Preço do leite assusta no caixa
17/07/2016 11:07

Dora Paula Paes
Fotos: Michelle Richa

O preço do leite em caixinha está de assustar o consumidor final, na faixa dos R$ 4,90. No campo, a realidade é bem outra, madrugadas frias, correria para aumentar a ração do rebanho e, no final do mês, uma variação de R$ 1,20 a R$1,30 o litro, nas regiões Norte e Noroeste Fluminense. O produto e seus derivados subiram em média 25%, segundo acompanhamento mensal do Procon-Campos, muito acima da inflação. No caminho entre a indústria e as gôndolas dos supermercados a justificativa é o momento econômico. Sobrou até para os “pingadinhos” — mistura de café e leite — nas padarias.

De acordo com o Procon/Campos, o feijão ainda é item que mais subiu, ficando em média 30% mais caro, nos últimos quatro meses. Em seguida, aparece, o leite. O arroz também teve um aumento considerável, ficando 10% mais caro neste período.

— O leite que consumimos em casa teve um salto de mais de R$ 1,00. E não foi sozinho, levou o queijo, a manteiga, o iogurte e muitos outros produtos. Juro que estou preocupada. Cada vinda ao supermercado é um susto — disse a comerciária, Zilaia Silveira.

Fora dos supermercados, mais precisamente nas padarias, a inflação também chegou para quem não deixa passar uma tarde sem aquele pão com manteiga, acompanhado de uma xícara de café com leite. O gerente de uma panificação em Campos, Mauro Moço, disse que foi impossível não aumentar os preços em pelo menos 15% em alguns derivados do leite, desde o início do mês. “O saquinho de leite tipo C, que usamos, subiu 50%. Tivemos que reajustar o valor do nosso café com leite”, conta. O “pingadinho” passou de R$ 1,20, para R$ 1,50. Já a xícara de 250ml subiu de R$ 2,30 para R$ 2,80.

No caso específico do leite, a remarcação das etiquetas é esperada para essa época (junho e julho), pois no fim do primeiro semestre as chuvas diminuem, o que gera menos capim para as vacas, que produzem em menor quantidade. Porém, este ano a alta da inflação acentuou a subida de preço no período. Outro problema são os atravessadores.

 Hoje, existe a figura do atravessador, que compra o leite do produtor e o vende para os laticínios. Após a industrialização, o laticínio vende ao supermercado, e este ao consumidor, com um preço muito mais alto. Por isso, defendemos o sistema de cooperativa, é como se o produtor vendesse diretamente para a dona de casa. Sem o atravessador, o preço na gôndola cai — explica Carlos Marconi, supervisor do escritório da Emater-Rio em Italva, uma das maiores bacias leiteiras do Noroeste Fluminense.

Produtor pede mais valorização

Faça chuva ou faça sol, o pequeno produtor rural vive uma rotina para muitos inimaginável. O tamanho do rebanho leiteiro dita a hora desse trabalhador sair da cama, sozinho ou na companhia de ajudante. Muitos, às 2h da manhã já estão de pé. Botas, latões, baldes e nomes das vacas decorados na ponta da língua. Quanto mais calmas, mas leite são capazes de produzir. Na maioria dos currais do interior, onde a mecanização chegou, os bezerros foram apartados das mães desde à tarde anterior. O encontro é apenas para que a mãe sinta o cheiro do filho, que em muitos casos ficam amarrados ao lado durante o processo de esgotamento.

A cena pitoresca se repete todos os dias da semana. Mas qual é a real situação do produtor de leite? Segundo Carlos Augusto de Souza Alves, de São Francisco de Itabapoana, no Norte Fluminense, é péssima, sem apoio nenhum. “A vaca de leite a R$ 6 mil e o litro do leite a R$ 1.30 e a ração com um aumento absurdo. O clima não ajuda muito, com um longo período de estiagem. O sentimento é de tristeza em ver que o povo paga caro e o produtor recebe pouco. Se o campo não planta a cidade não come”, diz ele.

Em outra extremidade geográfica, o produtor rural de São Fidélis, Rogério Hentzy, quando questionado sobre qual o sentimento de um produtor rural ao encontrar o leite a quase R$ 5,00, responde de pronto: “Uma pessoa sem valor!”

Ajuda para caminhar sozinho

Quanto o foco é o homem do campo e o trabalho para levar o produto até a mesa do consumidor sem desanimar, a sugestão dos governos é o trabalho em forma de cooperação. No município de Italva, no Noroeste Fluminense, há quatro meses, 29 sócios fundaram a Cooperativa de Agricultura Familiar e Economia Solidária de Italva (Copafi), depois de muitos voos solitários, nas mãos dos atravessadores.

Em Cambuci, também no Noroeste, o produtor Lecil Barcelos, aposta na união, ao participar de uma “mini cooperativa”, junto com outros 19. “Mando 100% do meu leite para a cooperativa. Desde que nos juntamos, nosso preço de venda melhorou”, comenta, ao mesmo tempo em que destaca que hoje o preço praticado está em R$ 1,28, o litro, em maio de foi R$ 1.

As cooperativas familiares representam um ponto importante para o amadurecimento das comunidades rurais. “Existe demanda, existe gente capaz de produzir. Nosso papel é fazer o elo e dar incentivos para que os grupos possam começar a caminhada e depois andar sozinhos”, enfatiza o secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo.

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