Arnaldo Vianna: "Com meu apoio, Caio seria eleito"
Arnaldo Neto, Aldir Sales e Aluysio Abreu Barbosa 07/04/2019 08:34 - Atualizado em 10/04/2019 15:34
O ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB), apesar de ainda lutar para reverter condenações que o deixam inelegível, acredita que voltará a disputar uma eleição. Para o próximo ano, porém, fixa na análise da possível candidatura do seu filho, Caio Vianna (PDT). Arnaldo diz não ter dúvida de que se mantivesse o apoio a Caio em 2016, hoje ele seria o prefeito da cidade. Porém, não confirmou se caminharão juntos. Com críticas ao governo Rafael Diniz (PPS), ele fala das mudanças na Saúde. Diz não ter dúvidas sobre a competência do novo secretário, mas acredita que não há tempo para mudanças. Sobre o tabuleiro político, em um ponto foi certeiro, ao dizer que não fica no mesmo palanque que Anthony Garotinho (PRP): “Não rola. Coloca o camburão embaixo”.
 
 
Folha da Manhã - Você deve ter visto, recentemente, as mudanças no governo municipal. Uma muito emblemática foi a entrada de Abdu Neme na Saúde, numa área que é sua. No Hospital Geral de Guarus, junto com a mudança de Abdu, veio Dante Pinto Lucas, que é um colaborador antigo seu, enquanto você era prefeito. Ele assumiu o HGG, construído por você. Como você vê essas mudanças: Abdu na Saúde e Dante no HGG?
Arnaldo Vianna - Foram pessoas que trabalharam comigo. Tanto o Dante como o Abdu. O Dante trabalhou comigo quando fui prefeito, foi líder do governo (na Câmara). Depois, trabalhamos juntos, tanto na Santa Casa como na Beneficência Portuguesa. Tive a felicidade de ter Dante trabalhando ao meu lado. Então, não julgo a capacidade deles porque sei que têm para assumir qualquer cargo, tanto o Dante como o Abdu. O Dante, politicamente, não teria nada. O Abdu, eu fico pensando, o que é que mudou? Não é mais fiel escudeiro?
 
 
Folha - De quem?
Arnaldo - Do Garotinho. Não é mais? Não sei. Fico aqui a pensar: eu sou, hoje, quando falta tão pouco tempo para terminar, convidado para ajeitar a secretaria de Saúde...
 
 
Folha - Te convidaram?
Arnaldo - Não, hipoteticamente. Teria tempo para isso? A secretaria de Saúde, que eu conheço bem, é complexa. Eu teria que me articular com os hospitais conveniados, com os municípios vizinhos, que trazem uma quantidade enorme de pacientes para cá, com o Conselho Municipal de Saúde, com o Fundo Municipal de Saúde. Eu teria tempo para fazer uma mudança e sair anunciando que vou mudar isso e mudar aquilo com um espaço de tempo muito curto? Essa é a minha preocupação.
 
 
Folha - Outro ponto que entrou no noticiário foi a CPI do Fundecam (Fundo de Desenvolvimento de Campos), instalada pelo vereador Jorginho Virgílio (PRP). O que ele alega é que o Fundecam, feito no seu governo para tentar estimular o desenvolvimento sustentável – e não só no seu governo, estou falando só porque você inaugurou o Fundecam...
Arnaldo - Foi criado e tinha um objetivo. Campos sempre foi dita como uma cidade muito rica por causa dos royalties do petróleo, mas que não desenvolvia. Então, nós resolvemos criar um fundo de desenvolvimento, para que esse dinheiro pudesse ter mais agilidade através de um fundo.
 
 
Folha - Tem alguma reação ao movimento que surgiu naquela época, de aplicação do dinheiro dos royalties?
Arnaldo - Exatamente. Porque o dinheiro dos royalties era carimbado, só podia ser usado em determinadas regras. Mas, se você tivesse um fundo, liberava uma parte destes recursos. Dali nasceu até um filhote. Além do Fundecam, nós criamos a Fundecana. Infelizmente, tanto o Fundecam como o Fundecana chegaram num ponto crítico. Não sei a motivação dos vereadores, hoje, fazerem a CPI, mas talvez fosse bom que eles olhassem quem são os inadimplentes do Fundecam.
 
