Crítica de cinema: Turma da Mônica: Laços)
Felipe Fernandes 29/06/2019 15:34 - Atualizado em 10/07/2019 14:00
Divulgação
A turma da Mônica é uma série de história em quadrinhos criada no final da década de 50 pelo cartunista Maurício de Souza. Começou como tirinha em jornais e somente no ano de 1960 teve a personagem título criada e dali em diante a turminha cresceu bastante. Os quadrinhos da personagem englobam diversos personagens muito marcantes, que cresceram junto a várias gerações, fazendo parte do imaginário cultural do brasileiro, como nenhum quadrinho conseguiu.
Em 2012, Maurício de Souza concebeu um excelente projeto chamado Graphic MSP, que basicamente são seus personagens sendo repensados por diversos quadrinistas brasileiros, tendo histórias fechadas em formato de Graphic Novels e dali saíram algumas pérolas (recomendo os quatro volumes do Astronauta, criadas pelo Danilo Beyruth). O segundo volume desse projeto foi a obra escolhida pelos realizadores para levar a turma mais famosa do Brasil para os cinemas.
A escolha se mostra acertada, pois se trata de uma história fechada, as tirinhas originais são histórias curtas, que não caberiam em um longa metragem e traz uma abordagem mais moderna dos personagens sem descaracterizá-los. A premissa é basicamente a mesma, após o sumiço de Floquinho, a turma se junta e parte em uma grande aventura para reencontrar o cachorro.
O longa abre com os inesgotáveis planos de Cebolinha (Kevin Vechiatto) e seu amigo Cascão (Gabriel Moreira) para pegar o coelho Sansão de Mônica (Giulia Benitte). Essa abertura é a que mais se aproxima dos quadrinhos originais, em uma mini-trama eficiente em apresentar as versões live-action dos queridos personagens, ao mesmo tempo em que apresenta o bairro do Limoeiro, um local colorido, com um aspecto agradável de fantasia, repleto dos mais diversos personagens do Maurício de Souza, criando diversos e divertidos easter eggs.
Após o sumiço de Floquinho, Cebolinha fica muito mal e o grupo se junta para sair em busca do cachorro. O filme então se torna uma aventura de jornada, onde os quatro personagens principais precisam enfrentar seus medos, suas diferenças e suas particularidades (elemento tão marcante nos quadrinhos) para conseguir achar o cachorro perdido.
A história é estendida em relação ao material original e muito dos problemas do filme residem em seu roteiro. O primeiro deles é que o protagonista não é a Mônica e sim o Cebolinha. Desde o início toda a trama gira ao redor dele, o próprio filme chega a brincar com isso em dois momentos.
O segundo ato, a parte em que eles estão atravessando a floresta, carece de motivadores, algumas cenas são desnecessárias, não acrescentando em nada a jornada, nem ao crescimento dos personagens individualmente ou como grupo. O deleite dessas cenas, é que o diretor Daniel Rezende explora bem a estética da natureza, criando um visual deslumbrante, fato que ameniza um pouco essa falta de ritmo do segundo ato.
O núcleo dos adultos também não acrescenta nada a narrativa, já que nem para procurar os filhos eles funcionam, soando mais como artifício para estender a duração do filme.
É notório o carinho e a paixão dos realizadores com o material e com a recriação daquele universo. Não é uma tarefa fácil, ainda mais se tratando de personagens que fazem parte da história de tanta gente, mas o diretor Daniel Rezende e sua equipe encontram um equilíbrio estético entre a realidade e o colorido dos quadrinhos.
A escolha do experiente montador Daniel Rezende, que aqui tem seu segundo trabalho como diretor de longas, se mostra muito acertada. O visual do longa é muito caprichado, as cenas são dinâmicas, divertidas, a montagem fluida, a direção de arte faz um trabalho incrível, com ambientes coloridos, vibrantes, que parecem saídos diretamente dos quadrinhos. Daniel cria imagens belíssimas, agregando muito a jornada dos personagens.
Um fator primordial para o funcionamento do longa, é o seu elenco. Certamente um elemento que deu um trabalho absurdo para a produção. Os quatro atores mirins que dão vida aos personagens principais são carismáticos, existe química, a sensação de unidade é importante para fortalecer a amizade entre eles, mesmo em meio as confusões e desencontros naturais desse estilo de filme. Outro ator que merece destaque é Rodrigo Santoro, que faz uma pequena participação como o Louco e rouba a cena.
“Turma da Mônica: Laços” é um filme divertido, muito bem realizado, que conseguiu a difícil tarefa de transpor para os cinemas alguns dos personagens mais queridos de nosso país e serve de ponta pé inicial para toda uma leva de adaptações. É o cinema nacional crescendo e explorando essa mistura de mídias e possibilidades, se fazendo ainda mais plural e fascinante.

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