Atafona sofre com avanço do mar
Mário Sérgio Júnior 24/03/2019 09:18 - Atualizado em 28/03/2019 14:16
O drama de moradores da praia de Atafona, em São João da Barra, é antigo e a cada ano que passa, parte da história de muitos se vai junto com o oceano. Na última semana, um novo avanço do mar foi registrado e parte do muro de uma das casas, que é referência no balneário, foi ao chão. Na tentativa de resolver o problema da erosão costeira, a Prefeitura de SJB junto com especialistas e Ministério Público Federal, tem buscado soluções alternativas ao projeto de contenção do mar viabilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH). No próximo dia 28, o procurador da República, Bruno de Almeida Ferraz, irá se reunir com representantes da sociedade civil, órgãos públicos e especialistas para debater o assunto.
Crédito: Paulo S. Pinheiro - Divulgação
O professor da Universidade Federal Fluminense (Uff) e especialista no assunto, Eduardo Bulhões, explicou que o problema de Atafona acontece por conta do déficit de areia que a praia sofre e se agrava nas marés de lua cheia, aliado aos fenômenos climáticos como ciclones extratropicais. “Todas as praias se equilibram com areias que chegam e que saem. Em Atafona, esse equilíbrio foi quebrado, então entra menos areia do que sai e por isso a praia entra em erosão. Atafona sofre déficit de sedimento, pois o Paraíba não consegue repor a quantidade de areia necessária para manter o equilíbrio. O rio não consegue fazer isso desde a década de 80, sobretudo após construções de barragens ao longo do leito do rio. Isso fez com que ele não consiga empurrar a areia para praia, ao passo que o mar continua removendo essa areia”, disse.
Quem sentiu de perto a destruição que a força do mar causou foi a aposentada Sônia Ferreira, vice-presidente da Associação SOS Atafona. “Agora a gente tem que tomar outras medidas, outras providências porque, na medida em que chegou, eu preciso sair. O momento está sendo difícil por todos os motivos, pela quebra do muro e pela decisão que tem que ser tomada. Todo esse tempo que a gente estava, mais ou menos no risco, eu me recusei a pensar em como fazer, se acontecesse. Agora eu estou assim. A gente tem se surpreendido com a força da natureza. O mar avançou mais, tombou o tapume que tinha sido feito, outro pedaço do muro e assoreando mais o terreno”, disse Sônia que tem contado com apoio de familiares e amigos e que vai deixar a casa, mas não Atafona. “A luta continua. Tudo que a gente pode fazer, vai continuar fazendo, porque o amor por Atafona é profundo”, concluiu.
So bre o projeto de contenção, Eduardo Bulhões ressaltou que a solução viabilizada pelo INPH tem impactos positivos, mas os negativos são maiores e o custo também é elevado. “O projeto do INPH prevê a construção de nove espigões, que são estruturas de blocos rochosos perpendiculares à praia. Essas estruturas têm impactos positivos, pois conseguem de fato conter a perda de areia, mas têm impactos negativos e eles podem ser muito graves. Um deles é que o problema da erosão pode ser transferido para uma área além de Atafona, no caso específico para a área de Grussaí. Ou seja, às vezes essas soluções podem ser perigosas, uma vez que resolve o problema em um lugar e gera em outro. Outro problema é o custo, que é muito elevado. Realmente não se tem recurso suficiente para um município pequeno como São João da Barra executar esse tipo de obra e mesmo se tivesse, há o risco dos efeitos colaterais”, afirmou ao acrescentar uma alternativa para solucionar o problema. “Junto à Defensoria Pública e ao Ministério Público Federal, propus uma alternativa para Atafona e a gente está discutindo essa solução também com a Prefeitura. Ela seria baseada no conceito do construindo com a natureza, no conceito de soluções buscadas na natureza. Efetivamente, a gente visaria bombear areias idênticas a da praia do leito do rio Paraíba e transpor para a praia de Atafona. Ou seja, a gente faria artificialmente o que o rio naturalmente não consegue mais fazer. Então, essa seria uma solução de menor custo, com impactos ambientais muito melhores porque há uma defesa da praia e os impactos negativos são quase nulos”, concluiu.
Crédito: Paulo S. Pinheiro - Divulgação
Projeto está no papel há mais de quatro anos
O projeto para contenção do mar em Atafona foi apresentado em 2014 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) ao então prefeito de São João da Barra, José Amaro Martins de Souza, Neco. Desde então, o antigo prefeito e a atual chefe do Executivo, Carla Machado iniciaram uma luta para levantar recursos para a realização da obra, haja vista, que ambos afirmam que apenas município não tem condições de arcar com os custos. Autoridades já aventaram orçamentos que variam de R$ 150 a R$ 220 milhões, mas nenhuma cotação oficial foi feita.
Em 2017, a prefeita Carla Machado apresentou cópia do projeto de recuperação da orla de Atafona ao presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia. Além disso, o município recebeu a visita de diversos deputados estaduais e federais, mas até o momento nenhum apoio concreto chegou ao município.
Vale lembrar que o saldo remanescente das intervenções nos trechos do rio Paraíba do Sul serão utilizados para o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) para a viabilidade do Anteprojeto de Contenção da praia de Atafona.
Pesquisa abordou custos de possível obra
O arquiteto e morador de São João da Barra, Henys Pinto, chegou a apresentar um projeto de conclusão de curso que aborda a situação de Atafona. Junto com as colegas Arini Barreto e Raphaella Correia, o trio abordou a questão de divisão de custos numa possível construção de um quebra mar na praia.
Na última semana, ele chegou a publicar parte da pesquisa no Facebook. “A proposta desse trabalho é levantar a reflexão sobre a divisão dos custos, para construção do quebra mar. A água é um bem público porém carregado de valor econômico, já que a mesma é cobrado cada litro que retirado de nosso paraíba. Chegamos a fazer contato com um instituto para fazer o levantamento do uso percentual de cada município e empresa ao longo do curso do rio que usa a água do nosso rio e assim criar um fundo municipal para pagamento desses recursos. Quem tiver a oportunidade de ler o projeto irá perceber que detalhamos até de onde pode vir os recursos, nem todas as pesquisas estão aqui, temos muito mais ainda para detalhar. Tenho certeza que poderemos levantar os recursos necessários para a construção dessa importante obra, agora o tempo é o nosso pior inimigo, cada dia perdido é um cm a menos na nossa costa”, informou Henys.
Ele disse também que pretende apresentar o trabalho à Prefeitura. 
 
 
 
 

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