 
Folha - No ano passado, você apoiou a Edilene na campanha para deputada estadual e, em 2016, apoiou a candidatura de Pudim a prefeito, mas as suas candidaturas não tiveram votações expressivas. Por que você acha que isso aconteceu?
Arnaldo - O Pudim eu ajudei algumas vezes. Nós tínhamos uma história antiga de amizade.
 
 
Folha - Ele foi seu vice-prefeito.
Arnaldo - É. E num período muito difícil para mim. Foi um período que eu tive uma doença séria, tive um aneurisma cerebral, ele assumiu a Prefeitura, e várias coisas aconteceram. Acho que ele não teve uma votação expressiva porque não basta ter o apoio. Eu posso ter o apoio, hoje, de várias pessoas para eu ser candidato. Se eu não fizer minha parte, não adianta. Tem que fazer a parte dele.
 
 
Folha - Você estava no PEN, saiu e foi para o MDB, não é isso?
Arnaldo - Isso. E isso tem vários desdobramentos políticos. Não saí do PEN à toa.
 
 
Folha - Teve uma disputa até com o Caio, não é?
Arnaldo - É... Não que foi com Caio. Até porque, Caio, naquele momento, ainda não tinha ingressado no movimento político como está agora. Foi mais pela mãe do Caio (Ilsan). Mas, muita coisa aconteceu ali também, muitas mudanças, e eu fui para o MDB. E foi bom. Um belo dia me ligam do Rio, aí já era o MDB me pedindo autorização para convidar a Edilene para ser candidata a deputada estadual. Eu disse a ele que sim, antes de falar com ela. Quando falei, ela quase me matou porque ela só entrou nesse negócio de política para me ajudar. Ela, por sinal, não gostava disso. Só que, naquele momento, a Edilene fez uma campanha sem ser uma pessoa conhecida na política, só apostando no nome “esposa do Arnaldo”. Mas tendo do outro lado a ex-família do Arnaldo que atrapalhava e pessoas da política que gostavam da Edilene, mas estavam ali para levar vantagem. Inclusive, os recursos do fundo partidário que deveriam vir para a candidata Edilene não vieram porque ela não aceitou fazer o jogo. Parceria com candidato a deputado federal que queria usar verba que vinha para mulher. Mas, mais do que atrapalhar pela falta do recurso, é que isso provoca uma descrença, desestimula. Tanto é que ela, hoje, não quer ver falar de política.
 
 
Folha – Já na reta final, na última eleição, Caio se lançou no último dia, na véspera do fim do prazo para inscrição de candidatura. Também no final da campanha, você chegou anunciar que estava apoiando a dobrada de Edilene com Caio.
Arnaldo – E vou lhe dizer uma coisa, quem me pediu para fazer isso foi a Edilene. Ela disse: “não é justo, seu filho está aí...”. Eu confesso uma coisa... Você é pai. Quando você tem um filho, começa a sonhar várias coisas para ele. E volto a afirmar o que disse lá atrás, meu sonho para o meu filho não era esse. Meu sonho era que ele terminasse o estudo dele. Eu estive de manhã atendendo no consultório. Já fui vereador, prefeito duas vezes, deputado federal. E se eu não tivesse uma profissão hoje eu seria o quê? Se eu fosse só político, eu seria o que hoje? Passou isso tudo, não tenho mais cargo público.
 
 
Folha – Na reta final da eleição, depois que você publicou apoio a Caio e Edilene, corre que ele teria apoiado Paulo Bagueira, de Niterói, ao invés de Edilene. No dia seguinte a eleição, ela posta nas redes sociais lançando você candidato em 2020. Houve essa ruptura unilateral de Caio na véspera da eleição?
Arnaldo – Isso foi ventilado mesmo. Quantos votos o Paulo Bagueira teve em Campos? Quase nada.
 
