Porto do Açu e do petróleo
16/02/2014 11:02

Sete anos após o lançamento da pedra fundamental das obras do Porto do Açu, a francesa Technip e a norte-americana National Oilwell Varco (NOV) se preparam para o início da produção de dutos submarinos para o setor de petróleo no local. Serão as primeiras atividades produtivas do porto, elaborado para ser um dos maiores terminais industriais do país, mas que sofreu nos últimos anos com a crise econômica mundial e com a derrocada do império econômico de Eike Batista, seu idealizador. A inauguração das fábricas está prevista para o mês que vem.

Vizinhas no porto, as unidades da Technip e NOV são concorrentes no fornecimento de dutos flexíveis para a produção de petróleo em alto mar. Ficam em frente ao estaleiro da OSX, que teve as obras paralisadas no ano passado, resultado da crise de sua principal cliente, a OGX, hoje chamada Óleo e Gás Participações (OGPar). Foram construídas para atender a projetos do pré-sal, que demandam grandes quantidades de dutos especiais, com capacidade para resistir às elevadas pressões do fundo do mar.

Com investimento de R$ 550 milhões, as instalações vão produzir linhas flexíveis com diâmetro maior — até 22 polegadas — do que os fabricados pela empresa em sua unidade de Vitória (ES), limitada a 14 polegadas. Em janeiro, a Technip anunciou dois contratos com a Petrobras para fornecer cerca de 100 quilômetros de linhas para os projetos Sapinhoá Norte e I5, no Campo de Lula, na Bacia de Santos, que já serão produzidos na nova unidade. A ideia é inaugurar a primeira linha de produção antes do dia 15 de março. A empresa treinou 200 trabalhadores da região para o início das operações. Quando estiver a plena carga, a unidade vai gerar 550 empregos diretos.

Já a NOV optou pela construção da fábrica no Açu, que será gerenciada por sua subsidiária NKT Flexibles, após um acordo de suprimento de flexíveis para a Petrobras com potencial de encomendas de US$ 1,9 bilhão. A unidade tem investimento de R$ 400 milhões e previsão de geração de 400 empregos. Foi planejada para reforçar a “presença neste importante mercado”, segundo comunicado divulgado em 2012 para anunciar o projeto. Com reservas de petróleo localizadas em águas profundas, o Brasil é um dos principais mercados mundiais para linhas flexíveis, dutos de alta tecnologia usados para transportar a produção dos poços submarinos às plataformas.

A operação de duas fábricas concorrentes no mesmo local, que já tem contrato para instalação de uma unidade da empresa especializada em ancoragem e serviços submarinos Intermoor, é usada para atrair novas prestadoras para o setor de petróleo, alterando a vocação inicial do porto, cujo planejamento teve como âncoras indústrias metalúrgicas. Segundo a Prumo, a francesa Vallourec já se comprometeu a construir no Açu uma base logística para atender atividades petrolíferas na Bacia de Campos.

Três gigantes estão confirmas no local

A vocação petrolífera do porto é uma aposta do governo do Estado do Rio para ocupar a área de 70 quilômetros quadrados desapropriada para a instalação de um polo industrial na região. Após a crise econômica de 2008, a siderúrgica Techint, uma das âncoras do projeto, desistiu da fábrica, levando consigo a viabilidade econômica de outras atividades previstas para o porto no projeto inicial de Eike Batista, como uma térmica a carvão e um polo automotivo. Outra ausência sentida no projeto original, é da chinesa Wisco, que chegou a assinar um protocolo de intenções com Batista, mas foi apanhada pela crise mundial de 2008 e desistiu do projeto. A chinesa prometia investir alguns milhões de dólares no seu projeto no Açu.   

Da área total desapropriada, menos de 10 quilômetros quadrados estão hoje ocupados. E parte disso refere-se ao estaleiro da OSX, cujo futuro é incerto.

O mercado contabiliza três empresas, também ligadas à atividade petrolífera, em negociação para se instalar na área. “O porto vai vingar, mas será menor e terá outro perfil”, diz uma fonte próxima ao projeto.

Entre as companhias com contrato para instalação no local estão a fabricante de motores finlandesa Wartzila e a americana GE, também com uma unidade voltada para o petróleo.

Embarque de minério só no final de 2014

Principal projeto do Porto do Açu, o terminal de embarques de minério de ferro só deve começar a operar no segundo semestre, segundo informações da Prumo Logística, controladora do empreendimento. O investimento é parte do projeto Minas-Rio, que inclui um mineroduto ligando reservas em Minas Gerais ao porto, vendido por Eike Batista à Anglo American em 2008, antes do estouro da crise mundial.

O primeiro cronograma previa o início das operações do projeto em 2010, mas os efeitos da crise sobre o mercado de minério e dificuldades na instalação do mineroduto de 525 quilômetros provocaram diversos adiamentos. No final do ano passado, a Anglo American informou que o projeto já estava com 80% das obras concluídas e que esperava receber as licenças ambientais ainda no primeiro semestre de 2014.

A Anglo projeta uma produção de 26,5 milhões de toneladas por ano. A administração do porto ainda precisa resolver o fornecimento de energia para grandes projetos, a cargo da distribuidora Ampla. As torres já foram instaladas, mas as linhas de transmissão  ainda não chegaram. (A.N.)

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