Claudia Saad: O Sabor da Volta às Aulas
19/01/2024 15:43 - Atualizado em 19/01/2024 15:44
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Bem se expressa o pedagogo Rubem Alves quando diz que o saber sem prazer é como a comida sem sabor. Vem dele a inspiração desta metáfora que envolve escritores e cozinheiros... “Só aprende quem tem fome”. Por certo com pouca motivação alguém comeria uma refeição que não lhe desperta o paladar. Arrisco dizer, que da mesma forma alguém ficaria entusiasmado em provar algo que não lhe estimulam outros sentidos, como o olfato ou a visão; talvez daí venha a expressão “comer com os olhos”.
Curiosa pelas novidades da cozinha, li dias atrás sobre a neurogastronomia e um estudo sobre como o cérebro estabelece o gosto, apontando inclusive, que os fatores sociais influenciam nesta percepção. Mágico, não é?! Um convite a pensar sobre quanto da relação “saber e sabor” está presente no ato de aprender. Afinal, aprendemos o tempo todo e aprendemos mais e de forma mais significativa e duradoura quanto mais encantados e provocados a experimentar e “saborear”, estivermos.
Vamos refletir sobre um momento bem específico desta relação... a volta às aulas. Quem teria animação em voltar às aulas se não espera ter experiências agradáveis sobre o ensino? Quem de nós retomaria a essa rotina após dias cheios de tranquilidade, liberdade e despreocupações? Com certeza, para que tenhamos motivação e vontade de retomar essa rotina, precisamos de muitos estímulos, não é mesmo?
Para que o retorno ao ano letivo seja prazeroso a pais, crianças e educadores; é necessário haver preparação de todas as partes. Diria que planejar as primeiras semanas de aula seria o ato de aguçar o paladar de nossos alunos. Um envolvimento mútuo, que inclui responsabilidade e criatividade. Uma boa dose de participação coletiva que acrescentará um tempero especial ao ensino, despertando o sabor do aprendizado logo nas primeiras aulas do ano. Começar bem um prato não é garantia de sucesso, mas já nos dá uma boa perspectiva de que teremos algo delicioso para provar no final.
Pensando assim, o cuidadoso planejamento deste retorno, a escolha dos melhores ingredientes, os mais coloridos, mais saborosos para essa retomada, requer preparação, cuidado e muito amor. A escola inicia muito tempo antes esse processo. É neste período que a equipe de gestores precisa se mobilizar a fim de receber seus professores e organizar as primeiras receitas (semanas de aula). Criar um ambiente acolhedor e prazeroso, pensar no cardápio do ano e escolher os melhores elementos para produzirmos os pratos saborosos. Da mesma forma, do outro lado, os pais e alunos devem se dedicar à preparação para uma nova rotina, diferente a das férias. Todos engajados na cerimônia e nos preparativos para tornar a ocasião a mais especial possível.
Importante também nesse contexto é o papel da família em amenizar as dificuldades que os meninos e meninas enfrentam no retorno ao ano letivo. É verdade que, nas férias, não é conveniente impor-lhes os estudos. É momento de relaxar, conhecer lugares e pessoas, fazer novas descobertas. Porém, com a proximidade da volta às aulas, é preciso ficar atento para que a rotina de férias seja, sim, flexível, mas não imprópria.
O sabor prazeroso do saber é uma responsabilidade de todos os envolvidos no processo de construção do conhecimento, esse conjunto determina o rito de preparo dos pratos e sua forma de apresentação à mesa. Do começo ao fim do ano letivo é necessário que os participantes da produção do saber estejam comprometidos. Só assim, como declara o educador Paulo Freire, a escola será mais do que prédios, salas, quadros, programas, horários e conceitos. A escola será, sobretudo, gente. Gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece e se estima. Gente que tem fome de “descobrir”, ávida por sentir o sabor agradável da educação.
*Por Claudia Saad

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    Sobre o autor

    Fabiano Rangel

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    Educador e empreendedor em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, sou graduado em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e professor concursado da área no Governo do Estado do Rio de Janeiro desde 2007. Atuei como coordenador pedagógico e geral de várias escolas particulares em Campos até 2011. Fui também coordenador administrativo do Sesc Mineiro, em Grussaí, no município de São João da Barra, até 2013. Há oito anos me dedico ao Centro Educacional Riachuelo como Diretor Geral das cinco unidades, que formam hoje o Grupo Riachuelo. Sou pós-graduado em Gestão Escolar Integradora e Gestão de Pessoas pelo Instituto Brasileiro de Ensino (IBE). Atualmente também sou apresentador do programa Papo Cabeça na rádio Folha FM 98,3.