Peru, a bela Montanha das Sete Cores
03/09/2018 18:29 - Atualizado em 05/09/2018 16:37
Peru
Peru / Divulgação
Cerca de 100 km a sudeste de Cusco, no Peru, existe um arco-íris em forma de montanha. É a Montanha das Sete Cores, também conhecida como Vinicunca ou Arco-íris, situada na Cordilheira do Vilcanota, 5,2 mil metros acima do nível do mar, no distrito de Pitumarca.
Suas encostas e cumes são decorados por franjas em tons intensos de fúcsia, turquesa, roxo e dourado.
Desde 2016, o espetáculo visual que a montanha proporciona vem atraindo visitantes, disse à BBC News a funcionária da secretaria de Turismo de Pitumarca, Haydee Pacheco.
Segundo a mídia local, o número de turistas subiu de algumas dezenas a cerca de 1 mil por dia — isso apesar do frio e da grande altitude.
Impulsionado pelas redes sociais, o crescimento na popularidade da Montanha das Sete Cores fez com que ela fosse incluída nos rankings internacionais de atrações turísticas.
Em agosto de 2017, por exemplo, a Vinicunca apareceu na lista dos cem lugares que você deve conhecer antes de morrer, compilada pelo site Business Insider.
A explosão no turismo local é recente, mas a história da montanha e de suas lindas cores começou há milhões de anos.
Oxidação de minerais
As cores que decoram as encostas da montanha resultam de “uma história geológica complexa, com sedimentos marinhos, lacustres e fluviais”, de acordo com um relatório do Escritório de Paisagismo Cultural da Diretoria de Cultura de Cusco.
Esses sedimentos, transportados pela água que antes cobria todo o lugar, datam dos períodos Terciário e Quaternário, ou seja, de 65 milhões até 2 milhões de anos atrás.
Ao longo do tempo, os sedimentos foram formando camadas (com grãos de tamanhos diferentes) que hoje compõem as franjas coloridas.
O movimento das placas tectônicas da área elevou esses sedimentos até que se transformassem no que hoje é a montanha.
Aos poucos, as diferentes camadas foram adquirindo suas cores chamativas. Elas resultam da oxidação dos diferentes minerais —em virtude da umidade da área — e também da erosão dos mesmos.
Foi o que explicou à BBC News o geólogo César Muñoz, membro da Sociedade Geológica do Peru (SGP).
Com base em um estudo do Escritório de Paisagismo Cultural e em suas próprias pesquisas, Muñoz explicou a composição de cada uma das camadas, de acordo com a cor:
— Rosa ou fúcsia: mescla de argila vermelha, lama e areia.
— Branco: arenito (areia de quartzo) e calcário.
— Roxo ou lavanda: marga (mistura de argila e carbonato de cálcio) e silicatos.
— Vermelho: argilitos e argilas.
— Verde: argilas ricas em minerais ferromagnesianos (mistura de ferro e magnésio) e óxido de cobre.
— Castanho amarelado, mostarda ou dourado: limonites, arenitos calcários ricos em minerais sulfurosos (combinados com enxofre).
Fabián Drenkhan, pesquisador do Instituto de Ciências da Natureza da Pontificia Universidade Católica do Peru, disse à BBC News que essas misturas também contêm óxidos de ferro, geralmente de cor avermelhada.
Mas, se essas cores chamativas já decoram a montanha há milhões de anos, por que ela só ficou famosa recentemente?
Artigos publicados pela mídia peruana e internacional sugerem que Vinicunca teria sido descoberta porque mudanças climáticas teriam derretido a neve que a cobria.
No entanto, os geólogos consultados pela reportagem dizem não estar absolutamente certos disso.
Juan Carlos Gómez, do Instituto Geofísico do Peru (IGP), disse que a montanha estava apenas parcialmente coberta de gelo e que recebia neve temporariamente até o início dos anos 1990.
Fabián Drenkhan, por sua vez, disse não acreditar que o cume tenha sido uma geleira nos últimos anos ou décadas.
“Não tenho evidências do que exatamente aconteceu nessa montanha e teria muita cautela em afirmar (que a mudança climática deixou Vinicunca descoberta). Mas, sim, pode-se dizer que, nos arredores, houve um derretimento glacial bastante forte”, disse Dernkhan.
O povo de Pitumarca diz que não houve neve nos últimos 70 anos, segundo Haydee Pacheco, da secretaria de Turismo.
Pacheco explica que a montanha ganhou popularidade graças aos turistas que passam por ali a caminho de Ausangate, um monte sagrado para os cusquenhos. A revista colombiana Semana atribui o sucesso de Vinicunca à divulgação feita pelos usuários do Instagram e do Facebook, que atraiu multidões de turistas. (A.N.)

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