A súplica de Mariuccia Iacovinno
23/12/2012 13:12

Muitas pessoas já assistiram às apresentações da Orquestra Sinfônica Mariuccia Iacovino, da ONG Orquestrando a Vida, e outras devem ter só ouvido falar do grupo musical campista. Alguns, no entanto, podem se perguntar: quem foi Mariuccia Iacovino? Essa carioca que, se viva estivesse, teria completado cem anos no último dia 12 ficou conhecida simplesmente como “a grande dama do violino brasileiro”. A intérprete se apresentou dos 5 anos até pouco antes de seu falecimento, com  95 anos, em 2008.


empresária Myrian Dauelsberg, filha de Mariuccia, contou que antes de falecer, a violinista viu na televisão crianças de uma orquestra chorando com seus instrumentos e pediu que Myrian, como empresária, tomasse conta desta orquestra. Mariuccia faleceu sem conhecer o conjunto que mais tarde levaria seu nome.


ua carreira teve início em 1918, quando aos 6 anos surpreendeu a família ao ser aprovada no exame do antigo Instituto Nacional de Música, onde funciona atualmente a escola de música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


os 13 anos, Mariuccia embarcou pa-ra Madri, com o professor Mario Matteo. A viagem de navio patrocinada pelos pais durou 15 dias. Viajou pela Espanha aprendendo os segredos dos acordes clássicos. O retorno aconteceu um ano depois. Tão logo colocou os pés no Rio de Janeiro, voltou às aulas com sua única professora Paulina D’Ambrósio, considerada até hoje a maior intérprete das obras de Villa-Lobos.


os 16 anos, a violinista conquistou a medalha de ouro do Instituto Nacional de Música. Como prêmio, ganhou uma viagem para a Europa. O atraso no pagamento, porém, adiou a volta ao Velho Continente. Quando recebeu o dinheiro do prêmio, Mariuccia o entregou para a mãe. De presente, ganhou do pai meias compridas e sapatos de salto.


oi através da professora Paulina que a violinista se aproximou de Villa-Lobos. A amizade com o maestro se acentuou depois do casamento com o pianista Arnaldo Estrela, que trabalhava com o autor de “Trenzinho Caipira”. Convidado pelo governo francês, Arnaldo Estrela, falecido em 1980, mudou-se com a família para Paris, em 1945, ao final da Segunda Guerra.


bordo da embarcação, tocou uma peça do compositor brasileiro Cláudio Santoro. Em Paris, o casal se encontrava periodicamente com os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, expulsos do Brasil por Getúlio Vargas. Mariuccia é madrinha de Paloma, filha de Jorge e Zélia.


m 1949, Mariuccia atuou como solista da orquestra Cologne, em Paris, na primeira audição mundial da “Fantasia de Movimentos Místicos”, considerada a obra de Villa-Lobos mais difícil para violinos. Naquela ocasião, o próprio autor regeu a orquestra.
Três anos depois, a violinista e o marido se juntaram a Jorge Amado, Cândido Portinari e Pablo Picasso no Congresso de Varsóvia, na Polônia, organizado pelo poeta chileno Pablo Neruda em prol da paz.


ua casa era o palco de encontros de intelectuais que respiravam arte. Seus conselhos eram tão positivos quanto intuitivos, mérito de uma mulher altamente sedutora que tinha um encantamento fascinante. Quando estava no palco, dava a verdadeira dimensão da sua entrega total e seu respeito profundo à grande música e aos grandes mestres.


Centenário da Dama do Violino com homenagem

O centenário da Grande Da-ma do Violino no Brasil não passou em branco. No último domingo foi realizado um concerto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Antes do início do espetáculo, foi exibido um vídeo sobre alguns momentos especiais de sua longa e magnífica vida. O atual Quarteto da Guanabara se apresentou e o mais esperado era a Orquestra Sinfônica Mariuccia Iacovino.


Na ocasião, foram executadas peças marcantes do repertório da violinista, a exemplo das composições de Massenet (Meditação da Ópera Thais, para violino e piano), de Fritz Kreisler (Liebesleid, para violino e piano), de Edward Elgar (Salut d’amour, para violino e piano) e de César Frank (Quinteto em fá menor). O espetáculo teve regência do maestro Luís Maurício Carneiro, da ONG Orquestrando a Vida e da Orquestra Municipal de Campos, e contou com o talento dos solistas Gabriela Queiroz (violino), Daniel Guedes (violino), Daniel Albuquerque (viola), Márcio Malard (violoncelo) e Flávio Augusto (piano).


Quarteto da Guanabara — foi formado por Mariuccia e Arnaldo Estrela junto ao iraniano Frederick Stephany, na viola, e Iberê Gomes Grosso, no violoncelo. Em 1964, o grupo arrebatou o prêmio internacional de quartetos Villa-Lobos e viajou pela Europa, onde se apresentou em 52 concertos. Durante dez anos, o quarteto tocou no foyer do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em plena ditadura militar, estudantes lotavam as escadarias do teatro para ouvir música de câmara.

Talita Barros

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