Aracy e Elza: ícones da resistência
Celso Cordeiro Filho 12/03/2019 18:33 - Atualizado em 14/03/2019 16:37
Ao dar prosseguimento à proposta de valorizar a cultura popular brasileira e também homenagear duas cantoras marcantes pela passagem do Dia Internacional da Mulher, o professor e pesquisador Marcelo Sampaio apresentará nesta quarta-feira (13), às 19h, no Cineclube Goitacá, os filmes “Aracy de Almeida — In Memorian” (1988) e “Elza Soares, A Rainha do Bebop” (2017). A sessão é aberta ao público e o Cineclube está localizado na sala 507, do edifício Medical Center, na esquina das ruas 13 de Maio e Conselheiro Otaviano.
De saída, Marcelo explica a opção feita para a noite desta quarta: “Escolhi exibir estes dois filmes porque em março é comemorado o Dia Internacional da Mulher e acho muito oportuno apresentar um pouco das histórias de duas grandes mulheres brasileiras. Tanto Aracy de Almeida, já falecida, como Elza Soares, ainda vivíssima, são muito importantes para a música popular brasileira. ‘Aracy de Almeida – In Memorian’ é um especial dirigido pelo Fernando Lobo para a TVE em 1988, ano no qual ela morreu. Durante uma hora e treze minutos, com muitas imagens de arquivo, tornam-se conhecidos fatos relevantes sobre a dama do Encantado e a intérprete de Noel Rosa, compositor de quem foi grande amiga”.
Sobre a figura lendária de Aracy de Almeida, destaca, ainda, que “a leonina desbocada e de famosa ambiguidade sexual, filha única que nunca foi mãe e portanto não deixou nenhum herdeiro, era muito mais do que a ranzinza jurada do Show de Calouros do programa de Silvio Santos no SBT. Ela sempre esteve à frente do seu tempo numa época em que quase não se ouvia falar de movimentos feministas. Conviveu com a malandragem na companhia de amigos, como o campista Wilson Baptista, de quem gravou várias músicas; frequentou a casa do pintor Cândido Portinari; apresentou Vinicius de Moraes a Adoniran Barbosa, intermediando uma parceria entre os dois; ensinou o adolescente Chico Buarque a tocar no violão a música ‘Três apitos’”.
Já o segundo filme que apresentará, “Elza Soares, a Rainha do Bebop”, é um curta-metragem com 22 minutos de duração, idealizado e dirigido por Dimas Oliveira Júnior, em 2017, que tem a atriz Graziella Amaral no papel-título. Integra o “Projeto Memórias: Velhos Nomes, Novos Talentos” realizado pela Oficina de Artes Rosina Pagan. Sobre Elza Soares, Marcelo lembra que foi “considerada pela BBC de Londres a cantora do milênio, cuja voz metálica de ritmo rápido e harmonias complexas se compara ao primeiro estilo de jazz moderno desenvolvido na década de 1940 o que lhe valeu o título de Rainha do Bebop. Casou-se pela primeira vez aos 12 anos, teve seu primeiro filho aos 13 e ficou viúva aos 21. Muito criticada por ter se envolvido com o jogador de futebol Mané Garrincha, que abandonou a mulher para se casar com ela, também era odiada pelos amigos dele por tê-lo tirado da boemia. Num acidente com ele dirigindo bêbado, a sua mãe Rosália faleceu. Depois seu filho morreu e ela teve que sepultá-lo e fazer um show no mesmo dia”.
Por fim, Marcelo assinalou que “em tempos de tanta intolerância chega a ser um ato político cultural reverenciar estas duas mulheres que são acima de tudo ícones de resistência e superação. Aracy de Almeida e Elza Soares, legítimas representantes do melhor do samba, nunca foram tão necessárias como nos dias atuais onde nossas liberdades andam tão ameaçadas”.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS