Migração entre Lula e Bolsonaro
Aldir Sales e Aluysio Abreu Barbosa 24/10/2017 09:52 - Atualizado em 26/10/2017 18:59
Uma pesquisa do instituto Datafolha no início do mês revelou uma tendência ideológica inusitada para 2018. Parte dos eleitores (6%) do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) votaria em Jair Bolsonaro (PSC), caso o petista não dispute a presidência no ano que vem. A possível migração do lado oposto também foi constatada pela análise, com 13% dos eleitores do deputado federal que votariam em Lula, em um eventual impedimento de Bolsonaro. Para cientistas políticos, historiadores e sociólogo campistas, este comportamento demonstra uma tendência em despolitização e insatisfação do eleitor. No último domingo (22), a Folha da Manhã analisou o cenário que se desenha polarizado na disputa nacional entre duas figuras tão opostas e lançou o questionamento: Brasil entre Lula e Bolsonaro?
Historiador Aristides Soffiati
Historiador Aristides Soffiati / Divulgação
— O quadro revela a despolitização das pessoas. A definição desses votos, sobretudo nas classes mais baixas, não passa pela questão ideológica. Essa coisa de ideologia é mais para os intelectuais. A população é pragmática. Não acho que isso seja bom, mas não sei como alterar — analisou o historiador Aristides Soffiati.
Historiadora Guiomar Valdez
Historiadora Guiomar Valdez / Divulgação
A também historiadora Guiomar Valdez concorda com o quadro de despolitização do eleitorado e ainda apontou um possível pragmatismo para explicar a migração. “Um possível desdobramento é o pragmatismo de parte razoável de eleitores, ou seja, o candidato que inspirar resolver problemas que assolam o seu dia a dia na mesa e na mente, apontar uma saída plausível, terá o seu voto”, relatou.
Cientista Hamilton Lima
Cientista Hamilton Lima / Divulgação
Já o cientista político da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) Hamilton Lima, diz que a clareza nos discursos dos pré-candidatos contribui para a polarização entre ambos. “Os candidatos com propostas claras e diretas, em torno dos temas objeto de preocupação do eleitorado, tendem a prevalecer num cenário de desolação e indignação com partidos desacreditados e lideranças titubeantes ou desmoralizadas. No caso de Lula, embora seja um político profissional com vários processos, ele se comporta como o lutador de uma causa que consiste em levar prosperidade aos lares dos brasileiros mais humildes”, e completou lembrando dos riscos da polarização. “A polarização política pode se tornar insuportável em meio a um sistema partidário-parlamentar incapaz de responder positivamente aos anseios de mudança da sociedade”, finalizou.
Sociólogo George Coutinho
Sociólogo George Coutinho / Divulgação
O sociólogo George Coutinho analisa que Lula e Bolsonaro estão mais presentes na memória do eleitor. “Arrisco dizer que, para parte do eleitorado, ambos os presidenciáveis representam a negação ao status quo, a despeito de suas inegáveis e profundas diferenças nas posturas, adesões e proposições políticas. Por isso a migração da intenção de votos entre um e outro é viável para parte de seus eleitores”. 

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