
Thaís Tostes
Fotos: Reprodução
A preservação da história de Campos ficou mais forte desde 2013, quando a internauta Virgínia Helena Ferreira, de 70 anos de idade, decidiu criar um grupo na rede de relacionamentos Facebook para postar fotos da enchente que assolou a cidade em 1966. Estas imagens foram feitas pelo pai de Virgínia, Almir Ferreira (já falecido), irmão do ex-deputado Alair Ferreira, que registrou — com uma Yashica de filme de revelação — vários pontos da planície que ficaram debaixo d’água. O grupo virtual “Relembrando Campos” é aberto: qualquer pessoa pode entrar nele e participar de sua dinâmica, comentando fotos e, também, postando imagens antigas da cidade que, porventura, possa ter.
— Numa tarde em que estive na casa do meu filho Jhonny, ficamos vendo fotos e, então, pedi-lhe emprestadas algumas imagens. “Scaneei” algumas e postei no meu Facebook. Bombou! Foram muitas curtidas! Pensei: Vou criar um grupo! E foi assim que nasceu o “Relembrando Campos”. As fotos impressas são do meu filho. Vou pegando as imagens com ele aos poucos, e jogando no grupo. São fotos da enchente que teve na cidade. Eu tinha 22 anos, na época. Eu morava na Rua 21 de Abril e lembro-me de que a água chegou na beiradinha da calçada. Foi uma coisa muito triste! — comentou Virgínia.
A campista disse que se sente muito satisfeita por colaborar com a preservação da histórica local. Segundo a criadora do “Relembrando Campos”, grande parte das pessoas que entram no grupo são ex-moradores da cidade (que saíram de Campos há um bom tempo) e pessoas que são recentes na planície (além, é claro, de estudantes; pessoas mais jovens que se interessam por conhecer o passado histórico). Até o fechamento desta edição do jornal, o grupo virtual contava com 4.541 membros.
— Meu pai gostava de fotografar e chegou até fazer uma exposição, dessas fotos da enchente, na Agência dos Correios. O acervo conta com 100 fotos originais, impressas e que possuem itens escritos pelo meu pai. Meu filho não comercializa de forma alguma essas imagens e nem faz cópias delas — contou, achando a situação divertida.
A inundação de 1966 foi responsável por desabrigar 11 mil pessoas só na cidade de Campos. O rio Paraíba do Sul atingiu a cota máxima de 10,80 metros.
Virgínia mostra máquina usada pelo pai na época
Pode-se dizer que as fotos do acervo de Almir Ferreira disponibilizado por sua Virgínia Ferreira chegariam, talvez, às gerações futuras, até como uma espécie de lenda local (a lenda de uma enchente na cidade), caso mantenha-se como irreversível, por um bom tempo, a delicada situação hídrica do Rio Paraíba do Sul, o maior rio do Estado. As imagens do acervo mantido por Virgínia mostram vários pontos de Campos totalmente alagados — dentre eles, a (na época chamada de) “Cadeia Pública”, prédio onde hoje funciona o Presídio Feminino Nilza da Silva Santos (na Avenida XV de Novembro, ao lado do Hospital Ferreira Machado).
Os internautas que navegam pelo “Relembrando Campos” estão submersos na seguinte situação: diante de fotos que mostram muita água e do outro extremo — a realidade, na outra ponta, de escassez alarmante de H2O, 50 anos depois.
— A cheia de 1966 é considerada histórica; uma cheia secular na história do Rio Paraíba do Sul e da região Sudeste do país. Na época, lembro-me que, junto com meu pai, oferecemos ajuda ao então Governo do Estado da Guanabara. Naquela enchente, os diques não eram como são hoje; eles eram mais baixos e possuíam rupturas em seus ligamentos, o que proporcionou que a água vazasse. Mas a enchente fez com que várias lagoas de Campos renascessem, como, por exemplo, a Lagoa Dourada (ao lado do antigo Fórum) e a Lagoa do Osório (no Parque Alberto Sampaio) — explicou o ambientalista e historiador Aristides Soffiati.
Soffiati também comentou que a cheia de 1966 esteve “dentro do normal” — ou seja, aconteceu num período passível de cheias, num período previsto na programação do ciclo da natureza. A seca que acontece atualmente, no Paraíba, por sua vez, seria “atípica”, segundo o ambientalista, por (tendo se iniciado em 2014 e se estendido até 2015) acontecer tanto num período de cheias quanto numa época de escassez.
— Essa baixa do Paraíba é histórica! Desde 1880, quando os órgãos ambientais começaram a registrar os níveis hídricos, nunca aconteceu uma estiagem como esta — disse o especialista.


