Fred anuncia cortes na Câmara
Aluysio Abreu Barbosa e Arnaldo Neto 03/02/2019 03:35 - Atualizado em 07/02/2019 15:06
Conhecido na política pelo temperamento afável, o novo presidente da Câmara de Campos, Fred Machado (PPS), assume o cargo anunciando cortes. O fim do lanche dos vereadores e das sessões solenes já está certo. E quer também cortar o carro para os edis. Ex-líder do governo Rafael Diniz (PPS), ele concorda que 2019 é o ano para o prefeito retomar a popularidade que o elegeu no primeiro turno em 2016, mas sofreu desgaste pelas dificuldades financeiras deixadas pelos Garotinho. Para isso, prega a unidade do grupo governista, que admite não ter acontecido em 2018, na disputa a deputado federal do vereador Marcão Gomes (PR), seu antecessor na presidência. Fred também analisou as administrações de Rafael, seu aliado político, e de Carla Machado (PP) em São João da Barra. Ele garantiu não haver possibilidade da irmã concorrer a prefeita de Campos em 2020. E se Carla não puder se candidatar à reeleição em SJB, revelou que ela “terá a alternativa certa”.
Fred Machado
Fred Machado / Antônio Leudo
Folha da Manhã — Você fez parte de um pequeno grupo de oposição na legislatura passada, que conseguiu eleger o então vereador Rafael Diniz (PPS) prefeito no 1º turno, vencendo em todas as zonas eleitorais de Campos. E foi líder do governo, antes de substituir Marcão Gomes (PR) na presidência da Câmara. Para quem esteve dos dois lados, dá pra dizer que é mais fácil ser pedra do que vidraça na política?
Fred Machado — Eu acredito que ser pedra e vidraça na política são mais ou menos parecidos, por conta das responsabilidades que você tem. A gente tem que estar aceitando as críticas, fazendo políticas construtivas e tentar melhorar. Na época que eu caminhei como pedra, nós nunca inventamos nada em relação ao governo. A gente falava em bases sólidas. Espero que agora também como vidraça eu possa também aceitar as críticas construtivas, mas também em bases sólidas.
Folha — E se não forem?
Fred — Quando não forem, eu vou falar a verdade. E aí a gente tem como discutir a veracidade e a falsidade dos fatos. Quando a gente está como vidraça, é mais fácil a gente ser atingido por uma pedra, mas com certeza o diálogo é a coisa mais importante. E eu vou prezar muito pela transparência na Câmara. A gente já está mudando, mexendo no Portal da Transparência, recebendo umas demandas de pessoas físicas. Vamos fazer uns acertos no Portal da Transparência. Já conversei com meu grupo que eu quero essa transparência, que eu sempre prezei lá atrás, possa acontecer agora no momento que eu estou como presidente da Câmara. A gente tem uma lei 12.527 que é a lei da transparência do governo federal. E ela tem algumas coisas que a gente precisa estar implantando no nosso site, tal como um formulário onde as pessoas podem estar formatando suas perguntas. A gente tem que estar colocando também o e-sic (Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão) que é uma ferramenta importante, um sistema de informação do cidadão. Você ali também através do e-sic, seria uma pergunta mais sucinta, não seria uma coisa muito grande e que você poderia estar naquele momento mesmo dando a resposta, como tem também o prazo na Lei de Acesso da Informação que a gente tem documentos, várias coisas que a gente teria até 20 dias de prazo para responder e mais dez. Então aquilo que a gente puder responder de imediato a gente vai responder de imediato.
Folha — Você foi líder do governo, na linha de frente contra a oposição. Apesar disso, foi eleito presidente da Câmara por unanimidade, como a Folha adiantou na coluna Ponto Final. Ocupando por dois anos uma posição de enfrentamento, como conseguiu depois essa unanimidade?
Fred — No fundo, eu sempre fui uma pessoa de muito contato, de muita conversa. Eu acredito que a gente não consegue chegar a algum lugar se a gente não conversar com as bases. E hoje eu tenho contato direto com os que hoje se dizem independentes. Por que lá na Câmara hoje não se cita grupo de oposição, se cita grupo de independentes. Quando eles querem uma reunião comigo, eles chegam e falam: “Fred, você teria tempo de receber o grupo dos ‘independentes’?”.
Folha — Os “independentes” são os vereadores de oposição?
Fred — Os “independentes” que eu me refiro seriam Álvaro Oliveira (SD), Alonsimar (PTC), Renatinho do Eldorado (PTC), Josiane (PRP) e Eduardo Crespo (PR). Graças a Deus, eu nunca tive um desentendimento com ninguém, mesmo sendo oposição. Por que eu acredito que cada um está ali para disputar o seu espaço, suas convicções ideológicas e não brigar. Aliás, brigam as ideias e não as pessoas. A pessoa ali discute, debate, mas ali atrás (da Câmara) a gente tem um tratamento formal, respeitoso. Eu como líder do governo atendi a diversas solicitações de vereadores da oposição. Então eu acho que esse entendimento fez com que a gente tivesse essa unanimidade e acredito que vai ser assim com a Câmara. Hoje, eles têm visto o quanto de atenção eu tenho dado a eles. Eu tenho apenas aquela vontade em fazer com que o grupo continue unido e que eu possa cada vez mais unir esse grupo em prol do Legislativo. Aquilo que aquele vereador de oposição não tem, aquele outro também não terá. Pela minha vontade, eu terminaria com os carros na Câmara. A Câmara tinha alguns carros alugados, que serviam aos vereadores. Já que houve o gancho da Alerj, acho que também poderíamos adotar a medida e acabar com os carros, até mesmo para evitar questionamento em época eleitoral. Diante disso, estou dando uma informação em primeira mão para vocês. Conversei hoje (quarta) com o Controle Interno da Câmara, para ver se temos essa possibilidade de também cortar essas despesas com carro. E vou também tentar cortar a verba do brunch (lanche para os vereadores), que não vejo necessidade. Se lá atrás eu batia nisso, por que agora eu vou manter? Isso é um ponto certo. Os vereadores vão chegar para a sessão e terão que vir de casa com o lanche tomado.
Folha — Até o momento não há pesquisa divulgada, mas a impressão é que a onda verde que elegeu Rafael no primeiro turno, em todas as zonas eleitorais do município, não é a mesma. Fala-se que 2019 seria fundamental para tentar recuperar a popularidade do prefeito para 2020, quando ele já disse, em entrevista à Folha, que disputará a reeleição. Concorda?
