Filme de David Lean é aplaudido no Cineclube
Celso Cordeiro Filho 06/06/2019 18:40 - Atualizado em 10/06/2019 15:52
Logo após a exibição de “A Filha de Ryan” (Ryan’s Daughter/1970), na quarta-feira (5), no Cineclube Goitacá, o jornalista e poeta Aluysio Abreu Barbosa lembrou que quando se lançou o filme de David Lean foi um fracasso de bilheteria e crítica, mas anos depois teria o merecido reconhecimento e hoje é considerado um dos clássicos do cinema mundial.
— Sem dúvida, o que acabamos de assistir é uma aula de cinema. Aliás, o cineasta inglês tem outras obras magistrais, como, por exemplo, “Lawrence da Arábia” e “Doutor Jivago”. É um cineasta dos grandes planos e isso pode ser visto no filme que acabamos de assistir. A história de um triângulo amoroso poderia ser mais uma que o cinema abordou, mas nas mãos de David Lean ganha outra dimensão. Vale lembrar ainda que a história se desenvolve na Irlanda, sob o domínio da Inglaterra, durante a Primeira Guerra Mundial. Há um contexto político que realça a história — salientou.
O filme se passa na aldeia isolada de Killary, na península de Dingle, Irlanda, durante a Primeira Guerra Mundial. Rosy (Sarah Miles) é casada com Charles (Robert Mitchum), um pacato professor de aldeia, mas não consegue desistir da sua avassaladora paixão por um atraente oficial inglês (Christopher Jones). “A partir desse enredo central, David Lean faz um filme marcante pelas suas qualidades artísticas e técnicas. As imagens são avassaladoras. Quando foi filmado não havia recursos tecnológicos com se tem hoje, mesmo assim consegue obter cenas deslumbrantes. Aliás, o filme era para ser feito em seis meses, mas acabou levando um ano dado as preocupações estéticas de Lean: esperava o momento marcante de um por do sol, nuvens no céu, mar revolto”, acrescentou.
Segundo a crítica, o cenário espetacular de “A Filha de Ryan” contribui para o caráter épico do filme. Lean explora a beleza e a diversidade das paisagens irlandesas, as belas falésias, as praias, os rochedos e os campos. O cineasta demonstra um fascínio pelo sublime da natureza. O nascer do sol dos créditos iniciais confere uma dimensão cósmica à narrativa. Na sequência de abertura, a silhueta esguia de Rose Ryan aparece em meio à imensidão de uma paisagem de tirar o fôlego. A sequência de abertura mostra a magnificência da paisagem em oposição ao indivíduo, pequeno e frágil. A comunhão com a natureza é também explorada em uma das cenas mais belas do filme (e da carreira de Lean), aquela em que Rose e o soldado fazem amor em um bosque. Nesta cena, os elementos da natureza são cúmplices dos amantes. A associação do ato sexual e a natureza não é somente de ordem metafórica, mas também mágica. A cena corresponde ao momento em que David Lean explora de maneira mais radical na sua filmografia a relação entre a sensualidade e a paisagem.

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