A planície em aquarelas
Campos dos Goytacazes do passado, com seus suntuosos casarões e usinas, banhada pelo rio Paraíba do Sul — naquele tempo navegado por “pranchas” de velas enormes —, vem ganhando registros em forma de aquarela. O trabalho do artista plástico José Antônio Ferraiuoli, de 76 anos, iniciado há alguns anos, encanta, principalmente, os mais jovens, hoje moradores de uma cidade grande, cheia de prédios e com avenidas que registram intenso tráfego de veículos.
— Lido com tintas, telas e pincéis há 65 anos. Comecei pintando com tinta a óleo e, com o passar do tempo, migrei para a tinta acrílica, que, com suas vantagens — menos agressiva ao organismo e de secagem rápida —, ocupa o lugar do óleo, mas não traz a mesma plasticidade nem o mesmo ‘prazer’ no manuseio. A aquarela surgiu algum tempo depois, por influência de grandes aquarelistas, como o ex-prefeito de Campos Raul David Linhares Corrêa (1937-2003), me fazendo descobrir a magia da obra criada com papel branco e pouca tinta, ganhando forma com a água que a umedece — revela o artista plástico.
As imagens da antiga Campos, pintadas por José Antônio, têm inspiração nas fotografias produzidas por Gerardo Maria Ferraiouli, o Patesko (1915-2007), grande personalidade da cultura campista, de quem ele era sobrinho. No acervo, destaque para imóveis de rara beleza, como o Solar dos Airizes, a Igreja Nossa Senhora da Lapa, o Palácio Nilo Peçanha (sede da Câmara Municipal de Campos) e a Casa de Cultura Villa Maria. O relógio do Mercado Municipal e o antigo bondinho — memórias da infância do artista — também foram retratados.
— Guardo, como verdadeiras preciosidades, as fotografias feitas pelo meu tio, justamente pela visão que ele teve de registrar nossa cidade, por meio de fotografias, em um tempo no qual ninguém tinha noção de tais registros, principalmente para que as gerações futuras pudessem contemplar a Campos em que ele viveu, com imagens produzidas a partir da década de 1940 — acrescenta José Antônio.
A produção das aquarelas que exaltam a beleza de Campos e seus cartões postais se intensificou em 2020, quando o artista plástico ficou meses confinado, em casa, cumprindo a quarentena imposta pela pandemia da Covid-19.
— A pandemia me fez produzir uma grande quantidade de aquarelas, principalmente retratando Campos. Foi um período em que a saúde mental dependia de atividades prazerosas. Naquele período eu pintei, também, paisagens do litoral de São João da Barra e de países que tive a chance de conhecer — completa o artista, que, nas redes sociais, exibe boa parte de suas aquarelas.
Nos últimos anos, prédios modernos de Campos, como o Teatro Municipal Trianon, também inspiraram as aquarelas de José Antônio, que, para reproduzir os locais com maior riqueza de detalhes, se utiliza da fotografia, mesma técnica com a qual seu saudoso tio registrava a cidade.
— Se as fotos do meu tio me inspiram, decidi que, fotografando prédios e paisagens, em diferentes ângulos, tenho a possibilidade de utilizar a mesma ‘matriz’ para criar as aquarelas. A Campos de hoje também merece ser pintada, pois servirá de registro para as futuras gerações, mesmo com a tecnologia das plataformas digitais — conclui o artista.