Parentes de detentos da Cadeia Pública fazem manifestação contra supostos maus-tratos
Verônica Nascimento 04/09/2018 11:36 - Atualizado em 05/09/2018 13:26
Antônio Leudo
Parentes de presos realizaram uma manifestação na manhã desta terça-feira (4), na estrada do Santa Rosa, em Guarus, querendo chamar a atenção das autoridades para o tratamento que vem sendo dado aos internos da Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro e que consideram desumano. O ato foi organizado depois que mães e esposas foram informadas de que, na madrugada do último sábado (1), quando um detento passou mal, um policial teria efetuado disparos de escopeta com munições de borracha em algumas celas. Mas, durante o ato, foram feitas várias denúncias de maus-tratos. A secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informou ter recebido denúncias de que presos simulariam uma emergência médica com o intuito de realizar uma fuga ou motim e que os inspetores de segurança e administração penitenciária frustraram a ação disparando um tiro com munição não letal.
— Eles entram nas celas e quebram tudo, rasgam lençóis; a comida é podre e fecharam a cantina para que os presos que não recebem visitas, ou quando as visitas chegam tarde, não poderem comprar nem água. E fecham a água, só abrindo quando bem entendem. Não deixam a gente levar medicamento e, quando estão doentes, só levam eles para exames ou para o hospital quando já estão morrendo. É do HGG (Hospital Geral de Guarus) para a pedra do IML — disse uma mãe, que não será identificada pela reportagem.
A denúncia foi confirmada por outra manifestante. “A falta de respeito é absurda. No sábado, o policial entrou atirando quando os presos sacudiram as grades pedindo socorro para o detento que passava mal. Um monte de gente doente e, quando eles vão para o HGG, já chegam mortos. Eles não socorrem os doentes; morrem lá. Morreu um rapaz no dia 11, uma quarta-feira, e nem levaram ele para o hospital. Ele levou três dias passando mal, até que veio a óbito, e ainda, na hora de transportarem ele, transportaram como se fosse um cachorro e não um ser humano”.
  • Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

    Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

  • Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

    Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

  • Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

    Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

  • Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

    Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

  • Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

    Manifestação foi realizada na Estrada do Santa Rosa

Familiares dos internos da Cadeia Pública ainda denunciaram que os detentos são ameaçados pelos policiais para não relatarem as condições da unidade ao Ministério Público. “Quando o MP chega, não falam nada, porque sofrem pressão para não falar, ameaçam com transferência, colocando no castigo. É tudo sujo lá dentro, jogam no chão a comida que a gente leva; são tratados como animais. E a falta de consideração também é com os parentes. Cancelaram nossas carteirinhas, sem avisar, e a gente não pode fazer visita até fazer outra. Tem aquele aparelhinho para fazer a revista, mas mandam a gente tirar sutiã. Se a gente não gritar, para chamar a atenção das autoridades, vai sofrer todo mundo”, completou a esposa de um interno, que, como os demais manifestantes, pediu para não ser identificada nem ter a imagem divulgada.
Pedido ao MP — As denúncias, como comida estragada, falta de limpeza e transferências para unidades prisionais de outras cidades sem motivo, foram colocadas em cartazes, apresentadas pelos manifestantes, que, em sua maioria, são mães e esposas de detentos da Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro. Na manifestação, uma carta, que teria sido escrita por um interno representando os demais presos e pedindo a ajuda do Ministério Público, foi entregue à equipe da Folha.
A carta é apresentada como “um grito de socorro” dos detentos às autoridades do sistema carcerário, para que intercedam pelos internos, que “estão pagando pelos seus erros” e que “também têm seus direitos”.
Confira o trecho final ipsis litteris (tal como escrito) da carta:
“Viemos apelar e clamar um pedido de socorro para o ministério público que de muitas vezes comparece ao cistema e nada são passado na verdadeira transparência deixando uma pergunta será que essa lei é só para alguns? E os que usam fardas como os agentes do cistema será que eles podem maltratar, ameaçar e constranger internos e familiares muitos visitantes são de longe foram barrados”.
Seap se posiciona — A secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) declarou, em nota, que recebeu denúncias de que presos da Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro simulariam um pedido de emergência médica com o intuito de realizar uma possível fuga ou motim. “A Seap informa ainda que, no sábado, 01 de setembro, os inspetores de segurança e administração penitenciária frustraram a ação e para contenção da unidade prisional foi realizado um tiro com munição não letal. Após isso, quatro internos foram transferidos para a capital”.
Em relação à alimentação, a secretaria explicou que a comida é feita “pela mesma empresa que fornece alimentos aos servidores. Caso haja algum problema é providenciada a substituição”. “Todas as unidades prisionais têm ambulatório médico e, em casos de maior complexidade, os internos são encaminhados para a rede pública. Um processo de licitação para aquisição de quatro ambulâncias está em andamento. Elas ficarão à disposição do Serviço de Operações Especiais (SOE) para o transporte exclusivo de doentes nas unidades hospitalares”, informou a Seap.

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