Governança democrática
José Paes 27/03/2016 18:12

A política democrática está sofrendo uma crise de legitimidade, que se aprofunda no atual cenário político brasileiro, em que novos escândalos não param de aparecer. Ontem mesmo, enquanto escrevia este artigo, fomos todos surpreendidos (será?) com a divulgação de listagens de possíveis beneficiados com recursos da Construtora Odebrecht, dentre eles os membros da família Garotinho.

O que causa estranheza, é a dificuldade que diversos políticos têm de enxergar o agravamento dessa crise e a necessidade de abandonar os mecanismos ultrapassados da velha política, entranhada em todos os níveis de poder, independentemente de partidos e posições ideológicas.

Partindo dessas premissas para a análise do cenário da nossa cidade, é imprescindível superar a relação estabelecida entre as recentes Administrações que por aqui passaram e a sociedade, em que os governos se tornaram quase que verdadeiros tutores da população, atraindo para si, quer seja pelo constante aumento de arrecadação, quer seja pela vontade inconfessável de tornar a população refém dos seus interesses, a responsabilidade quase que exclusiva das tomadas de decisão acerca do futuro da cidade.

Essa ruptura não é necessária apenas porque os nossos recursos, fortemente reduzidos pela crise do petróleo, estão cada vez mais escassos antes as crescentes e complexas demandas sociais, mas sobretudo pelo fato de que as atuais transformações sociais criam hoje as condições para o surgimento de um novo tipo de governo, pautado numa governança mais democrática.

A dificuldade de pôr em prática essa concepção entre nós é evidente. Ninguém muda de uma hora para outra um pensamento populista e demagógico fortalecido ao longo dos últimos trinta anos. Mas é nosso papel, enquanto cidadãos, ajudar a construir uma nova cultura política, que fortaleça a capacidade institucional do município, em detrimento de conceitos personalistas de poder, trazendo para o cenário político pessoas com a capacidade de traçar estratégias de governo voltadas efetivamente para o bem-estar da população e não apenas para atender a interesses inconfessáveis de determinado grupo político.

De tudo isso que foi dito, fica a ideia de que precisamos nos apropriar do poder. Não podemos mais permitir que as decisões mais relevantes do nosso município continuem a serem tomadas pelo grupelho da lapa. Nenhum político é dono de Campos e isso precisa ficar claro daqui em diante. Que saibamos absorver as lições que o atual momento político brasileiro nos apresenta e façamos algo concreto e positivo de tudo isso que está diante de nós.

Artigo publicado na versão impressa da Folha do dia 24/03.

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