Fred — Concordo com as duas teses. Quanto à perda de popularidade, não foi só Rafael. Nós, vereadores da base, também, porque acreditamos em um projeto com o pé no chão. Mas nós pegamos, realmente, um município com problemas. Hoje estamos vivendo isso com o Governo do Estado. Eu tenho certeza que o Governo do Estado terá dificuldades em manter as contas em dia e pagar o funcionalismo. Aqui, em Campos, nós ficamos desprovidos de recursos e até hoje estamos pagando dívidas do passado.
Folha — Isso porque a Câmara, com o ex-procurador Robson Maciel Junior, conseguiu revisar no TRF-2 o contrato draconiano que os Garotinho fecharam com a Caixa na “venda do futuro” de Campos. Do contrário, seria muito pior.
Fred — Sim, o apoio do Robson foi fundamental. Por um lado eu fico triste de ele ter nos deixado, mas fico muito feliz por ele estar buscando o espaço dele. Conversei com ele, vai ser pessoa que vai estar sempre ao meu lado. Fiquei com a Procuradoria que ele avalizou. Em relação à popularidade do governo, voltando à pergunta, aquilo que a gente perdeu, vamos recuperar através do Centro de Segurança Alimentar e Nutricional (Cesan), o antigo Restaurante Popular.
Folha — Tem o Hospital São José, a Clínica da Criança, a retomada de obras no Palácio da Cultura e no Mercado. Isso tudo Rafael anunciou para 2019.
Fred — Tem vários projetos. Eu vou conversar com Rafael, até mesmo para tomar pé da situação, conhecer o cronograma dessas obras, passar para os vereadores. E a gente realmente espera ver essa popularidade crescer. Rafael é um político pé no chão. Eu acredito muito nele por isso. Não vi Rafael falar uma coisa, dita por ele a mim, que ele não tenha cumprido. Acontecendo, todo aquele decréscimo de popularidade que os vereadores da base tiveram, vai se tornar um acréscimo de popularidade, porque a gente tem brigado junto com ele para que a nossa cidade prospere. E tem também a questão do transporte, que é uma parte fundamental e que se der certo esse sistema tronco-alimentador, que o IMMT e o prefeito estão montando. Se isso funcionar realmente, a gente vai ter as vans saindo dos distritos, tendo ponto de encontro com os ônibus. Se isso combinar, bater certinho, com a passagem a R$ 2,75, a gente vai ganhar muito com isso.
Folha — Marcão deve entrar em fevereiro no governo. Especula-se que seria na secretaria de Desenvolvimento Humano e Social. Na entrevista à Folha, Rafael não confirmou o cargo. É isso mesmo?
Fred — Sinceramente, eu não tenho essa informação sobre para onde Marcão iria, mas eu acredito muito na Sana (Gimenes, secretária de Desenvolvimento Humano e Social), no trabalho que ela faz. É uma pessoa que, caso Marcão vá para o Desenvolvimento Humano e Social, pode fazer um grande trabalho em outra pasta. E com relação a Marcão, ele é um político nato. Tenho uma estima muito grande por ele, somos amigos, tanto que eu o apoiei nas eleições. Fui a Carla conversar sobre ele, fomos juntos, ela disse que não poderia apoiar Marcão, porque já tinha outros compromissos, mas que não iria atrapalhar. Devo muito também à minha irmã, por ela ter entendido minha parte política. Assim como eu devo o meu primeiro mandato a ela, por ter me lançado candidato, agora eu tenho que fazer com que ela tenha orgulho de saber que o irmão dela anda com as próprias pernas.
Folha — Por falar em Carla, em 2012, ela encerrava o segundo mandato como prefeita de SJB e tinha grande aceitação do eleitorado campista. Naquele pleito ela participou bastante da sua campanha e você foi eleito com 4.956 votos. Já em 2016, quando Carla teve como foco a própria disputa à Prefeitura de SJB, sua votação caiu para 1.953. Você acredita que o fato de sua irmã ter ficado mais distante da sua campanha possa ter influenciado nesse resultado?
Fred — Com certeza influenciou. Mas o que mais influenciou foram as dificuldades, quando éramos oposição e não tínhamos a possibilidade de fazer nada pela população. Hoje é totalmente diferente. Recebi um telefonema da vereadora Josiane, me falando de uma pessoa que precisava fazer uma cirurgia cervical. A gente não tem na cidade essa prótese. A gente tem de mandar a pessoa para o IOT, lá no Rio. E eu já combinei com ela para segunda-feira a gente tentar resolver isso juntos.
Folha — Na legislatura passada isso não acontecia: a oposição pleitear junto ao governo?
Fred — A oposição não tinha como ser atendida com nenhum pedido, nem com poda de árvore. Se a gente precisasse da poda de árvore na rua da nossa casa, ia um outro vereador lá, do governo, fazer o pedido. Agora, não. Os vereadores, e eu tenho como provar, quando chegavam para mim, como líder do governo, eu levava as demandas ao prefeito e eram resolvidas. A falta de apoio da minha irmã influenciou, mas muito mais por a gente não ter tido espaço, hora nenhuma, no governo anterior.
Folha — No ano passado você sofreu um princípio de infarto antes de uma sessão extraordinária e chegou a passar por um procedimento cirúrgico. No retorno à Câmara, disse que “pegaria mais leve”. No entanto, deixou a liderança do governo para assumir a presidência da Casa. Este fardo é mais leve?
Fred — Não.
Folha — Pensou que seria?
Fred — Também não.
Folha — Conversou com o médico antes de aceitar?
