Boemia campista se despede de Zé Psiu
Matheus Berriel 28/01/2019 18:07 - Atualizado em 31/01/2019 15:58
Morreu, na madrugada desta segunda-feira, aos 79 anos, o campista José Carlos Barbosa, proprietário do tradicional bar Ao Gato Preto, em funcionamento há quase um século, desde 2014 tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam) como patrimônio imaterial histórico e cultural do município. O popular Zé Psiu estava internado desde a semana passada no Hospital Ferreira Machado, com um quadro de pancreatite, e não resistiu ao agravamento da infecção. Ele deixou esposa e três filhos adultos. O velório foi realizado na Capela da Santa Casa de Misericórdia, e o sepultamento, no cemitério do Caju.
A história de Zé Psiu foi marcada pela atuação no comércio. Em sua trajetória, teve uma passagem como gerente da extinta padaria da ponte. Depois, com um sócio conhecido como Arão, abriu um bar na rodoviária Roberto da Silveira, nos idos dos anos 1960, antes de abrir outro ponto no Mercado Municipal. Na década de 1980, assumiu Ao Gato Preto. Posteriormente, passou este e abriu o Esquinas Bar, na avenida Alberto Torres, próximo à estação. Não demorou muitos anos para promover nova troca de endereço, continuando na mesma rua, mas em outra loja. No início dos anos 2000, retornou Ao Gato Preto, onde permaneceu até sua doença, na rua Vinte e Um de Abril, ao lado dos Correios, trabalhando diariamente ao lado do filho Paulo Sergio e do neto Fabiano
Atual presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Wellington Cordeiro é um dos jornalistas que alimentou a relação da classe com Ao Gato Preto. Conta ele que Zé Psiu já vinha demonstrando estar cansado e doente. Tinha pensado, inclusive, em deixar o bar no final do ano passado, para que fosse administrado apenas pelo filho. Ao mesmo tempo, reconhecia que só continuava vivo justamente por causa do estabelecimento.
— A labuta de seu Zé Psiu, no alto de seus 79 anos, começava cedo. Às 5h30 da manhã, chegava com duas garrafas de café, para ofertar aos seus primeiros clientes. Até a hora do almoço, não se descuidava do atendimento aos fregueses que chegavam a todo o momento. Por volta do meio-dia, caminhava até sua residência para o almoço em família e depois descansava, deixando a incumbência de manter o atendimento do bar com o filho Serginho. (...) Os frequentadores tinham em seu Zé a figura de um pai, que aconselhava e chamava a atenção quando era necessário — disse Wellington, que estende do bar ao dono o título de patrimônio municipal.
Entre tantas conversas de boteco, política e futebol sempre foram assuntos de destaque em Ao Gato Preto. Zé Psiu era apaixonado por dois clubes: o Fluminense e o Goytacaz. “Torcedor ardoroso do Goyta, me lembro dos sábados à tarde, quando ligava seu radinho de pilha no bar para ouvir a transmissão dos jogos do Azul. Figura doce e afável. Grande perda. Sentimentos à família e aos amigos”, comentou o editor de Esportes da Folha da Manhã, Paulo Renato Porto.
A bandeira do Goytacaz, inclusive, esteve sobre o caixão até o momento em que foi colocado na sepultura. Uma homenagem do amigo e cliente Luiz Augusto Santana, o Coliseu, dono da conhecida banca de jornal na praça do Santíssimo Salvador: “Eu era freguês, estava com Zé Psiu no dia a dia, com aquela alegria enorme. Às 6h30, o bar já tinha fregueses. Uma perda muito grande para nós, que éramos fregueses do Zé. Mas, faz parte, a vida continua. Ela era Goytacaz e Fluminense doente, gostava muito. Não fizemos mais que a obrigação em trazer a bandeira do time dele”.
Responsável pelo tombamento do Ao Gato Preto, o jornalista Orávio de Campos Soares, ex-presidente do Coppam, ressaltou que aquele boteco é o último dos vários que já existiram no Centro Histórico de Campos. Tinha como características peculiares o atendimento no balcão e o cardápio, formado por quitutes como miúdos bovinos e linguiças, estas adjetivadas por Orávio como “aquelas delícias”. “Ao Gato Preto independe de status social. Ele recebe gente de todas as camadas. Sobre o Zé Psiu, ele teve um outro bar perto do Sesc, onde eu o conheci. Era uma figura extraordinária, que sabia, com aquele cavalheirismo, atender e se entender com todas as pessoas, os bebuns e não bebuns”, afirmou Orávio.
Companheiro de todas as horas, o filho Paulo Sérgio se emocionou ao falar do pai, mas garantiu que não deixará órfãos os frequentadores do velho bar: “Na minha vida, ele representou tudo. Me ensinou tudo. Trabalhava com ele havia 18 anos. Tudo o que sei, agradeço a ele. Pelo homem, a pessoa que sou, o respeito que tenho, agradeço a ele. Sobre o bar, vou levá-lo adiante. Não vou deixar o sonho dele se dissolver. Enquanto eu tiver forças e me deixarem, vou continuar ali”, disse Serginho.

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