaram à condenação, como o uso a “venda do futuro” para mais que dobrar o Cheque Cidadão em ano eleitoral, ou da “intimidação de testemunhas, inclusive com emprego de arma de fogo”.
O último da fila
Embora talvez o tenha feito melhor e com mais profundidade, a Folha não foi o único veículo que noticiou ontem a prisão de Garotinho. Entre os vários órgãos de imprensa de expressão estadual e nacional que noticiaram o fato, o jornal carioca O Globo lhe deu grande destaque, tanto no noticiário, como em opinião. Na sua capa de ontem, boa parte da dobra superior foi ocupada por uma charge de Chico Caruso. Nela, Garotinho é o último de uma fila de políticos presos em escândalos de corrupção, tendo à frente os ex-ministros Antonio Palocci (PT), José Dirceu (PT) e Geddel Vieira de Lima (PMDB), puxados pelo empresário Joesley Batista.
Da Planície ao Planalto
Na charge, com a fila de Garotinho, Palocci, Dirceu, Geddel e Joesley vestindo uniformes de presidiário, marchando cabisbaixos em frente ao Palácio do Planalto, quem de lá observa aparentemente preocupado, mas de terno, é o presidente Michel Temer (PMDB). A preocupação se justifica porque, no mesmo dia em que Garotinho foi preso no Rio e conduzido a Campos, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou por unanimidade, até com o voto do insuspeito ministro Gilmar Mendes, a improcedência da acusação de “perseguição” feita pela defesa de Temer contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Propinodutos
Com o sinal verde do STF, Janot ontem apresentou mais uma denúncia contra Temer, baseada na delação do doleiro Lúcio Funaro. Este afirmou que o presidente e seus principais assessores receberam vultuosas propinas da Odebrecht e da JBS. E se já não bastassem os problemas dos Garotinhos com o “escandaloso esquema” de compra de votos em Campos, Funaro também ligou o pagamento de propina ao ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB) e ao casal da Lapa. Quando atuava no fundo de pensão da Cedae, entre 2003 e 2006, no governo estadual rosáceo, Cunha receberia e compartilharia propina com Garotinho e Rosinha.
Questão de fé
Ontem, quem mandou mensagem de solidariedade a Garotinho foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No dia anterior, Garotinho foi preso, o STF liberou Janot, Funaro abriu o verbo e Lula depôs pela segunda vez ao juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba. Condenado a nove anos e meio de prisão no caso do triplex no Guarujá, ele respondeu pelas acusações de ter recebido propina da Odebrecht, numa das seis ações em que é réu, e chamou de “mentiroso” seu ex-homem forte, Antonio Palocci, que o delatou. Temer, Lula e Garotinho sustentam a mesma defesa básica: são alvos de “perseguição”. E há quem creia.

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