Fred — Conversei (risos). Eu tenho tentado realmente trabalhar os problemas de uma outra forma. Eu trabalhava somatizando demais os problemas. Antes a gente ficava tenso demais, achando que de repente a gente tinha condições de resolver tudo. E, no fundo, a vida não é assim. Nem Jesus agradou a todos. Hoje mesmo estou vivendo essa situação lá na Câmara. Se eu cortar os carros, como falei, alguns vereadores vão ficar chateados. No entanto, a maioria da população vai ficar porque está mostrando que a gente está dando uma cara nova para Câmara, dando valor ao pouco recurso que a gente tem. Para que a gente possa chegar ao final estabelecido, sem problemas para contingenciamento. Isso incomoda muito. Hoje, se eu precisar fazer um contingenciamento de 3% em cima de (um salário de) R$ 3 mil dá R$ 90. De 30%, dá R$ 900. E aí já é a mensalidade de uma escola, por exemplo. Eu penso como se fosse comigo. Eu estou ali e eu não gostaria de perder, como nos perdermos com Dr. Edson (Batista, PTB, presidente da Câmara no governo Rosinha). Teve um contingenciamento de 30% que nós fomos favoráveis, à época, não discutimos, porque sabíamos que era um problema que acontece. Na época eu falei que era um problema comum em Tribunal de Contas do Estado. É o teto, o limite. E hoje eu quero trabalhar um pouco mais folgado em relação a isso. Então, o que estou pensando em fazer é projetar nos dois anos aquilo que a gente vai gastar e se tiver de tirar 3%, não é nada demais. E nem vai ser feito, não há nada que aponte para esse caminho. Mas, se houver, eu já cheguei para os vereadores e conversei, que é melhor a gente fazer agora, de 3%, do que deixar para depois e ter que fazer de 30%. Mas, com certeza gostaria de frisar: nenhum apontamento financeiro foi colocado ainda para mim, para que a gente tenha que fazer isso, para não criar alarde. Porque, com certeza, o dia que tiver de ser feito, logo estarei passando para as pessoas. Na gestão anterior, que teve de demitir os funcionários com Regime de Pagamento Autônomo (RPA), talvez para mim tenha sido bom.
Folha — Poupou você de ter que fazer o corte?
Fred — Ruim, por um lado, porque agora eu fico pressionado nessa questão dos empregos, mas bom, também, porque não fui eu que tive de fazer. Tem as empresas terceirizadas que eu vou ter de voltar, a parte de vigilância, portaria. Eu sei que eu preciso economizar no lanche, no carro. A relação de RPA para terceirizado é de 1 para 2,8. O que pagava no RPA mil, se paga R$ 2,8 a 3 mil para terceirizado. Não estou dizendo que Marcão não fez o que deveria ser feito, mas cada um tem a sua administração. Eu prefiro trabalhar com RPA zero na Câmara.
Folha — Após assumir a presidência, um dos seus primeiros atos foi não prorrogar o corte de 30% dos salários dos comissionados, que durou entre outubro e dezembro de 2018. Você falou também em contingenciar, que é melhor cortar 3% agora do que cortar 30% depois. Na comparação entre os ex-presidentes Nelson Nahim e Edson Batista, que virou no folclore da Câmara de Campos, você quer ser bolo de fubá ou bolo Amélia? Vai deixar farelo quando tiver que cortar a fatia?
Fred — Eu tenho conversado muito com os vereadores para mostrar a real situação da Casa. Eu já penso em cortar bastante sessões solenes na Câmara porque isso gera custo. Já começamos a conversar sobre as moções de aplausos que existem dentro do regimento, eu posso estar colocando e vou colocar cinco moções de aplausos por mês, para cada vereador. Isso é regimental, não estou inventando. Quando você faz uma sessão solene, dependendo de qual for, tem que colocar rosas, trazer pessoas para fazer o cerimonial e tudo isso envolve custos. Essas medidas já são certas de acontecerem, das cinco menções de aplausos por mês para cada vereador, cortar o lanche e sessões solenes.
Folha — E os carros?
Fred — Sobre os carros estarei conversando nesta semana com alguns vereadores. Já tenho de acordo o próprio Alonsimar. Eu sei que vai ter controvérsias, mas eu, como presidente da Câmara, tenho que ouvir a maioria. Se a maioria estiver comigo e achar que a gente deve fazer, vai ser feito.
Folha — Em dezembro do ano passado Marcão precisou dispensar 31 porteiros depois que a Polícia Federal foi à Câmara para dizer que porteiros e vigilantes não poderiam ser contratados por meio de RPA e, sim, por uma empresa especializada. Marcão, na época, disse que era uma coisa que ficaria para sua gestão. Existe alguma solução para a questão dos vigilantes? Há necessidade da Câmara ter esse número de porteiros, maior do que o de vereadores?
Fred — Marcão não contratou vigilantes. Não eram pessoas armadas. Ficou o nome de porteiro, mas no fundo, eles também faziam a segurança do plenário sem arma. Mas temos que fazer o que a Justiça manda. Ele, infelizmente, na mesma hora que recebeu a notificação, exonerou todos. Isso mostra sua obediência à decisão judicial. O que vou fazer é tentar não ter esse erro, já que eu tivesse esse privilégio de saber que isso não poderia ser feito. O que vai ter que acontecer? Já existe licitação para vigilante. Temos que cortar os custos de carro, lanche para também suportar essa demanda que vou ter. E vou chamar a empresa que ganhar a licitação para diminuir o número de postos. Não existe condição orçamentária para que a gente fique com 38 postos.
Folha — Você é do PPS, mesmo partido do prefeito. Vocês têm uma relação desde a legislatura passada, na oposição aos Garotinho. Depois, foi líder do governo Rafael. Mas antes da sua eleição a presidente, você falou à coluna Ponto Final que não seria nela um capacho como foi Edson Batista. Como será a relação entre os poderes Legislativo e Executivo de Campos?
Fred — Eu nem gostaria de repetir o que falei, porque no fundo eu sempre tive um grande respeito por dr. Edson. Só que ele realmente deixa a desejar porque não deixava com que a oposição tivesse vida dentro da Câmara.
Folha — E você e Rafael?
Fred — Eu e Rafael temos uma amizade muito grande.
Folha — Mas como presidente da Câmara e prefeito.
Fred — Rafael não sabe onde tem um grampo dentro da Câmara, não sabe onde é a sala de um vereador sequer. Se foi na Câmara duas ou três vezes, é muito. Acho, sim, que temos que ter harmonia entre Legislativo e Executivo.
Folha — Qual o limite entre harmonia e independência?
Fred — Acredito que no meu caso, nunca tive de Rafael alguma situação que me faça sentir dependente.
Folha — Falo da Casa, não de você.
Fred — Eu me incluo na Casa, como presidente, e tenho certeza de que se eu tiver de chegar para Rafael e solicitar que reveja alguns cálculos que possa estar beneficiando a Câmara em prol da população, ele verá com boa vontade. Hoje temos uma estimativa de perdermos 0,5%. A primeira coisa que fiz foi chegar no prefeito e falar: “Prefeito, esse duodécimo vai baixar de 5% para 4,5%”. A abertura que temos com o prefeito, como presidente da Câmara, foi mostrada assim. Ele disse: “Fred, se houver alguma coisa que a Prefeitura esteja faltando repassar para a Câmara, que você tenha a liberdade de ir na secretaria de Fazenda, resolver e me trazer”. Ele quer fazer o certo e eu também.
Folha — E foi resolvido sobre o duodécimo?
