Jeca Tatu, o preguiçoso
Jeca Tatu - Personagem de Monteiro Lobato de 1947
Jeca Tatu - Personagem de Monteiro Lobato de 1947
Personagem de Monteiro Lobato de 1947, o Jeca Tatu ficou conhecido por ser preguiçoso. Acabou por representar a persona de um homem do campo matuto, inerte, com pouco traquejo social. Aquela figura caricata com um talo de capim na boca, descalço e de chapéu de palha. O personagem de Lobato é retrato da Primeira República brasileira, mais especificamente paulista, com uma realidade profundamente agrária, onde o controle do Estado se dava entre as oligarquias cafeeiras e novas forças políticas originárias do meio urbano e o início a base industrial. Também era tempo do surgimento e organização da classe operária brasileira, que por meio do movimento sindical de matiz comunista vinha se impondo como uma nova força política. Jeca Tatu era o homem alheio a essas novas realidades que se mantinha entorpecido e distante dessas transformações sociais.
Jeca Tatu era preguiçoso. Alvo e justificativa para um processo modernizador e civilizatório do meio rural brasileiro. Para que o campo pudesse evoluir, era preciso que os Jecas saíssem de sua zona de conforto. Embora exista uma discussão válida de exclusão social e econômica do homem do campo, que atendia o interesse das elites oligárquicas, a crítica ao comportamento trazida por Monteiro Lobato parecia ter fundamento.
Caso Lobato tivesse vivido em Campos dos Goytacazes nas últimas décadas possivelmente reconheceria muitos personagens reais que se encaixavam em sua crítica. Uma cidade de grande tradição agrária, com muitas usinas de cana-de-açúcar e residência de uma oligarquia oriunda dessa realidade. Embora não tenha sofrido uma forte industrialização como São Paulo, o petróleo viria a transformar essa matriz e muitos Jecas foram modernizados com o desenvolvimento que o ouro negro trouxera.
A oligarquia sucroalcooleira foi dando lugar a uma oligarquia política. O dinheiro “fácil” do petróleo atraíra governantes fisiológicos, megalomaníacos e preguiçosos. Os Jecas passariam a serem os político
Usinas em Campos
Usinas em Campos
s da cidade. Como não precisavam ser esforçar para atrair investimentos, mantinham a alienação, a distância do muno moderno; de outras cidades que se avançavam. No campo, vocação local, pouco importava se ainda existiam os "Jeca Tatu" e pouco aconteceu um marco divisório entre dois mundos: o mundo rural arcaico, injusto e atrasado e o mundo moderno, urbano e industrial, representado como o novo modelo de civilização e a forma ideal para superação das injustiças sociais.
Preguiça é sinal de atraso e de indiferença. A superação da ideia de um "Jeca Tatu" depende de vontade política e envolvimento social. Manter famílias no poder, mesmo sendo elas favorecidas e incentivadoras dessa realidade, indica preguiça de movimentos sociais organizados, de envolvimento político da população. A sociedade precisa ter uma postura anti-Jeca para que políticos anti-preguiçosos estejam dispostos a modernizar a cidade, industrializar, atrair empregos e perceber que a imagem caricata do personagem de Monteiro Lobato não existe mais, principalmente no campo, onde a modernização foi imposta pelo agronegócio há tempos. Para isso a preguiça e a inércia deve ser combatida. 

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    Sobre o autor

    Edmundo Siqueira

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