 
Folha – Mas houve esse movimento de Caio?
Arnaldo – Não, eu acho que houve um movimento porque começou a incomodar alguns que o Caio e a Edilene estivessem juntos nessa eleição.
 
 
Folha – Quem?
Arnaldo – A mãe dele. (Edilene intervém e diz: “Não. Quem eu deixei de apoiar?”). Pudim. Ele queria uma dobrada com Edilene. Ela nunca quis. Eu até tentei convencê-la, mas depois comecei a ver que os argumentos dela eram convincentes. Ela quer ir junto com o Caio, então vai. Ele teve lá em casa, gravei o apoio que daria aos dois.
 
 
Folha – Então, por que logo após a eleição Edilene posta que você será candidato a prefeito em 2020? Não teria sido uma reação a isso?
Arnaldo – Não, nada a ver. Mas quando ele for candidato, vai ser o Caio ou o filho do Arnaldo?
 
 
Folha – Na última eleição a prefeito ele não teve seu apoio e há quem diga que isso foi fundamental. Caio começa na ponta nas pesquisas da série histórica do instituto Pro4. Quando você define seu apoio a Pudim, ele começa a desidratar e Rafael vem atropelando, passando Caio e Chicão.
Arnaldo – Se eu tivesse dado meu apoio a Caio, o prefeito não seria Rafael. Seria o Caio. Tenho certeza disso. Só que naquele momento eu estava sofrendo. A primeira covardia não foi nem no PEN, foi no meu partido de coração, o PDT.
 
 
Folha – Ele negociou com Carlos Lupi (presidente nacional do PDT), não é?
Arnaldo – É, mas tem coisas que aconteceram ali que resultaram até em processo de inelegibilidade para mim. No PDT. Me lançaram candidato a deputado estadual em 2014, quando eu não era. Mandei carta para o partido dizendo que não aceitava. Não tinha nem CNPJ de candidato. E eu fiquei inelegível porque não prestei contas da minha campanha de deputado que não fui.
 
 
Folha – Você disse que a definição do seu apoio definiu a eleição de 2016. Agora Caio está lançando seu nome novamente para 2020. Ele vai poder contar com seu apoio?
Arnaldo – Confesso que eu gostaria que ele concluísse os estudos dele. Mas estou vendo que é algo que mexeu com ele. Ele quer entrar nisso. Vai depender muito dele também.
 
 
Folha – Mas o que ele precisa fazer?
Arnaldo – Primeira coisa: “Pai, sou candidato”. Ele chamou para conversar e estou esperando.
 
 
Folha – Se ele chamou, você está esperando? Como assim?
Arnaldo – Eu falei: “vamos”. Aí ele tem que me dizer: ele com quem de vice? Eu não sou apenas o pai do Caio. Tenho uma história que não posso simplesmente pegar e rasgar. Mas se ele fizer uma dobrada com Wladimir?
 
 
Folha – Se fala isso, que poderia ser a reedição de Garotinho e Arnaldo com os filhos. Você e Garotinho no mesmo palanque?
Arnaldo – Não rola. Coloca o camburão embaixo. O que esse cara fez comigo... Ele disse que sou dono de um shopping em Miami
 
 
Folha – Você continua chamando ele de Anthony Matheus?
Arnaldo – Garotinho ele deixou de ser há muito tempo. Está velho. Garotinho que eu gostava era o da Rádio Globo.
 
 
Folha – Isso demanda dele (Caio) conversar com você e de quem estiver apoiando, é isso?
Arnaldo – Se ele quisesse minha opinião, hoje, ele seria candidato a prefeito com uma mulher como vice.
 