Fred — Estamos resolvendo já. Estou com o grupo formado pelo pessoal da auditoria interna, tem um pessoal da secretaria de Fazenda. Temos consultas também ao Tribunal de Contas do Estado.
Folha — Falando sobre a condução da Casa, você vai comandar o Legislativo em um ano eleitoral, em 2020. Como mediar a Câmara para que o debate não seja voltado apenas a política partidária e, sim, de coisas que sejam do interesse do município?
Fred — Fazendo isso que te falei. Colocando projetos em pauta, trabalhando também audiências públicas que realmente venham interessar a população. Acredito também que eu teria condições, através da Emugle (Escola Municipal de Gestão do Legislativo), de fazer alguns programas que todos os vereadores possam estar passando, alguma coisa para a população, trabalhar na rádio Câmara e, principalmente, voltar com o Parlamento Regional.
Folha — Na véspera da sua eleição, além da expectativa da votação unânime, você também falou ao Ponto Final sobre o Parlamento Regional. Qual a importância disso?
Fred – Isso. Já pedi para pegarem todos os papéis, a primeira ata, vou buscar junto com São Francisco, São João da Barra, municípios vizinhos. Vamos trabalhar bastante isso. Lá atrás, cheguei a falar que enquanto comíamos caviar, o povo passava fome, acho que agora tenho que dar o exemplo. Se é uma prerrogativa do presidente poder tirar esse lanche, já avisei ao pessoal que não vai ter.
Folha — Em 2016, antes das convenções, o nome de Carla chegou a ser cogitado como possibilidade de vir candidata à Prefeitura de Campos. Mas ela acabou concorrendo e levando pela terceira vez a Prefeitura de SJB. Especula-se que ela poderia pensar nisso em 2020. Como presidente da Câmara, aliado do prefeito Rafael e irmão da prefeita Carla Machado, existe essa possibilidade?
Fred — Eu converso bastante com a minha irmã. Não vejo essa possibilidade. Carla, como todos dizem, na gíria popular, é minhoca da terra. Carla tem um amor muito grande por São João da Barra. Tenho certeza que, muitas vezes, quando se especula isso, se não fosse você especulando isso, eu ia achar que fosse a oposição, que talvez quisesse me fazer afastar do prefeito. Mas, isso já foi conversado uma série de vezes com a minha irmã. Com certeza, ela não tem vontade nenhuma de vir candidata a prefeita em Campos. E eu me sinto muito tranquilo, porque sei da amizade que ela tem com Rafael, que a admira muito. Não vejo possibilidade nenhuma disso acontecer. Eu estou muito tranquilo em relação a isso, porque eu converso direto com ela. Isso é uma coisa que se especula, como eu disse, pelo lado da oposição, para criar, realmente, uma divisão.
Folha — Você abstraiu a pergunta anterior de dolo de oposição, o que é bom. E há campistas que não são da oposição e veem com bons olhos a possibilidade de Carla concorrer a prefeita de Campos. Como viram em 2016, quando isso foi cogitado. Não há nenhuma possibilidade?
Fred — Eu me sinto, como irmão, orgulhoso das pessoas pensarem em Carla aqui. Sinal que ela faz um bom governo lá.
Folha — Um exemplo? Quando foi prestigiá-lo na posse como presidente da Câmara de Campos, Carla foi ovacionada pelo público.
Fred — Eu acho que ela deu mais Ibope do que eu, né? Mas é isso, ela tem um carisma muito grande, é uma pessoa com uma experiência política grande, gosta do que faz. E eu acho que o Rafael é a mesma coisa. Ele também gosta muito do que faz, está passando a ter essa experiência no Executivo, enquanto Carla já está no terceiro mandato. É uma diferença muito grande. A mesma coisa se você pegar o Marcão, hoje, com essa bagagem que já teve desses dois anos, e eu começando agora. Não tem nada demais eu pedir conselhos, chegar para ele e falar: “Olha, isso aqui é por aqui mesmo?”. É o que eu faço. Eu tenho Marcão como amigo. Ouço o Robinho também. A equipe da espinha dorsal da Câmara, eu não mexi, porque confio nas pessoas. A parte política eu deixei de lado, porque se fosse pensar só em parte política, tiraria todos. Mas, não. Eu quero trabalhar, e trabalhar bem. Trabalhando bem, a minha parte política prospera. Do que adianta eu tirar pessoas pensando politicamente e me atrasar administrativamente? Então, eu mantive a espinha dorsal da Câmara, que é a superintendência, o controle interno. Um bom trabalho administrativo vai refletir politicamente para mim.
Folha — Ainda sobre a sua irmã, há quem comente, também, que a única possibilidade de ela não ser candidata à mais uma reeleição em SJB, seria sua condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na operação Machadada, caso se confirmem as decisões do juízo local e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Carla só estaria fora do jogo se fosse condenada?
Fred — Eu acredito que ela pensa em ser reeleita. E, com certeza, o trabalho que ela tem feito faz com que seja franca favorita. Esses problemas judiciais sendo resolvidos, com certeza o nome ideal para voltar a ser prefeita de São João da Barra é Carla Machado.
Folha — Acredita que os problemas jurídicos serão resolvidos?
Fred — Eu tenho praticamente certeza que vão ser resolvidas, pelas defesas que foram feitas. Inclusive, a gente sempre conversa sobre isso e eu a vejo muito tranquila. Quem não deve não teme. Ela me fala sempre isso: “Ico, eu não devo, não tenho o que temer”. Mas, acredito que, caso haja algum problema, ela terá a alternativa certa. Uma vez que ela já foi traída, ela vai pensar com muito mais calma, com mais razoabilidade nas pessoas que ela vai colocar.
Folha — Traída por Neco (ex-prefeito de SJB)?
Fred — Isso, traída por Neco.
Folha — Qual avaliação você faz da metade dos governos Rafael e Carla? Poderia fazer uma comparação entre eles?
Fred — Eu vejo como duas situações distintas. Rafael pegou já com dois empréstimos feitos pela Rosinha, com a “venda do futuro”, que nós fomos veementemente contra. E avisávamos que nossos filhos iriam pagar. Muita gente não acredita nisso na época. E é aquilo que eu falei lá atrás, quando você entra, assim como eu estou me colocando, hoje, como um presidente de Câmara inexperiente ainda, eu vejo Rafael ainda como novo no Executivo; não inexperiente, mas novo. Carla já acompanhava, já sabia o quanto ela ia pegar de problemas. E desde o começo ela cortou todos os benefícios, aluguel social, e a gente ainda demorou um pouquinho para fazer isso.
