Antes mesmo de haver autor, haverá leitor para o tanto de palavra lançada a contragosto da página que aceita e leva consigo os despautérios voluntariamente impensados que o sujeito se envaidece ao escrever? Ou será que, tão perdido quanto a interrogação última, o leitor transita pelo - desimportante - texto e de fato dá sentido às entrelinhas enclausuradas na mente de seu redator? Fato é que, enquanto o leitor caminha pela esquina antevendo o atravessar da rua, ali já se espraia o texto, no abstrato das memórias, nas incertezas de quem se desassossega, até alcançar quem resolva desemaranhar as palavras em estado bruto. O texto, essas linhas contínuas cerzidas ponto a ponto sob a trama do tecido, é levado a fio na agulha dos ponteiros para fazer assunto no passar das horas. Na falta de quem leia, portanto, a palavra vagueia sendo perseguida pelos labirintos da informação, de alguma forma entranhada nas ideias até de quem não leu - já que é parte de um ciclo que sempre retoma a fonte -, sendo contrato assinado com mera passada de olho, vinculante até ser negada por palavra outra que valha a ideia.
*Ronaldo Junior tem 27 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com