Cabral diz que Garotinho usou propina para comprar TV e abrir jornal O Diário
Arnaldo Neto e Aldir Sales 05/04/2019 15:59 - Atualizado em 15/04/2019 20:12
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), agora réu confesso, disse, nesta sexta-feira (05), que a propina de empresas de transportes no estado do Rio de Janeiro começou no governo Moreira Franco (MDB), passando ainda pelos governos de Leonel Brizola e Anthony Garotinho. Sobre Garotinho e a esposa, Rosinha Garotinho, Cabral afirmou que a caixinha de propina da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio) continuou no Executivo, supostamente administrada por Jonas Lopes de Carvalho e Augusto Ariston.
— Com o dinheiro da Fetranspor, Garotinho comprou a TV Band no Sul Fluminense. Usa uma pessoa chamada Mauro como um testa de ferro, tem um jornal em Campos, O Diário, que é do Mauro mas na verdade é dele (Garotinho), e eu continuo presidente da Alerj cuidando da caixinha da Fetranspor nesse período — disse Cabral.
Segundo Cabral, a caixinha da Fetranspor começa na gestão de Moreira Franco, entre 1987 e 1990. Ainda de acordo com o ex-governador, preso desde novembro de 2016, no governo Brizola, coube a Pedro Valente, que era secretário de Transportes, a suposta administração da caixinha. Valente teria o “aval” de Brizola, que morreu em 2004.
Já em fevereiro de 1995, no governo Marcelo Alencar, que morreu em 2014, Cabral foi eleito presidente da Alerj e assumiu a administração da caixinha. O ex-governador contou, ainda, que o esquema continuou no governo Garotinho e no seguinte, da esposa, Rosinha.
A audiência em que a Cabral fez as mais recentes revelações é sobre a operação Ponto Final, que investiga irregularidades no setor de transportes. Réu confesso, o ex-governador disse logo no início da audiência que chegava para depor “com o coração aberto”.
Cabral disse que negociou a “compra” do apoio de Crivella na eleição da Prefeitura do Rio de 2008 por US$ 1,5 milhão, quando Eduardo Paes foi ao segundo turno com Fernando Gabeira. Ele conta que Crivella teria relatado que o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, teria oferecido antes R$ 1 milhão para apoiar Gabeira.
Sérgio Cabral falou, ainda, que foi achacado por parlamentares federais e que teve que fazer trato com membros do Tribunal de Contas da União e do Judiciário. O emedebista também declarou que tem “uma relação muito afetiva” com o hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e intermediou pagamentos para a campanha dele para a Presidência da República em 2014.
Jonas Lopes foi indicado para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) pelo então governador Garotinho, em 2000. Advogado formado pela Faculdade de Direito de Campos e filho do criminalista Jonas Lopes de Carvalho, já foi procurador-geral da Prefeitura de Campos e presidiu o TCE entre 2011 e 2016. 
Citados por Cabral com relação a Garotinho — O jornal O Diário está fechado. O Mauro citado por Cabral seria o jornalista Mauro Silva, ex-vereador, ex-secretário de Comunicação no governo municipal de Rosinha, em Campos, e que participou da instalação de O Diário no município.
Jonas Lopes foi indicado para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) pelo então governador Garotinho, em 2000. Advogado formado pela Faculdade de Direito de Campos e filho do criminalista Jonas Lopes de Carvalho, já foi procurador-geral da Prefeitura de Campos e presidiu o TCE entre 2011 e 2016.
Augusto Ariston foi secretário da Casa Civil no governo Garotinho e de Transportes, no governo Rosinha.
Outro lado — A Folha tentou contato com o ex-governador Garotinho, por telefone, mas ele não atendeu. Por um aplicativo de mensagens, foi solicitado um posicionamento do ex-governador, o que também não aconteceu. No entanto, em sua página no Facebook, a defesa do casal Garotinho afirma, “com veemência, não haver uma única verdade no depoimento do ex-governador Sérgio Cabral, quanto às acusações proferidas aos mesmos, em relação ao setor de transportes e compra de emis-sora de televisão e rádio”. Na mesma nota, os defensores salientam também que “Garotinho foi o responsável por ação pioneira: redução das passagens de ônibus na região metropolitana do Rio de Janeiro. Destaca-se ainda o fato de a redução das passagens ter sido revogado por decisão judicial”.
A nota informa, ainda, que sobre a acusação “de ser dono de emissora de rádio e de televisão”, “Garotinho é radialista com carteira assinada desde os 17 anos de idade. No entanto, nunca foi proprietário de emissora alguma”. O texto não faz menção ao jornal campista O Diário.
No encerramento do texto, a defesa do político da Lapa diz que “desprende-se que o sentimento de ódio nutrido por Sérgio Cabral e seu grupo político advém da notícia crime protocolizada por Garotinho na Procuradoria Geral da República (PGR), onde teve início a investigação que levou Sérgio Cabral e seu grupo político à prisão”.
Também foi tentado, sem sucesso, contato por telefone com Mauro Silva.
 
 

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