Folha — Você acha que o governo de Campos errou nisso?
Fred — Talvez não tenha sido um erro. Eu acredito que tenha faltado, talvez, a gente saber como estava a casa. A transição foi tumultuada, documentos que sumiam, a gente não sabia daqueles empenhos que tinham sido cancelados. A gente chegou até a conversar no começo sobre essa situação: que, se tivesse de cortar alguma coisa, seria melhor fazer logo de início. No fundo, achei que ele foi coerente, porque ele não sabia o que ia encontrar. Carla, com a experiência que ela tinha já de dois mandatos, já sabia mais ou menos o que ia encontrar e já entrou com o pé na porta. Quando a gente entra em um cargo pela primeira vez, é muito difícil não ter uma pessoa do seu lado que já tenha participado. Eu converso com vereadores da oposição, com vereadores que estão envolvidos na Chequinho. No fundo, eu sei o modus operandi que eles trabalhavam lá. Só que eu me mantenho sempre quieto, porque eu acho que a confiança é uma das maiores coisas que a gente pode ter. E se eles falam alguma coisa comigo, é porque têm confiança. E eu me mantenho quieto e procuro não errar da forma que eles erraram. Então, eu acredito que a diferença (entre os governos) é esta: Rafael ter entrado, ter montado uma equipe, mas não ter tido tempo de ver que o tamanho do problema de Campos é bem maior, por conta da quantidade de vereadores, da extensão territorial que nós temos. E também, por conta de não termos uma equipe, já que na de Carla ela mudou peças no governo, mas conservou algumas. A de Rafael teve de mudar praticamente toda.
Folha — Mas qual a sua avaliação da primeira metade do governo Rafael e da primeira metade do governo Carla?
Fred — Avalio como mais favorável para Carla.
Folha — De 0 a 10, para um e o outro?
Fred — Colocaria 6 para Rafael e 8 para Carla. Fazendo um adendo que tanto lá, como cá, essa média sobe.
Folha — Comenta-se que o verão no Farol seria o primeiro passo nessa retomada de popularidade do governo de Campos. Isso seria fruto não só com a parceria com o Sesc nos shows, mas com Rafael resgatando talvez sua maior virtude como político, que é o contato corpo a corpo com o eleitor, após ter passado os dois primeiros anos mais fechado no Cesec. Como você avalia isso?
Fred — Eu comparo a mim, neste momento que estou. No momento que você entra em um cargo público que você nunca ocupou, se a gente não se fechar um pouco para tomar pé da situação, a gente não consegue pegar as rédeas das coisas. E o que Rafael sabe fazer bem é política, na rua, corpo a corpo, é uma pessoa super simpática, que dá valor às pessoas. Ele não é político só para ter voto, é para ajudar. Eu já vi Rafael ajudar pessoas que viviam falando mal dele em Facebook, principalmente na doença, assim como Carla. Acho que os dois têm muita identificação nessa parte de saúde. Independente de aqui em Campos ainda estarmos com problemas sérios. Mas com certeza, em 2019, tanto Campos como SJB vão dar um grande salto. A gente tem que trabalhar a parceria público privada direto e Rafael solto na rua, os vereadores trabalhando os projetos, vendo as demandas que a população realmente precisa, levando até o prefeito. O vereador é importante demais.
Folha — O ex-deputado Feijó disse em entrevista à Folha no último domingo (27) que Marcão não teria sido eleito deputado federal porque o grupo do governo não fechou integralmente com ele. Concorda?
Fred — O deputado acompanhou melhor do que eu, ele esteve muito junto com Marcão na eleição. Eu ajudei Marcão em reuniões, em algumas situações. Então, no fundo, o grupo que eu via nas reuniões era o grupo de governo. Mas, deixei de ver, realmente, algumas pessoas.
Folha — Para essa retomada em 2019, não é fundamental que essas ausências não ocorram mais?
Fred — Concordo e vou trabalhar para isso, principalmente dentro da Câmara. Vou trabalhar para que a gente mantenha a unidade. Acho que é importante a gente ter como primordial a eleição de Rafael. Independente de eu estar vereador ou não, estando no grupo, eu tenho certeza que vou ser valorizado. E eu acho que é isso que os vereadores do grupo da base devem pensar. Vamos focar na eleição de Rafael.
Folha — Você deu nota 6 para Rafael e 8 para Carla. Prevê uma nota para o final desses governos?
Fred — Eu torço para 10 e 10 (risos).
Folha — Você torce. Mas o que espera de fato?
Fred — Coloco as dificuldades de Campos maiores. Então, que seja 10 a 9. Já fico satisfeito.
Gestões Rafael e Carla sob análise
Folha da Manhã — Você fez parte de um pequeno grupo de oposição na legislatura passada, que conseguiu eleger o então vereador Rafael Diniz (PPS) prefeito no 1º turno, vencendo em todas as zonas eleitorais de Campos. E foi líder do governo, antes de substituir Marcão Gomes (PR) na presidência da Câmara. Para quem esteve dos dois lados, dá pra dizer que é mais fácil ser pedra do que vidraça na política?
Fred Machado — Eu acredito que ser pedra e vidraça na política são mais ou menos parecidos, por conta das responsabilidades que você tem. A gente tem que estar aceitando as críticas, fazendo políticas construtivas e tentar melhorar. Na época que eu caminhei como pedra, nós nunca inventamos nada em relação ao governo. A gente falava em bases sólidas. Espero que agora também como vidraça eu possa também aceitar as críticas construtivas, mas também em bases sólidas.
Folha — E se não forem?
Fred — Quando não forem, eu vou falar a verdade. E aí a gente tem como discutir a veracidade e a falsidade dos fatos. Quando a gente está como vidraça, é mais fácil a gente ser atingido por uma pedra, mas com certeza o diálogo é a coisa mais importante. E eu vou prezar muito pela transparência na Câmara. A gente já está mudando, mexendo no Portal da Transparência, recebendo umas demandas de pessoas físicas. Vamos fazer uns acertos no Portal da Transparência. Já conversei com meu grupo que eu quero essa transparência, que eu sempre prezei lá atrás, possa acontecer agora no momento que eu estou como presidente da Câmara. A gente tem uma lei 12.527 que é a lei da transparência do governo federal. E ela tem algumas coisas que a gente precisa estar implantando no nosso site, tal como um formulário onde as pessoas podem estar formatando suas perguntas. A gente tem que estar colocando também o e-sic (Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão) que é uma ferramenta importante, um sistema de informação do cidadão. Você ali também através do e-sic, seria uma pergunta mais sucinta, não seria uma coisa muito grande e que você poderia estar naquele momento mesmo dando a resposta, como tem também o prazo na Lei de Acesso da Informação que a gente tem documentos, várias coisas que a gente teria até 20 dias de prazo para responder e mais dez. Então aquilo que a gente puder responder de imediato a gente vai responder de imediato.
