Coerência
José Paes 16/01/2015 08:56

Prezo muito pela coerência do que digo e faço. Simplesmente, não gosto de dizer uma coisa para, logo em seguida, fazer completamente o contrário, em especial quando o assunto é política. É claro que, em determinadas situações, a mudança de opinião, com o decorrer do tempo e dos fatos, se faz necessária, mas é necessário manter um mínimo de coerência.

Em razão disso, não posso afirmar que discordo de algumas atitudes que o atual governo municipal vem tomando para enfrentar a crise financeira que está se instalando no país, especialmente nos estados e municípios que têm suas economias atreladas a produção do petróleo. Já faz algum tempo que venho cobrando uma reforma administrativa, com redução de órgãos e cargos, bem como a reavaliação e redução do objeto de contratos demasiadamente onerosos para os cofres públicos. A contratação ilegal de servidores sem concurso e o excesso de funcionários terceirizados também eram questões que precisavam ser revistas.

Admitir que os cortes de gastos e pessoal são medidas necessárias, não significa, contudo, que esteja fazendo elogios ao governo municipal. Muito pelo contrário. É de se lamentar que apenas agora, quando a situação começou a arrochar, tenha começado a se fazer alguma coisa para recolocar o município nos trilhos. Uma cidade como a nossa, com os gigantescos orçamentos disponibilizados nos últimos anos, quando o petróleo alcançou valores recordes, jamais poderia passar pela atual situação, que sacrifica, sobretudo, os mais pobres.

Se os governantes que por aqui passaram tivessem pensando minimamente no futuro do município, ao invés de pensarem somente nas próximas eleições, certamente teríamos reservas para enfrentar tranquilamente a queda da arrecadação das receitas oriundas dos royalties do petróleo. Quantas vezes se propôs e se cobrou a criação de fundos de reserva, justamente para eventuais situações de necessidade? Infelizmente, preferiu-se esquecer que o petróleo é um bem finito e de cotação extremamente volátil. Agora, não obstante a redução das receitas, ainda somos obrigados a perder parte delas pagando altíssimos juros com empréstimos para cobrir rombos.

Alguns – inclusive aqueles que são pagos para tutelar os interesses da coletividade – preferem lavar as mãos e deixar a representante legitimamente eleita pelo voto popular, tentar resolver sozinha a questão, num completo desconhecimento dos mais mínimos conceitos de democracia participativa e controle social

Eu proponho justamente o contrário. Precisamos, cada vez mais, participarmos das escolhas, cobrar seriedade e responsabilidade nos gastos públicos. Dificilmente, fugiremos dos efeitos da crise que aí está, mas temos uma oportunidade de ouro para evitarmos coisas parecidas no futuro.

Artigo publicado na versão impressa da Folha de 15/01

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