Nós é que precisamos mudar
José Paes 12/01/2015 18:50

Nos últimos 20 anos, sobretudo a partir dos anos 2000, nós campistas passamos a conviver com orçamentos vultosos, frutos do constante aumento das receitas oriundas dos royalties do petróleo.

Nesse mesmo período, talvez diante dos gigantescos valores envolvidos, também nos acostumamos ao desperdício do dinheiro público. Passamos a conviver, governo após governo, com obras de necessidade duvidosa e valores claramente fora da realidade, com o inchaço da máquina pública, loteada por cargos comissionados desnecessários e por um sem fim de programas sociais de cunho populista, mas que nem de longe alcançaram o objetivo de integrar socialmente a camada mais pobre da população.

Durante esse período, vivemos intensamente o presente, mas esquecemos de pensar e planejar o futuro sem os royalties do petróleo. A necessidade de manutenção de projetos megalomaníacos de poder e os interesses pessoais imediatos nos tornaram reféns dessas receitas e acabamos nos desapegando dos conceitos mais básicos de transparência, eficiência, impessoalidade, probidade. Não nos preparamos para conviver sem os referidos recursos, que todos sabem são finitos e voláteis.

O ano de 2014 terminou nos apresentando um perigoso cenário: queda de receitas, inadimplementos de contratos, demissões em massa, necessidade de obtenção de empréstimos e aumento de impostos para mitigar os danos aos cofres públicos, decorrentes da mais completa falta de planejamento.

Mas em momentos como esses – que nos desacostumamos a conviver –surgem as grandes oportunidades de mudança, de crescimento, de desenvolvimento e, nesse sentido, 2014 nos deixa um grandioso recado. Devemos aproveitar esse momento de crise para refletir acerca do futuro da nossa cidade. Os gestores públicos devem implementar uma administração mais eficiente, transparente, focada em metas claras e passíveis de fiscalização por todos. Precisamos de uma máquina pública mais enxuta, em que se valorize o servidor concursado e a continuidade das políticas públicas. Além disso, precisamos repensar nossas prioridades: shows, sambódromos e programas sociais a um real não podem inviabilizar as melhorias dos indicadores de saúde e educação do município, verdadeiros pilares do seu desenvolvimento sustentável.

Enfim, já passou da hora de impormos novas práticas de gestão e planejamento ao município. É chegado o momento de fazermos mais com menos recursos, de deixarmos de lado interesses pessoais e cobrarmos uma gestão mais transparente, eficiente e profissional. Só assim, teremos um desenvolvimento sustentável, autônomo, seguro, livre do terrorismo populista de políticos incompetentes e irresponsáveis.

Infelizmente, não sei se os gestores que aí estão têm condições de implementar essas mudanças, mas, independentemente disso, nós, enquanto cidadãos, devemos iniciar esse processo. Nós é que precisamos mudar, a mudança deles - os que estão, mas não são o poder -, será uma simples consequência. Que 2015 seja o início desse processo.

Artigo publicado na versão impressa da Folha do dia (08/01)

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