Folha — Você foi líder do governo, na linha de frente contra a oposição. Apesar disso, foi eleito presidente da Câmara por unanimidade, como a Folha adiantou na coluna Ponto Final. Ocupando por dois anos uma posição de enfrentamento, como conseguiu depois essa unanimidade?
Fred — No fundo, eu sempre fui uma pessoa de muito contato, de muita conversa. Eu acredito que a gente não consegue chegar a algum lugar se a gente não conversar com as bases. E hoje eu tenho contato direto com os que hoje se dizem independentes. Por que lá na Câmara hoje não se cita grupo de oposição, se cita grupo de independentes. Quando eles querem uma reunião comigo, eles chegam e falam: “Fred, você teria tempo de receber o grupo dos ‘independentes’?”.
Folha — Os “independentes” são os vereadores de oposição?
Fred — Os “independentes” que eu me refiro seriam Álvaro Oliveira (SD), Alonsimar (PTC), Renatinho do Eldorado (PTC), Josiane (PRP) e Eduardo Crespo (PR). Graças a Deus, eu nunca tive um desentendimento com ninguém, mesmo sendo oposição. Por que eu acredito que cada um está ali para disputar o seu espaço, suas convicções ideológicas e não brigar. Aliás, brigam as ideias e não as pessoas. A pessoa ali discute, debate, mas ali atrás (da Câmara) a gente tem um tratamento formal, respeitoso. Eu como líder do governo atendi a diversas solicitações de vereadores da oposição. Então eu acho que esse entendimento fez com que a gente tivesse essa unanimidade e acredito que vai ser assim com a Câmara. Hoje, eles têm visto o quanto de atenção eu tenho dado a eles. Eu tenho apenas aquela vontade em fazer com que o grupo continue unido e que eu possa cada vez mais unir esse grupo em prol do Legislativo. Aquilo que aquele vereador de oposição não tem, aquele outro também não terá. Pela minha vontade, eu terminaria com os carros na Câmara. A Câmara tinha alguns carros alugados, que serviam aos vereadores. Já que houve o gancho da Alerj, acho que também poderíamos adotar a medida e acabar com os carros, até mesmo para evitar questionamento em época eleitoral. Diante disso, estou dando uma informação em primeira mão para vocês. Conversei hoje (quarta) com o Controle Interno da Câmara, para ver se temos essa possibilidade de também cortar essas despesas com carro. E vou também tentar cortar a verba do brunch (lanche para os vereadores), que não vejo necessidade. Se lá atrás eu batia nisso, por que agora eu vou manter? Isso é um ponto certo. Os vereadores vão chegar para a sessão e terão que vir de casa com o lanche tomado.
Folha — Até o momento não há pesquisa divulgada, mas a impressão é que a onda verde que elegeu Rafael no primeiro turno, em todas as zonas eleitorais do município, não é a mesma. Fala-se que 2019 seria fundamental para tentar recuperar a popularidade do prefeito para 2020, quando ele já disse, em entrevista à Folha, que disputará a reeleição. Concorda?
Fred — Concordo com as duas teses. Quanto à perda de popularidade, não foi só Rafael. Nós, vereadores da base, também, porque acreditamos em um projeto com o pé no chão. Mas nós pegamos, realmente, um município com problemas. Hoje estamos vivendo isso com o Governo do Estado. Eu tenho certeza que o Governo do Estado terá dificuldades em manter as contas em dia e pagar o funcionalismo. Aqui, em Campos, nós ficamos desprovidos de recursos e até hoje estamos pagando dívidas do passado.
Folha — Isso porque a Câmara, com o ex-procurador Robson Maciel Junior, conseguiu revisar no TRF-2 o contrato draconiano que os Garotinho fecharam com a Caixa na “venda do futuro” de Campos. Do contrário, seria muito pior.
Fred — Sim, o apoio do Robson foi fundamental. Por um lado eu fico triste de ele ter nos deixado, mas fico muito feliz por ele estar buscando o espaço dele. Conversei com ele, vai ser pessoa que vai estar sempre ao meu lado. Fiquei com a Procuradoria que ele avalizou. Em relação à popularidade do governo, voltando à pergunta, aquilo que a gente perdeu, vamos recuperar através do Centro de Segurança Alimentar e Nutricional (Cesan), o antigo Restaurante Popular.
Folha — Tem o Hospital São José, a Clínica da Criança, a retomada de obras no Palácio da Cultura e no Mercado. Isso tudo Rafael anunciou para 2019.
Fred — Tem vários projetos. Eu vou conversar com Rafael, até mesmo para tomar pé da situação, conhecer o cronograma dessas obras, passar para os vereadores. E a gente realmente espera ver essa popularidade crescer. Rafael é um político pé no chão. Eu acredito muito nele por isso. Não vi Rafael falar uma coisa, dita por ele a mim, que ele não tenha cumprido. Acontecendo, todo aquele decréscimo de popularidade que os vereadores da base tiveram, vai se tornar um acréscimo de popularidade, porque a gente tem brigado junto com ele para que a nossa cidade prospere. E tem também a questão do transporte, que é uma parte fundamental e que se der certo esse sistema tronco-alimentador, que o IMMT e o prefeito estão montando. Se isso funcionar realmente, a gente vai ter as vans saindo dos distritos, tendo ponto de encontro com os ônibus. Se isso combinar, bater certinho, com a passagem a R$ 2,75, a gente vai ganhar muito com isso.
Folha — Marcão deve entrar em fevereiro no governo. Especula-se que seria na secretaria de Desenvolvimento Humano e Social. Na entrevista à Folha, Rafael não confirmou o cargo. É isso mesmo?
Fred — Sinceramente, eu não tenho essa informação sobre para onde Marcão iria, mas eu acredito muito na Sana (Gimenes, secretária de Desenvolvimento Humano e Social), no trabalho que ela faz. É uma pessoa que, caso Marcão vá para o Desenvolvimento Humano e Social, pode fazer um grande trabalho em outra pasta. E com relação a Marcão, ele é um político nato. Tenho uma estima muito grande por ele, somos amigos, tanto que eu o apoiei nas eleições. Fui a Carla conversar sobre ele, fomos juntos, ela disse que não poderia apoiar Marcão, porque já tinha outros compromissos, mas que não iria atrapalhar. Devo muito também à minha irmã, por ela ter entendido minha parte política. Assim como eu devo o meu primeiro mandato a ela, por ter me lançado candidato, agora eu tenho que fazer com que ela tenha orgulho de saber que o irmão dela anda com as próprias pernas.