 
Folha – Você tem uma ideia de quem seria?
Arnaldo – Eu não pensei em nome de ninguém. Em determinando momento, eu até pensei que uma dobrada do Caio com a Edilene pudesse dar certo, mas ela não quer saber disso. Não gostaria jamais que fosse ele e a mãe, porque ela eu sei o quanto pesa e já pesou pra mim, me tirou uma vez...
 
 
Folha - Você falou de Caio. Sua última entrevista aqui foi em 2017. Naquele momento ele estava se reunindo com Garotinho, quase que semanalmente no Rio. E você falou, que Caio seria um engodo para pegar você, que a isca era você.
Arnaldo - Não tenho dúvida disso.
 
 
Folha - Isso mudou?
Arnaldo - Garotinho não queria nada com Caio. Garotinho tem uma obsessão. A obsessão dele chama-se Arnaldo. Ele não engole isso. Porque ele não engole nunca quem diz não a ele. E eu disse não a ele algumas vezes.
 
 
Folha – Você, algumas vezes, já desafiou Garotinho a disputar uma eleição com você...
Arnaldo - Seria uma beleza, aí eu sou candidato.
 
 
Folha - E os problemas jurídicos, como estão?
Arnaldo - Graças a Deus, tudo indo às mil maravilhas. Tudo depende muito de equipe. Eu hoje tenho um grupo de pessoas que me ajuda. E a outra coisa que me ajudou muito foi o próprio Tribunal de Contas. Aqueles que um dia me condenaram, foram presos.
 
 
Folha - Mas, o fato de terem sido presos, não muda as decisões.
Arnaldo - É, mas você pode recorrer. E aí você tem que usar pessoas que tem um conhecimento de causa nisso.
 
 
Folha - Que análise você faz dessa metade do governo Rafael?
Arnaldo - Olha, eu já critiquei demais o Rafael. Não escondo. Eu acho que ele tenta no apagar das luzes...
 
 
Folha - Mas estamos pouco mais da metade do governo...
Arnaldo - Sim, pouco mais da metade. Mas até quando ele pode fazer as coisas? Existe uma lei. Daqui a pouco não pode mais contratar obras.
 
 
Folha - Todo mundo concorda que 2019 é o ano, não?
Arnaldo - Dá tempo? Tem fôlego?
 
 
Folha - Você acha que dá?
Arnaldo - Acho que não.
 
 
Folha - Que análise você faz do governo?
Arnaldo - Foi um governo que os adversários gostariam de ter.
 
 
Folha - Por quê?
Arnaldo - Um governo que não faz política. Um governo que não alavanca o crescimento de Campos.
 
 
Folha – Muita gente diz que a eleição vai acabar polarizando entre Wladimir e Rafael. Você acha que a terceira via tem chance?
Arnaldo – Eu acho que tem muita. Acho que se Caio for bem orientado, é o nome da terceira via para ganhar.
 
 
Folha – O desafio a Garotinho continua posto?
Arnaldo – Na hora, no campo e com a arma que ele quiser.
 
 
Folha – Disputar a eleição?
Arnaldo – Claro. Vocês não sabem, mas o melhor amigo que Garotinho teve até hoje foi eu. Se alguém falasse mal dele comigo, eu brigava. Mas eu sofri e sofro até hoje. Não tem retorno. Eu disse uma vez aqui na Folha. Me perguntaram qual a chance de fazer as pazes. Foi, inclusive a resposta que eu dei a Wladimir. E eu falei: nenhuma. Manda ele ir lá no cemitério pedir autorização por escrito e firma reconhecida de dona Amélia França Vianna, minha mãe. Se ele conseguir isso tem chance. No final, ele dizia que eu tinha conta fora do Brasil, shopping em Miami. Depois que ele não conseguiu provar...
 
 
Folha – Falou de Caio também.
Arnaldo – Falou. E depois que provei que Caio não tinha nem idade para ter conta, deixou de ser Caio, deixou de ser eu e passou a ser dona Amélia. Aí quando ofendeu a minha mãe... Ela tinha acabado de falecer.
 
 
 
 

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