Descolorir
Ronaldo Junior - Atualizado em 17/06/2023 15:36
Fonte: Pixabay.
 
Logo ao nascer, gris. A noite, marrom sob o breu, abriu em nuvem prestes a tocar o chão. Pássaro ágil, dia lânguido, penumbra solar, chacoalhante vento, cachorro escondido, movimento cortina, folha voante, largado tempo sobre o sofá.
 
Os carros fazem barulho no asfalto quieto, refletido no céu do sábado que promete chuva. Uma frente fria se aproxima do município, e a temperatura deve cair neste fim de semana, anuncia a previsão do tempo na TV preguiçosamente ligada.
 
O que não é dito, nos dias sem cor, é o fato de todas as cores banais disputarem com o cinza, criando o contraste que as permite ser cor todos os dias, muitas vezes não notadas nas pressas sob o céu azul – que já compõe o dia com sua própria cor.
 
Árvore madeira, muro tijolo, parede amarela, cachorro caramelo, carro vermelho, prédio espelho, chão terra, rio barro, poste cal, folha âmbar, envelope pardo, caixa d'água azul, fuligem preta, céu cinza.
 
O dia acinzentado – fuga da coloridade cotidiana – faz os segundos passarem levemente mais lentos, dando tempo aos olhos para ver as cores que passam depressa, podendo até a captura de um instante caber numa prosa, enquanto costuma mesmo caber nos instantâneos versos de um haikai.
 
*Ronaldo Junior tem 27 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com
Escreve aos sábados no blog Extravio.

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    Ronaldo Junior

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    Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.