Folha — Por falar em Carla, em 2012, ela encerrava o segundo mandato como prefeita de SJB e tinha grande aceitação do eleitorado campista. Naquele pleito ela participou bastante da sua campanha e você foi eleito com 4.956 votos. Já em 2016, quando Carla teve como foco a própria disputa à Prefeitura de SJB, sua votação caiu para 1.953. Você acredita que o fato de sua irmã ter ficado mais distante da sua campanha possa ter influenciado nesse resultado?
Fred — Com certeza influenciou. Mas o que mais influenciou foram as dificuldades, quando éramos oposição e não tínhamos a possibilidade de fazer nada pela população. Hoje é totalmente diferente. Recebi um telefonema da vereadora Josiane, me falando de uma pessoa que precisava fazer uma cirurgia cervical. A gente não tem na cidade essa prótese. A gente tem de mandar a pessoa para o IOT, lá no Rio. E eu já combinei com ela para segunda-feira a gente tentar resolver isso juntos.
Folha — Na legislatura passada isso não acontecia: a oposição pleitear junto ao governo?
Fred — A oposição não tinha como ser atendida com nenhum pedido, nem com poda de árvore. Se a gente precisasse da poda de árvore na rua da nossa casa, ia um outro vereador lá, do governo, fazer o pedido. Agora, não. Os vereadores, e eu tenho como provar, quando chegavam para mim, como líder do governo, eu levava as demandas ao prefeito e eram resolvidas. A falta de apoio da minha irmã influenciou, mas muito mais por a gente não ter tido espaço, hora nenhuma, no governo anterior.
Folha — No ano passado você sofreu um princípio de infarto antes de uma sessão extraordinária e chegou a passar por um procedimento cirúrgico. No retorno à Câmara, disse que “pegaria mais leve”. No entanto, deixou a liderança do governo para assumir a presidência da Casa. Este fardo é mais leve?
Fred — Não.
Folha — Pensou que seria?
Fred — Também não.
Folha — Conversou com o médico antes de aceitar?
Fred — Conversei (risos). Eu tenho tentado realmente trabalhar os problemas de uma outra forma. Eu trabalhava somatizando demais os problemas. Antes a gente ficava tenso demais, achando que de repente a gente tinha condições de resolver tudo. E, no fundo, a vida não é assim. Nem Jesus agradou a todos. Hoje mesmo estou vivendo essa situação lá na Câmara. Se eu cortar os carros, como falei, alguns vereadores vão ficar chateados. No entanto, a maioria da população vai ficar porque está mostrando que a gente está dando uma cara nova para Câmara, dando valor ao pouco recurso que a gente tem. Para que a gente possa chegar ao final estabelecido, sem problemas para contingenciamento. Isso incomoda muito. Hoje, se eu precisar fazer um contingenciamento de 3% em cima de (um salário de) R$ 3 mil dá R$ 90. De 30%, dá R$ 900. E aí já é a mensalidade de uma escola, por exemplo. Eu penso como se fosse comigo. Eu estou ali e eu não gostaria de perder, como nos perdermos com Dr. Edson (Batista, PTB, presidente da Câmara no governo Rosinha). Teve um contingenciamento de 30% que nós fomos favoráveis, à época, não discutimos, porque sabíamos que era um problema que acontece. Na época eu falei que era um problema comum em Tribunal de Contas do Estado. É o teto, o limite. E hoje eu quero trabalhar um pouco mais folgado em relação a isso. Então, o que estou pensando em fazer é projetar nos dois anos aquilo que a gente vai gastar e se tiver de tirar 3%, não é nada demais. E nem vai ser feito, não há nada que aponte para esse caminho. Mas, se houver, eu já cheguei para os vereadores e conversei, que é melhor a gente fazer agora, de 3%, do que deixar para depois e ter que fazer de 30%. Mas, com certeza gostaria de frisar: nenhum apontamento financeiro foi colocado ainda para mim, para que a gente tenha que fazer isso, para não criar alarde. Porque, com certeza, o dia que tiver de ser feito, logo estarei passando para as pessoas. Na gestão anterior, que teve de demitir os funcionários com Regime de Pagamento Autônomo (RPA), talvez para mim tenha sido bom.
Folha — Poupou você de ter que fazer o corte?
Fred — Ruim, por um lado, porque agora eu fico pressionado nessa questão dos empregos, mas bom, também, porque não fui eu que tive de fazer. Tem as empresas terceirizadas que eu vou ter de voltar, a parte de vigilância, portaria. Eu sei que eu preciso economizar no lanche, no carro. A relação de RPA para terceirizado é de 1 para 2,8. O que pagava no RPA mil, se paga R$ 2,8 a 3 mil para terceirizado. Não estou dizendo que Marcão não fez o que deveria ser feito, mas cada um tem a sua administração. Eu prefiro trabalhar com RPA zero na Câmara.
Folha — Após assumir a presidência, um dos seus primeiros atos foi não prorrogar o corte de 30% dos salários dos comissionados, que durou entre outubro e dezembro de 2018. Você falou também em contingenciar, que é melhor cortar 3% agora do que cortar 30% depois. Na comparação entre os ex-presidentes Nelson Nahim e Edson Batista, que virou no folclore da Câmara de Campos, você quer ser bolo de fubá ou bolo Amélia? Vai deixar farelo quando tiver que cortar a fatia?
Fred — Eu tenho conversado muito com os vereadores para mostrar a real situação da Casa. Eu já penso em cortar bastante sessões solenes na Câmara porque isso gera custo. Já começamos a conversar sobre as moções de aplausos que existem dentro do regimento, eu posso estar colocando e vou colocar cinco moções de aplausos por mês, para cada vereador. Isso é regimental, não estou inventando. Quando você faz uma sessão solene, dependendo de qual for, tem que colocar rosas, trazer pessoas para fazer o cerimonial e tudo isso envolve custos. Essas medidas já são certas de acontecerem, das cinco menções de aplausos por mês para cada vereador, cortar o lanche e sessões solenes.
Folha — E os carros?
