O nosso padroeiro, Santíssimo São Salvador, também chamado inicialmente de São Salvador, na realidade, se trata do Cristo Salvador do Mundo.
A designação inicial de São Salvador decorreu da devoção instituída em 1652, na 1ª Capela “oficialmente” construída, na área onde hoje está instalada a Igreja de São Francisco, situada na rua 13 de Maio, no Centro de Campos dos Goytacazes.
Esta capela foi construída por ordem do governador do Rio de Janeiro, gen. Salvador Correia de Sá e Benevides, que, para tanto, doou 40 braças em quadra de terra a ele pertencente.
Registre-se que, à época, com base no acordo entre a Corte Portuguesa e a Santa Sé — o “Padroado Régio” —, cabia à Corte construir capelas e nomear para elas vigários e párocos, com os sacerdotes fornecidos pela Santa Sé. No caso, o governador, representando a Corte, mandou construir a capela, instituiu-a como paróquia e freguesia, nomeando para ela, como pároco, o monge beneditino Fernando de Monserrat, administrador das terras do Mosteiro de São Bento em Mussurepe, na Baixada Campista.
Coube a Dom Fernando, como pároco, eleger o santo a ser invocado na referida capela, e o fez devotando-a a São Salvador. Diz a lenda que o fez em homenagem ao governador que o nomeou, usando o seu nome. Dom Fernando trouxe para sua paróquia uma imagem do Cristo Salvador, e a sua missa de inauguração, obedecendo à tradição e à prática comuns da época, foi realizada a 6 de agosto, dia dedicado ao Santo, iniciando assim a devoção que, celebrada ano a ano, culminou com São Salvador eleito como padroeiro da cidade de Campos dos Goytacazes.
Na oportunidade, faz-se mister um registro especial. No pátio de nossa Igreja de São Francisco, onde estão instalados os marcos históricos patrimoniais da Freguesia de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, da Vila de São Salvador dos Campos e da passagem da vila à categoria de cidade, foi também instalada uma gruta de Nossa Senhora de Lourdes em 1945, que trouxe, em seu portal, a inscrição: “Aqui neste local em 1652 foi celebrada a primeira missa”.
Tal inscrição estava apagada até mais recentemente, quando fizemos a manutenção da gruta. Ao incorporar essa “descoberta” ao conjunto do nosso sítio histórico, além de ratificar o conteúdo apresentado sobre o nosso Santo Padroeiro, estamos transformando tal conjunto, patrimônio cultural nacional, amparado no inciso V do art. 216 de nossa atual Constituição Federal.
Vamos considerar a primeira missa celebrada na Capela da Freguesia patrimônio cultural imaterial. Para preservá-lo, estamos empenhados em, ainda este ano, no próximo dia 6 de agosto, reintegrar à nossa gruta a imagem do Cristo Salvador do Mundo, com uma missa a ser celebrada às 17h em nossa igreja, para que nossos fiéis possam voltar a louvá-lo como foi feito há 370 anos, no início dessa devoção.
*Ministro (Prior) da V.O. Terceira de São Francisco da Penitência (Igreja de São Francisco). Membro da Academia Campista de Letras (ACL)