"Porres de Amor", um livro dentro da garrafa
Matheus Berriel 09/07/2019 18:39 - Atualizado em 05/08/2019 14:06
Lançado em pré-venda no dia 30 de março em um pocket show do projeto autoral “Eu por dentro”, da cantora e escritora Daiane Gomes da Hora, 25 anos, o livro “Porres de amor” teve todas os 60 exemplares vendidos até a cerimônia oficial de lançamento, dia 29 de julho, no espaço Varanda Amarela. Uma nova remessa está sendo preparada, motivo de orgulho para a autora, que resolveu estrear na literatura abordando relacionamentos lésbicos em um formato diferente de livro.
Enganou-se quem imaginou “Porres de amor” com capa tradicional e diversas páginas numeradas. O que funciona como uma espécie de capa é um saquinho que guarda uma garrafa fechada com uma rolha. Dentro dela, 13 poemas enrolados em formato de pergaminho, que podem ser retirados e lidos sem ordem definida.
— São 13 páginas falando sobre várias mulheres. Dentro de cada página tem uma historinha. O maior desafio do livro foi resumir sentimentos em páginas pequenas, porque a garrafa é pequena, e 13 páginas deveriam caber ali, partindo da ideia de que o amor às vezes é um porre. E também para enfatizar que nem todo porre é uma coisa ruim. Quando tive a ideia de falar sobre um porre de amor, me lembrei da garrafa e quis dar vida. As páginas não têm numeração. O leitor faz a ordem e descobre se uma página tem relação a outra, porque, mesmo que falem de várias mulheres (com quem se relacionou ou relaciona), tem páginas falando da mesma mulher em momentos diferentes, assim como falam da minha atual esposa — explicou Daiane, que é natural de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, mas reside em Campos há vários anos
Alguns textos do livro, produzido de forma independente, podem ter mais de uma interpretação. É o caso de um em que a autora fala sobre uma mudança de atitude, algo como um término de relacionamento consigo mesma. “Eu terminei com uma versão minha ruim, que se envolvia com drogas, com outras coisas, e estou começando com essa nova versão”, explicou Daiane.
“Porres de amor” tem, naturalmente, um quê de militância, característica que liga a autora com algumas de suas leitoras.
— Eu vivencio o preconceito diariamente. Sou a mulher preta lésbica. Saí de um trabalho onde eu sofria lesbofobia. Em relação ao livro, não senti isso. As pessoas que compraram, abraçaram a ideia. E é uma parada representativa. Muitas mulheres negras lésbicas compraram o romance e se leram naquilo. Eu escrevo o que eu vivo para entender o que sinto. As pessoas acabarem gostando é consequência desse trabalho — pontuou a escritora. — As pessoas esperam que a pessoa negra fale de dor sempre na posição de quem sofreu racismo ou de quem perdeu o irmão executado em um carro. Esquecem que a gente vive romances também, vive amor também, sofre por término de relacionamento, não só pela cor da pele — pontuou a escritora.
O retorno tem sido positivo pelas redes sociais:
— Está sendo muito bom. Estou bem feliz, porque as pessoas estão se identificando com coisas que eu vivi. Tem umas páginas que são porres ruins, e pessoas já chegaram para falar comigo que viveram algo parecido ou igual ao que eu vivi. Teve gente que mandou foto chorando enquanto lia a página. Eu não esperava que fosse tão assim.
Fora da garrafa, os textos de “Porres de amor” foram integrados ao projeto musical “Eu por dentro”, descrito por Daiane como seu quarto de música sendo montado em um palco, com composições autorais e interpretações de clássicos nacionais. Na edição relacionada ao livro, alguns poemas são lidos. Uma apresentação está marcada para o dia 31 de agosto, na Varanda Amarela.
— Dentro desse projeto, peço para as pessoas falarem qual é o “eu por dentro” delas. E me responderam coisas muito ligadas ao livro também, coisas muito íntimas. E eu fiquei: “caramba, a gente está vivendo momentos muito parecidos, dramas parecidos também”, e isso é muito legal — afirmou.

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