Fred — Sobre os carros estarei conversando nesta semana com alguns vereadores. Já tenho de acordo o próprio Alonsimar. Eu sei que vai ter controvérsias, mas eu, como presidente da Câmara, tenho que ouvir a maioria. Se a maioria estiver comigo e achar que a gente deve fazer, vai ser feito.
Folha – Em dezembro do ano passado Marcão precisou dispensar 31 porteiros depois que a Polícia Federal foi à Câmara para dizer que porteiros e vigilantes não poderiam ser contratados por meio de RPA e, sim, por uma empresa especializada. Marcão, na época, disse que era uma coisa que ficaria para sua gestão. Existe alguma solução para a questão dos vigilantes? Há necessidade da Câmara ter esse número de porteiros, maior do que o de vereadores?
Fred – Marcão não contratou vigilantes. Não eram pessoas armadas. Ficou o nome de porteiro, mas no fundo, eles também faziam a segurança do plenário sem arma. Mas temos que fazer o que a Justiça manda. Ele, infelizmente, na mesma hora que recebeu a notificação, exonerou todos. Isso mostra sua obediência à decisão judicial. O que vou fazer é tentar não ter esse erro, já que eu tivesse esse privilégio de saber que isso não poderia ser feito. O que vai ter que acontecer? Já existe licitação para vigilante. Temos que cortar os custos de carro, lanche para também suportar essa demanda que vou ter. E vou chamar a empresa que ganhar a licitação para diminuir o número de postos. Não existe condição orçamentária para que a gente fique com 38 postos.
Folha — Você é do PPS, mesmo partido do prefeito. Vocês têm uma relação desde a legislatura passada, na oposição aos Garotinho. Depois, foi líder do governo Rafael. Mas antes da sua eleição a presidente, você falou à coluna Ponto Final que não seria nela um capacho como foi Edson Batista. Como será a relação entre os poderes Legislativo e Executivo de Campos?
Fred — Eu nem gostaria de repetir o que falei, porque no fundo eu sempre tive um grande respeito por dr. Edson. Só que ele realmente deixa a desejar porque não deixava com que a oposição tivesse vida dentro da Câmara.
Folha – E você e Rafael?
Fred – Eu e Rafael temos uma amizade muito grande.
Folha – Mas como presidente da Câmara e prefeito.
Fred – Rafael não sabe onde tem um grampo dentro da Câmara, não sabe onde é a sala de um vereador sequer. Se foi na Câmara duas ou três vezes, é muito. Acho, sim, que temos que ter harmonia entre Legislativo e Executivo.
Folha – Qual o limite entre harmonia e independência?
Fred – Acredito que no meu caso, nunca tive de Rafael alguma situação que me faça sentir dependente.
Folha – Falo da Casa, não de você.
Fred – Eu me incluo na Casa, como presidente, e tenho certeza de que se eu tiver de chegar para Rafael e solicitar que reveja alguns cálculos que possa estar beneficiando a Câmara em prol da população, ele verá com boa vontade. Hoje temos uma estimativa de perdermos 0,5%. A primeira coisa que fiz foi chegar no prefeito e falar: “Prefeito, esse duodécimo vai baixar de 5% para 4,5%”. A abertura que temos com o prefeito, como presidente da Câmara, foi mostrada assim. Ele disse: “Fred, se houver alguma coisa que a Prefeitura esteja faltando repassar para a Câmara, que você tenha a liberdade de ir na secretaria de Fazenda, resolver e me trazer”. Ele quer fazer o certo e eu também.
Folha – E foi resolvido sobre o duodécimo?
Fred – Estamos resolvendo já. Estou com o grupo formado pelo pessoal da auditoria interna, tem um pessoal da secretaria de Fazenda. Temos consultas também ao Tribunal de Contas do Estado.
Folha – Falando sobre a condução da Casa, você vai comandar o Legislativo em um ano eleitoral, em 2020. Como mediar a Câmara para que o debate não seja voltado apenas a política partidária e, sim, de coisas que sejam do interesse do município?
Fred – Fazendo isso que te falei. Colocando projetos em pauta, trabalhando também audiências públicas que realmente venham interessar a população. Acredito também que eu teria condições, através da Emugle (Escola Municipal de Gestão do Legislativo), de fazer alguns programas que todos os vereadores possam estar passando, alguma coisa para a população, trabalhar na rádio Câmara e, principalmente, voltar com o Parlamento Regional.
Folha – Na véspera da sua eleição, além da expectativa da votação unânime, você também falou ao Ponto Final sobre o Parlamento Regional. Qual a importância disso?
Fred – Isso. Já pedi para pegarem todos os papéis, a primeira ata, vou buscar junto com São Francisco, São João da Barra, municípios vizinhos. Vamos trabalhar bastante isso. Lá atrás, cheguei a falar que enquanto comíamos caviar, o povo passava fome, acho que agora tenho que dar o exemplo. Se é uma prerrogativa do presidente poder tirar esse lanche, já avisei ao pessoal que não vai ter.
Folha — Em 2016, antes das convenções, o nome de Carla chegou a ser cogitado como possibilidade de vir candidata à Prefeitura de Campos. Mas ela acabou concorrendo e levando pela terceira vez a Prefeitura de SJB. Especula-se que ela poderia pensar nisso em 2020. Como presidente da Câmara, aliado do prefeito Rafael e irmão da prefeita Carla Machado, existe essa possibilidade?
Fred — Eu converso bastante com a minha irmã. Não vejo essa possibilidade. Carla, como todos dizem, na gíria popular, é minhoca da terra. Carla tem um amor muito grande por São João da Barra. Tenho certeza que, muitas vezes, quando se especula isso, se não fosse você especulando isso, eu ia achar que fosse a oposição, que talvez quisesse me fazer afastar do prefeito. Mas, isso já foi conversado uma série de vezes com a minha irmã. Com certeza, ela não tem vontade nenhuma de vir candidata a prefeita em Campos. E eu me sinto muito tranquilo, porque sei da amizade que ela tem com Rafael, que a admira muito. Não vejo possibilidade nenhuma disso acontecer. Eu estou muito tranquilo em relação a isso, porque eu converso direto com ela. Isso é uma coisa que se especula, como eu disse, pelo lado da oposição, para criar, realmente, uma divisão.
Folha — Você abstraiu a pergunta anterior de dolo de oposição, o que é bom. E há campistas que não são da oposição e veem com bons olhos a possibilidade de Carla concorrer a prefeita de Campos. Como viram em 2016, quando isso foi cogitado. Não há nenhuma possibilidade?
Fred — Eu me sinto, como irmão, orgulhoso das pessoas pensarem em Carla aqui. Sin

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