Arthur Soffiati - Civilização polinésia
* Arthur Soffiati - Atualizado em 26/06/2023 16:42
Comecemos a nossa revisão de civilizações periféricas à Europa pela Oceania, conjunto de ilhas que compreende Nova Guiné, Austrália, Tasmânia e Nova Zelândia; um conjunto de ilhas muito pequenas (Micronésia); um arquipélago (Melanésia) e ilhas espalhadas pelo oceano Pacífico (Polinésia). Durante o Pleistoceno, Nova Guiné, Austrália e Tasmânia eram unidas por pontes de terra.
Estima-se que essa continuidade continental permitiu o povoamento dela há 50.000 anos por imigrantes australoides, ancestrais dos papuas e dos aborígenes, ambos negroides. No tempo da migração, eles viviam em grupos com economia paleolítica. Nenhum grupo humano havia ainda provocado a revolução do neolítico.
O nível do mar subiu rapidamente com o derretimento da última glaciação, em 10.000 anos antes do presente, dando início ao Holoceno. As faixas contínuas de terra foram submersas pelo mar e originaram incontáveis ilhas. Por volta de 6.000 anos antes do presente, uma nova onda migratória avançou sobre as ilhas, agora por meio da navegação. Os migrantes partiram de Taiwan, Filipinas e Índia Oriental, alcançando a Nova Guiné. Essa nova onda formada pelos austranésios miscigenou-se com os antigos migrantes.
Antes dos europeus, os habitantes das ilhas desenvolveram uma sofisticada arte náutica e se transformaram nos mais hábeis navegadores do neolítico. Com seus catamarãs e uma ciência sofisticada de navegar, eles chegaram ao arquipélago de Fiji, a Tonga, a Samoa, ao Havaí, à Nova Zelândia, alcançando a distante ilha de Páscoa, hoje com seu nome original de Rapa Nui. Aí, os navegadores infatigáveis adotaram um modo de vida sedentário e desenvolveram uma cultura, partindo das suas bases, que alcançou a complexidade de uma civilização.
O historiador britânico Arnold Toynbee entendeu que a conquista das ilhas do Pacífico exigiu dos polinésios um grande esforço e um hábil desenvolvimento científico e tecnológico. O desafio representado pelo oceano Pacífico estimulava esse desenvolvimento e, ao mesmo tempo, consumia os esforços dos polinésios na tarefa da sobrevivência. Assim, a civilização que eles desenvolveram estagnou-se. No início de sua investigação, Toynbee criou a categoria de civilizações estagnadas, incluindo nela os polinésios, os habitantes das estepes asiáticas e os esquimós. Grandes extensões de água, de terra árida e de gelo estimularam seus habitantes e, ao mesmo tempo, os paralisaram. Posteriormente, Toynbee entenderá que esses povos desenvolveram sociedades neolíticas avançadas, mas não civilizações.
Esses hábeis navegantes guiavam-se unicamente pelos astros, ventos e características das ondas. Conheciam e praticavam a agricultura com inhame, batata-doce, mandioca, banana, coco, arroz e cana-de-açúcar. Quando os europeus os contataram, eles já haviam domesticado a galinha e o porco.
Na Polinésia, desenvolveram-se sociedades neolíticas avançadas que não podem ser compreendidas pelo modelo euroasiático. Os habitantes das incontáveis ilhas dominavam a arte da navegação. Como habitassem ilhas e singrassem o oceano em busca de alimentos, sua economia exigiu uma combinação de sedentarismo e nomadismo. Praticavam a agricultura e desenvolveram a cerâmica. Devemos tomar a cerâmica como a marca registrada do neolítico. Podemos imaginar um povo sem agricultura e com vida nômade. A presença da cerâmica é o indício do neolítico.
Já na Austrália, o ambiente é árido na maior parte das terras. Quando os europeus aportaram na ilha-continente, encontraram grupos humanos vivendo da coleta, da pesca e da caça. Poucos conheciam algum cultivo, como era o caso dos habitantes das ilhas do Estreito de Torres. No entanto, pujante era a sua cultura imaterial. Ficaram conhecidos como aborígenes. Suas técnicas de caça corresponderiam à última fase do paleolítico euroasiático. Na Tasmânia, alguns grupos aborígenes praticaram a agricultura.
Em síntese, a Oceania foi colonizada por dois povos distintos que chegaram em datas afastadas. Os negroides, em torno de 50.000 anos passados, ocuparam Nova Guiné, Austrália e Tasmânia. Os austranésios, a partir de 6.000 anos antes do presente, dirigiram-se para a Micronésia, a Melanésia e a Polinésia, havendo mistura com os povos pioneiros. Na Austrália, os aborígenes continuaram num modo de vida paleolítico, coletando, pescando e caçando. Os instrumentos por eles criados os situam em fase correspondente ao final do paleolítico euroasiático. Já os austranésios desenvolveram uma cultura com base na agricultura e na pesca. Semissedentários, eles criaram uma economia neolítica assentada no mar, algo bem diferente do que aconteceu com o neolítico do hemisfério norte, baseado numa agricultura e num pastoreio em terra firme.

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    Fábio Pexe

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