A política, os medíocres e o pobre povo de Cambuci
29/03/2020 13:02 - Atualizado em 29/03/2020 19:11
 
Bruna Tavares da Costa
Em tempos de pandemia, num território dominado pelo medo da doença que pouco conhecemos e por um governo que mais confunde e atrapalha , cabe aos governadores e prefeitos de estados e municípios a liderança desta triste travessia. Politicamente nós, que até então estávamos acostumados a nos dividir em dois lados, hoje nos encontramos perdidos no meio do caminho. Não há como não elogiar a conduta de governadores como Wilson Witzel ou João Dória diante da pandemia. Não há como não se impressionar com liberais perdidos, defendendo a atuação rápida do Estado, eles que até então só falavam em Estado mínimo. Como não se estarrecer diante de vizinhos e familiares que insistem em negar o óbvio e se expõe ao perigo de uma contaminação defendendo o indefensável?
Nestes tempos podemos diferenciar aqueles que nos orgulham dos outros tantos que ainda não perceberam que vivemos tempos sombrios, tempos de guerra e que só a união, conscientização e disposição de cada um de nós pode salvar a todos. Exemplos vem de todos os lugares, sejam das janelas que cantam para vizinhos ou aplaudem os profissionais da saúde, sejam de ações individuais que buscam oferecer comida e conforto aos hoje desamparados, momento em que o cidadão substitui a necessária ação do Estado.
O filósofo Alan Deneault, em seu último livro, apresenta o conceito de "mediocracia", que explica bem o momento político em que vivemos: o instante em que os medíocres tomam o poder. Coloco aqui uma explicação do autor sobre como o medíocre atua quando chega ao poder :
"Caberia pensar que uma característica comum entre aqueles que compartilham esse poder seria a de um sorriso cúmplice. Acreditando serem mais espertos do que todos os outros, ficam satisfeitos com frases carregadas de sabedoria, como:"É preciso entrar no jogo". O jogo —uma expressão cuja absoluta imprecisão se encaixa perfeitamente no pensamento medíocre— exige que, de acordo com o momento, a pessoa acate servilmente as regras estabelecidas com o único propósito de ocupar uma posição relevante no quadro social, ou que contorne com ufanismo tais regras —sem nunca deixar de manter as aparências—, graças a vários atos de conluio que pervertem a integridade do processo."
Ao fim, senhoras e senhores, para os medíocres, é o jogo, apenas o jogo, que importa. Os medíocres não entendem a diferença entre a prática da política eleitoreira e o exercício da política estadista, do governante que pensa a cidade, o povo e seu destino, incluindo aí sua vida ou morte- indo além das eleições. Não conseguem distinguir o momento em que o ser político, o deputado, o prefeito, o vereador ou o presidente, precisam atuar de acordo com o cargo que ocupam e a função que esse cargo exerce dentro da nossa democracia: representar o povo, seus interesses e atuar de acordo com as suas necessidades . É o momento crucial de um político: quando a história exige de um representante a liderança- e muitos escolhem o caminho da falsa profecia. Num momento como o que vivemos hoje são os medíocres os mais expostos, os mais visíveis , uma vez que não conseguem deixar de jogar o jogo. Não importa que o adversário esteja atuando em outras frentes, que a torcida não tenha comparecido ao estádio, que a partida nem possa começar. O medíocre só enxerga o jogo, mesmo em tempos de pandemia.
Ocupando as Câmaras e Prefeituras de diversos municípios, os medíocres, neste momento, estão , de olhos em eleições que podem nem chegar, impedindo que prefeitos possam atuar com mais eficácia e que municípios tenham maiores e melhores oportunidades de cuidar de sua população num momento em que um vírus mortal se alastra. Ou acatando desejos e ordem de comerciantes que preferem ver suas lojas abertas aos seus clientes vivos. Como exemplo, e na tentativa de chamar atenção de leitores , mídia e todo e qualquer veículo de comunicação que possa dar visibilidade ao caso, informo que vereadores da pequena cidade de Cambuci estão atuando em conluio, para impedir que verbas destinadas ao município cheguem a cidade, se recusando a incluir os valores no orçamento municipal. Verbas estas que serviriam , entre outras coisas, para a construção de um centro de hemodiálise , aquisição de material e maquinário para o hospital da cidade e ampliação do centro cirúrgico, entre outros. Desde 07/02 está "sob análise" dos "nobres" vereadores o projeto de custeio de toda a área de saúde do município, o que torna possível que o atendimento a população no hospital e nas unidades de saúde sejam suspensos por falta de verba.
Em plena pandemia de coronavírus.
Repito: em plena pandemia de coronavírus.
Políticos medíocres não sabem diferenciar os tempos de guerra dos tempos de paz. Não sabem que a política exige não só saber ganhar e perder mas, principalmente, saber a hora de baixar a guarda – que, neste caso, é atuar junto com o executivo, pq há limites. E o limite, como vemos agora, é simples: o limite é a vida.
Não se faz política ao custo da saúde do seu povo, caros vereadores. No campo da política, acreditem, vocês estão fazendo gol contra.
Lembrem-se: para serem reeleitos voces precisam, antes de qualquer outra coisa, que seus eleitores estejam vivos.

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    Roberto Dutra

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