Esta coluna falou ontem sobre as trapalhadas da secretaria estadual de Administração Penitenciária, que enviou um ofício à 100ª Zona Eleitoral de Campos comunicando uma possível violação no monitoramento eletrônico do ex-governador Anthony Garotinho e depois emitiu uma nota à imprensa afirmando que houve falha no GPS do equipamento. Com o histórico de imprecisões do órgão, também foi questionado se este havia comunicado ao juízo sobre o problema na tornozeleira, o que não foi respondido pela sempre veloz assessoria de imprensa da secretaria. E a resposta veio por meio de despacho do juiz Ralph Manhães.

O magistrado deferiu pedido da defesa para a troca da tornozeleira de Garotinho e enviará o equipamento atual para análise técnica. Manhães relatou que entrou em contato com a empresa responsável pelo aparelho, que deu um prazo de 30 dias para dizer o que aconteceu e estranhou a eficiência da assessoria da secretaria em apontar o erro. “Tal fato causou bastante estranheza, já que esta informação, tão precisa, não foi comunicada a este juízo, vindo apenas a saber através da imprensa”.

Ralph ainda completa: “Com isso, este magistrado oficiou (...) a Seap indagando sobre o posicionamento daquele órgão e solicitando os dados técnicos que comprovassem aquelas afirmações, haja vista que a nota divulgada à imprensa foi, em tempo exíguo, categórica. Para surpresa deste julgador, (...) a Seap informou a este juízo (...) que a empresa que monitora os dados necessitava de um prazo de 30 dias para que fossem respondidas as indagações deste juízo, o que me parece totalmente incompatível com a posição anterior por ela adotada”.

Em vídeo divulgado na última quinta-feira nas redes sociais, Rosinha Garotinho voltou a apelar para a cansativa e repetitiva tecla da teoria da conspiração. Para a ex-prefeita, tudo não passa de uma perseguição política ao marido pelo fato da Seap ser um órgão estadual e Garotinho ser rival do governador Luiz Fernando Pezão e do ex-governador Sérgio Cabral. No entanto, pelo que ficou bem claro pelas últimas notas, trata-se de outro problema mesmo.

Ao lado da concreta e dura realidade, a imagem Rio de Janeiro tem sido exposta da forma mais negativa na mídia nacional e internacional, com o cenário de guerra estabelecido na favela da Rocinha, que convida a uma reflexão sobre a extensão dos estragos que sucessivos governantes têm causado à “Cidade Maravilhosa”. As aspas são necessárias, não no tocante às suas incomparáveis belezas naturais, mas reflete o quadro sombrio de degradação a que chegou a capital fluminense.

Trata-se um calhamaço de 260 páginas o documento elaborado pelo ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que aponta Temer como integrante de uma organização criminosa, ao lado de outros peemedebistas, com atuação em órgãos públicos, além de obstrução da Justiça. A leitura da denúncia contra o presidente da República só deverá ser feita terça, dia de sessão deliberativa e grande presença de deputados.

Chega com menos apelo à Câmara essa segunda denúncia contra Michel Temer. O presidente tem mais força agora do que naquele 2 de agosto, quando os deputados rejeitaram, por 263 votos a 247, a acusação de corrupção passiva alinhavada por Rodrigo Janot. Agora, a própria discussão aberta no STF sobre a validade das provas oferecidas pelos executivos do grupo JBS em suas delações parece indicar mais força de Temer e sua turma do PMDB nas preliminares do jogo principal, no plenário da Câmara.

O presidente estava mais frágil no Congresso na ocasião da primeira denúncia, mas Temer conhece bem o seu eleitorado, sabe muito bem o que querem os deputados e soube manejar com habilidade política sua sobrevivência com a oferta de um “feirão” de cargos, emendas e influência do governo no Congresso. Desta vez, longe disse ocorrer dentro daquela dimensão, já que muita “mercadoria” ainda não foi entregue no esquema “toma lá dá cá”.