Distrito industrial como salvação
Paulo Renato Porto 08/06/2019 19:13 - Atualizado em 17/06/2019 20:18
Isaías Fernandes
A construção de um distrito industrial próximo da cabeça da futura Ponte da Integração para atrair empresas, que irão embarcar na região para operar no Porto do Açu, pode ser a salvação de Campos. A conclusão é do arquiteto Victor Aquino, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do município, que hoje atua na mesma área na prefeitura de São João da Barra, em entrevista esta semana ao programa Folha no Ar, na Rádio Folha FM 98,3. Para ele, Campos deve buscar projetos alternativos para aumentar sua arrecadação tributária própria, como o ISS (Imposto Sobre Serviços), e reduzir a dependência dos royalties do petróleo.
— Este é um projeto que idealizei quando estava na prefeitura de Campos e pode ser a salvação do município. A futura ponte liga São João da Barra a Campos, cujo território tem uma perna na cabeça da estrutura da obra em seus pilares à margem esquerda do Rio Paraíba. Ali, um distrito industrial teria uma localização estratégica, ficaria próximo ao Porto do Açu, ao Aeroporto Bartolomeu Lisandro e ao entroncamento do futuro traçado da BR-101 que ligará Ibitioca a Travessão, instalando um cluster logístico fantástico. Seria a bóia de salvação de Campos que aumentaria a receita própria de ISS (que é muito baixa) com a atração destas novas empresas — analisou.
Segundo Víctor, a construção de uma nova rodovia ligando o almejado distrito industrial à região do aeroporto seria necessária porque a RJ-194 não tem estrutura para tráfego pesado dos veículos que atuam no porto.
— A atual estrada é sobre o dique que margeia o rio, e não suportaria caminhões pesados. Depois, o Inea (Instituto Estadual do Ambiente) já falou que não aprovaria devido ao risco ambiental muito grande. Mas já falei com o Rafael (Diniz, prefeito de Campos) que ele poderia arrumar parceiros para construir uma nova estrada — explicou.
À época, Victor Aquino conta que conversou com Rafael e o então secretário estadual de Desenvolvimento, Christino Aureo, no governo Pezão, sobre a importância da construção da ponte e da estrutura logística que deveria ser criada em seu entorno.
— É preciso trazer o porto do Açu para dentro de Campos, distribui-lo para essas cidades do Norte Fluminense. Ele (o porto) é tão grande que poderá alavancar São João da Barra, Campos e São Francisco de Itabapoana, que poderia construir também o seu distrito industrial ali na divisa com Campos — destacou.
 
 
As grandes empresas vão mesmo para o Açu - A construção de um distrito industrial em Campos, avalia ainda Aquino, não iria atrapalhar seu similar no Açu.
— Porque as grandes indústrias irão para São João da Barra, devido à proximidade com o porto e o terminal de Gás Natural. Para Campos, viriam as empresas periféricas — explicitou.
— Deixei tudo isso alavancado, mas a ponte empacou alguns anos. Mas se sair, o distrito industrial pode ser a salvação de Campos — completou.
Aquino avalia que Campos precisa reduzir sua dependência dos royalties. Ele conta que quanto chegou à prefeitura de Campos, em 2016, a arrecadação de ISS era de R$ 89 milhões. Em São João, R$ 85 milhões.
— Fiquei abismado como um município de 500 mil habitantes tinha só aquela receita, enquanto São João da Barra, com 35 mil, contava com algo bem próximo — afirmou.
 
 
A receita de ISS em Campos é muito baixa - O secretário frisou que São João da Barra tem uma previsão de Orçamento de R$ 380 milhões e uma perspectiva de receita crescente em ISS das novas indústrias que irão desembarcar no porto.
— O problema é que Campos não tem dinheiro, arrecadação própria. Hoje, os royalties fazem muita falta a São João da Barra. Mas daqui a cinco ou dez anos, creio que não, com as indústrias que virão para o porto. Se os royalties forem redistribuídos a todos os municípios brasileiros, São João da Barra vai ter um futuro mais tranqüilo, ao contrário de Campos e outros municípios — analisou.
— É um cenário que vai se arrastar com qualquer prefeito que vier a suceder Rafael. Já tivemos indústrias de porte, hoje não temos mais. Vivemos numa pindaíba, de pires na mão. A receita de ISS é baixa. Tem que buscar alternativas— finalizou.

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